O presidente está na origem da decisão de Serra de empurrar para março de 2010 a entrada no ringue da sucessão.

Vão abaixo os planos desfiados por Serra aos políticos com os quais divide as suas apreensões:

1. Serra acha que, se retirar sua candidatura do armário agora, não ganha nada. Pior: pode perder muito.

2. Enxerga ao redor uma oposição “desarticulada”. Vem daí, segundo ele, a pressão para que assuma a condição de presidenciável.

3. Avalia que, se vestisse as luvas prematuramente, viraria instantaneamente o principal boxeador da oposição.

4. Seria empurrado para um bate-boca com Lula, presidente que bóia em mar de popularidade. Atrairia a antipatia do eleitorado que leva o presidente às nuvens.

5. Interessa a Serra se contrapor a Dilma, não ao chefe dela. Afirma que, no embate direto com a rival, levará a melhor.

6. Para Serra, esse confronto aberto só será travado no instante em que ele deixar o governo e Dilma trocar a Casa Civil pelo palanque.

7. Por isso, decidiu empurrar a definição para o final de março, início de abril, prazo legal para a desincompatibilização de ambos.

8. Serra se diz convencido de que nada de realmente relevante acontecerá antes disso. Até 3 de abril, só espuma.

9. A despeito das reiteradas negativas de Aécio Neves, Serra revela-se convencido de que o rival mineiro aceitará ser o vice dele.
 
10. O argumento de Serra é pueril. Diz que o candidato de Aécio ao governo de Minas, Antonio Anastasia, é um personagem difícil de carregar.

11. Afirma que, com os pés no palanque nacional, Aécio teria mais condições de empinar o nome de Anastasia do que se concorresse ao Senado.

12. Serra soa como se estivesse convencido de que, ainda que se lance ao Senado, como promete fazer no início do ano, Aécio dará meia-volta em abril.

13. Fora do governo de Minas, diz Serra, Aécio se sentiria mais à vontade para protagonizar um gesto pela unidade tucana, incorporando-se à chapa presidencial.

14. Serra sonha alto. Compara a situação de Aécio à de Geddel Vieira Lima, com quem conversou reservadamente faz menos de dez dias.

15. Ministro de Lula, filiado ao PMDB, Geddel é candidato ao governo da Bahia. Desafia o projeto reeleitoral do governador petista Jaques Wagner.


16. Ao discorrer reservadamente sobre o encontro com Geddel, Serra diz ter recolhido da conversa a impressão de que o ministro ainda pode apoiá-lo.

17. Algo que só ocorreria, de novo, no início de abril, quando Geddel deixar a Esplanada.

18. As impressões de Serra contrastam com o que diz Geddel. Em privado, o ministro refere-se à conversa com o governador como algo desimportante.

19. Geddel apressou-se, aliás, em informar a Lula que esteve com Serra. Declara-se de mangas arregaçadas por Dilma.

20. Afirma que só uma aversão do PT à sua candidatura e à tática do duplo palanque, que reivindica para a Bahia, o faria analisar alternativas a Dilma.

21. Embora fuja da raia oficial, Serra é, hoje, mais candidato do que governador. Dedica pedaços generosos de sua agenda à costura política.

22. Traz na cabeça um mapa da eleição. Considera-se bem-posto no Sudeste. Diz que sua relação com Aécio é boa. Não antevê divisões em Minas.

23. Declara-se preocupado com o Rio, seu “maior abacaxi”. Investia na candidatura de Fernando Gabeira (PV), que optou pelo Senado. Não enxerga uma alternativa.

24. Aposta que prevalecerá sobre Dilma nos Estados do Sul. E se esforça para azeitar pelo menos três palanques no Nordeste.


25. Esteve com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Encareceu-lhe que concorra ao governo pernambucano.

26. Jarbas repetiu a Serra o que diz em público: não o anima a idéia disputar o governo. Amarrou o seu calendário ao do interlocutor. Não anunciará nada agora.

27. Antes da conversa com Jarbas, Serra reunira-se em segredo com o grão-tucano Tasso Jereissati (PMDB-CE). Pediu-lhe que dispute o governo do Ceará.


28. Tasso refugou. Mas prometeu a Serra que vai providenciar-lhe um palanque cearense. Cogita fabricar a candidatura de um empresário.

29. Apresentado aos planos de Serra, Garrincha perguntaria: Já combinou com os russos?

30. O PSDB arma a escolha do candidato para janeiro. Aécio jura que não será vice. Geddel é governo. Lula arma o “plebiscito”. Serra perde gordura nas pesquisas. E Dilma ganha musculatura.