Ligações perigosas entre PP e PSDB
Coisas da Política |
Cristian Klein |
Jornal do Brasil - 23/04/2010 |
Uma das leis não escritas da política brasileira é que, haja o que houver, qualquer que seja o candidato ou sigla vencedora das eleições presidenciais, o PMDB estará sempre no governo. É o maior partido do país e tem a maior bancada do Congresso Nacional. Sem ele, a governabilidade fica difícil e o Executivo pena para aprovar seus projetos no Legislativo. Sabendo disso, a legenda, nestas eleições, dá-se ao luxo de embarcar em peso na candidatura Dilma Rousseff, indicando o seu vice, Michel Temer. Caso as coisas não funcionem como planejado, e der Serra, haverá uma nova revoada para o governo de plantão, como aconteceu na atual administração. A nau do governo Lula partiu em 2003 sem, e termina a viagem com um monte de peemedebistas a bordo. Essa facilidade de migração do lado perdedor para o vencedor não é um privilégio do PMDB. Mas outros partidos devem ter muito mais cuidado na hora de prever para onde os ventos vão soprar. É o caso do PP. Partido da base governista, ele agora é alvo de especulações que dão conta da possibilidade de seu presidente, o senador Francisco Dornelles, vir a ser o vice na chapa da oposição. A ida do PP para o colo de José Serra seria uma surpresa no roteiro destas eleições. As pesquisas apontam para uma disputa acirrada. Mas mudar de posição a esta altura do campeonato vai ficando cada vez mais difícil, dado que os partidos já articulam há algum tempo os palanques estaduais. E o PP vinha fechado com Dilma. Como política é a arte da dissimulação, nunca se sabe. Dornelles nega as negociações, e o partido tenta aumentar, com isso, seu cacife. A decisão final, porém, é delicada, arriscada. O PP não é o PMDB. Seu tamanho é bem menor. E, apesar da baixa volatilidade, ou seja, da pouca variação no tamanho das bancadas dos partidos no Congresso entre uma eleição e outra, há sempre um elemento de incerteza. A sigla pode conquistar menos do que as 40 cadeiras que tem. Por isso, caso debande agora para a oposição, a traição pode lhe custar caro se Dilma Rousseff vencer. A revoada de volta, ou ao menos nas mesmas condições que o partido desfruta hoje no governo, dono do Ministério das Cidades, não é tão garantida. Coincidência ou não, a aproximação entre Dornelles e a oposição ficou mais patente recentemente, durante a reação do senador do Rio no episódio dos royalties e da Emenda Ibsen. Ao defender os interesses do estado, prejudicado na polêmica nova distribuição dos recursos do petróleo do pré-sal, Dornelles, habilmente, fez retroceder tudo a uma questão de princípios, conceitual. Como discutir a distribuição, antes da aprovação da mudança do modelo de exploração? O senador reacendeu assim uma bandeira da oposição, que defende a permanência do modelo de concessão, sob o argumento de que ele já vem dando certo, em vez da adoção do regime de partilha, mais estatizante, proposto pelo governo. O episódio, obviamente, não é suficiente para explicar o namoro entre Dornelles, o PP e a oposição. Ainda que a mudança repentina de lado possa ser lida como o velho vício do oportunismo e do governismo a todo custo, a relação tem seu quê de coerência. Historicamente, o senador e seu partido têm muito mais a ver com o campo oposicionista do que com o governista. A aliança entre o PT, de esquerda, e o PP, de direita, é que, ideologicamente, pode se considerar mais heterodoxa. Mas como as coalizões não são feitas apenas em termos de ideologia, mas também de cargos e da busca pela governabilidade e o PP apoiou toda a era Lula será uma jogada surpreendente uma chapa PSDB-PP. Os tucanos teriam muito a comemorar com a aliança: ganhariam mais tempo de TV, dariam uma demonstração de força da candidatura Serra, cooptando um aliado petista, e resolveriam o problema do vice, já que Aécio Neves não quer, o DEM está queimado depois do mensalão de Arruda e nomes do PPS não empolgam. Além do mais, Dornelles vem a ser primo de Aécio, em mais um ponto de identidade com o tucanato. Mas o PP vai assumir o risco da derrota? |
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