Desincompatibilização
BRASÍLIA - Hoje [31.mar.2010] e nos próximos dias dezenas de políticos devem deixar seus cargos nos governos federal e estaduais. É a idiossincrasia brasileiríssima batizada pelo nome de desincompatibilização.
Assimétrica e esquizofrênica, a regra permite a permanência na cadeira a quem disputar o mesmo cargo. Assim, um governador interessado em mais um mandato está autorizado a concorrer à reeleição sem deixar a função. Mas um secretário ou ministro interessado em ser deputado precisa renunciar.
O objetivo suposto da lei é ingenuamente evitar que os políticos se aproveitem do cargo para alavancar suas campanhas. O velho hábito de tentar mudar a realidade por meio de uma canetada.
Ou alguém duvida que Dilma Rousseff continuará a ter forte influência sobre o que fará a Casa Civil a partir de amanhã? Ou que José Serra continuará a ter linha direta com seu sucessor no governo de São Paulo? Em certa medida, a desincompatibilização é útil aos políticos: permite a eles usarem o poder de forma dissimulada.
Seria mais simples para a sociedade enxergar abusos se todos ficassem em seus cargos. Haveria transparência nas ações. Até porque, pelo menos, se saberia a origem do salário de cada um. A partir de amanhã, não será possível saber de onde dezenas de ex-secretários estaduais vão extrair seus recursos.
Esse defeito da lei faz parte do rígido calendário eleitoral da jovem democracia brasileira. A partir do Domingo de Páscoa, abre-se uma espécie de limbo de três meses.
Os concorrentes ao Planalto não ocupam mais cargos, zanzam pelo país em jatinhos, gastam fortunas, mas são apresentados como pré-candidatos, e ninguém sabe como suas contas são pagas exatamente.
Tudo bem. Como todos os políticos estão desincompatibilizados, os eleitores podem dormir tranquilos. Ninguém jamais ousará abusar do dinheiro público.
Blog do Fernando Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.