"Dilma do Pânico" é aclamada por militantes do PT em SP
Reinaldo Marques/Terra Fantasiado de Dilma, o humorista Carioca, do Pânico, conquistou militância do PT no lançamento da candidatura de Mercadante ao governo de São Paulo. "Dilma, dança o Rebolation", pediu. |
Claudio Leal
"Olé, olé, olé, olá, Dilmaaaaaa, Dilmaaaaaa..."
Dilma, mas não Rousseff. Fantasiado de pré-candidata do PT, o humorista do programa "Pânico", Carioca, acena para a militância - na cartolina branca, a frase: "Dilma, dança o Rebolation".
Bandeiras petistas, câmeras e sorrisos voltados para a falsa Dilma - dentadura irregular, cabelo rígido e blusa vermelha semelhante à escolhida pela ex-ministra da Casa Civil, no lançamento da pré-candidatura de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, neste sábado.
"Olé, olé, olé, olá, Dilmaaaaaa, Dilmaaaaaa..."
Na Quadra dos Bancários, o apresentador surfa na popularidade:
- Uma salva de palmas para os amigos do "Pânico" e do CQC!
E referências amargas à imprensa, hum, essa golpista:
- Companheiros, a imprensa tucana, como é a maioria, disse que a massa esteve presente no lançamento do candidato do PSDB (em Brasília)! Mas falou que a massa de lá era cheirosa... Eles acham que o povo brasileiro cheira a quê? Aqui tem cheiro de povo!
Estratégia feminina: os oradores se referem a Dilma como "presidenta", assim à Michelle Bachelet. Apresentado pela primeira vez no encontro nacional do PT, o jingle "Seguir em frente" se encarrega de outras evocações de gênero - e mais Lula.
"Pra seguir em frente, eu faço feito Lula
Eu tô com ela...
Tem o jeito dele, mas é diferente,
Porque é mulher...
Vem, Dilma, vem...
Mostrar o que você aprendeu com esse cara valente"
Eu tô com ela...
Tem o jeito dele, mas é diferente,
Porque é mulher...
Vem, Dilma, vem...
Mostrar o que você aprendeu com esse cara valente"
No fundo do palco, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Na fileira dos cardeais petistas, os deputados federais Cândido Vaccarezza e José Eduardo Cardozo, o vice-presidente do PT, Rui Falcão, o senador Eduardo Suplicy, o prefeito de Osasco Emídio de Souza. Certa frustração com a ausência do presidente Lula, que alegou "razões pessoais" e enviou uma carta ao companheiro, lida por Vaccarezza.
Sentados à frente, Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e Dilma Rousseff. Iniciada a festa, Zé Dirceu atravessa o proscênio, à procura de um lugar.
Agora se vê Eduardo Suplicy, num discurso oscilante, prometer engajamento, de "forma harmônica e respeitosa", na campanha da ex-mulher Marta. Olhares cambiados, e o complemento familiar:
- ...Respeitosa do ponto de vista dos nossos filhos queridos...
(Em tempo, dois pontos. Luiz Favre, também ex-marido de Marta, saiu mais cedo da Quadra dos Bancários).
Mas Suplicy prossegue e persiste. Pede a Mercadante para lutar pela renda básica da cidadania, comparando-a à abolição da escravatura e ao sufrágio universal. Ao fim, ele vai beijar Marta. Dezenas de "fiutfius" na plateia.
(Sem a licença de Tom Jobim e Chico Buarque: é desconcertante rever o grande amor).
No parlatório, a pré-candidata do PT ao Senado, Marta Suplicy:
- Quando eu estou com a militância, dá uma coisa...
O discurso entra nos trilhos:
- (Mercadante) Vai transformar São Paulo da locomotiva para o trem-bala do Brasil!
Voltada para Dilma, evoca os ataques à sua feminilidade política:
- Vão encontrar pêlo em ovo... Só não ousaram dizer que era mulher! Eu tenho experiência, vão tentar desqualificar nessa linha! (...) Eu vejo meu arco-íris...(uma bandeira do movimento GLBT é agitada) Não vem porque não tem: vamos colocar a primeira mulher na Presidência da República!
Marta relata que, anos atrás, Lula lhe revelou: "A sucessora é uma mulher".
- Aí eu pensei: vai ser Dilma, Marina (Silva) ou eu.
Deu Dilma, que lê o discurso num ponto eletrônico, dividindo-se entre o texto e a militância. Alveja os 27 anos de gestões tucanas em São Paulo e se vincula, outra vez, ao Rodoanel, à expansão do metrô e a obras de saneamento em Paraisópolis e Heliópolis.
- Educação de qualidade só acontece quando os professores são bem pagos!
(Estocada no ex-governador José Serra, alvo de movimento grevista dos professores).
No pós-Dilma, o cantor e vereador Agnaldo Timóteo (PR), vaiado na abertura do evento, sai timoteanamente do palco. Uma eleitora o cumprimenta:
- Agnaldo, que bom te ver no PT!
Trajado de branco, ele corrige:
- Não sou do PT. Sou filiado ao partido de Lula e companhia.
Ao repórter, justifica o apoio à petista:
- A senhora Dilma não é só candidata do PT. Ela representa a continuidade do governo Lula. Por preconceito, eu não votei nele em 2002. Mas precisamos reconhecer: Lula tem feito uma grande administração, porra!
No discurso de Aloizio Mercadante, as atenções estão mais dispersas, mas ele insiste em pontos de governo. Emociona-se ao falar dos filhos e eleva um grito, do qual sobreviveu apenas uma saudação ao PT.
Enquanto os militantes querem a repórter Sabrina Sato, do "Pânico", os jornalistas caçam Dilma. Ciro Gomes. Ciro, Ciro, Ciro. Dilma não vai falar com a imprensa. Ciro, Ciro, Ciro. Poucos rebatem os ataques do presidenciável do PSB à candidata petista. O deputado Cândido Vaccarezza é rendido pela ciromania:
- Ele fala bastante, a cada hora é uma... Sempre vamos tratar Ciro como aliado.
A salvo da artilharia, José Eduardo Cardozo sorri ao ser informado sobre os elogios do ex-governador cearense, numa entrevista ao SBT.
- Ciro é um amigo, um dos grandes quadros da política brasileira. Tenho imenso respeito por ele, mas discordo de algumas declarações. Gostaria que permanecesse ao nosso lado, porque tem muito a contribuir.
Ali perto do torvelinho cirista, a militante Malu do PT passa uma rifa de 300 contos, três reais cada quadrinho. Alguns correm, outros assinam.
- Tô rifando uma bandeira de Che Guevara, que trouxe de Cuba, porque estou dura. Não quer participar, não?
Terra Magazine
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