Ciro: ‘Eleição também significa a possibilidade de perder’
Temer: ‘Não dá voto, mas proporciona a governabilidade’
Minas: ‘Se PT precipitar decisões, vai ao beco sem saída’
São Paulo: PT tem 30%, precisa arrumar os outros 20%’
Transferência: ‘Engraçadíssimo, Aécio transfere, eu não’
Campanha: ‘Eu não vou ficar esperando a banda passar’ 
Sérgio Lima/Folha

Um dia depois de José Serra ter defendido mandato de cinco anos e o fim da reeleição, Lula revelou: “Vieram me propor que, se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos, [...] a gente aprovaria...”.

“Eu falei para meu companheiro interlocutor: ‘Olha, eu era contra a reeleição, agora eu quero que tenha a reeleição’." Lula não quis dizer se o interlocutor foi Serra. Insinuou ter percebido que a proposta escondia uma manobra: “Era a tese do ex-presidente [FHC], para convencer o Aécio a ser vice. Então, em política não vale ingenuidade”.

Lula concedeu entrevista a uma trinca de repórteres: Denise Rothenburg, Josemar Gimenez e Silvia Bessag. A íntegra está disponível aqui. Abaixo os principais trechos:


- Relação PT-PMDB em Minas: As coisas em Minas Gerais tinham tudo para acontecer normalmente, sem nenhum trauma, sentar PT e PMDB e tentar conversar. Tínhamos e temos chance de ganhar na medida em que o Aécio não é candidato e ninguém pode conseguir transferir 100% dos votos. Tudo isso estava na minha conta. De repente, o PT resolve fazer uma guerra interna sem nenhuma necessidade. [...] Acho que nossos companheiros, Patrus e Pimentel, vão ter que fazer um esforço incomensurável para fazer uma chapa lá. Sinceramente, não acho que a prévia resolva. [...] Se o PT precipitar suas decisões, vai ficando cada vez mais num beco sem saída

- Ciro Gomes: Na última conversa que tive com o presidente do PSB nos colocamos de acordo que deveríamos esperar passar o mês de março para que a gente voltasse a conversar. Estamos em abril. [...] Pretendo conversar com Ciro na medida em que a direção do PSB entenda que já é momento de conversar. Achei interessante quando transferiu o título para São Paulo porque era uma probabilidade. [...] Disse para o Ciro que jamais pediria para uma pessoa ou partido não ter candidato a presidente da República se não tiver um argumento sólido para convencer as pessoas. Ser candidato significa a possibilidade de fortalecer os partidos, mas também significa a possibilidade de você perder uma eleição. [...] A tendência que está acontecendo até agora é a de que caminhamos para uma eleição plebiscitária.

- Ciro Gomes 2: [...] Às vezes, você vai enxergar o erro depois que passou as eleições. [...] O momento político agora me diz que as eleições serão plebiscitárias, que dificilmente haverá espaço para uma terceira candidatura. Agora, tem gente que não acredita. A Marina Silva é candidata porque acredita que pode ganhar. O Ciro Gomes pode querer ser candidato e o PSB entender que deva ser. Agora, para ser candidato é preciso saber qual a composição que você vai fazer, qual o tempo de TV, com quem estará aliado regionalmente. Na hora que o time entra em campo, você precisa ter jogador. Eleição é difícil. No Brasil, é complicado.


- PT X PSDB em São Paulo: O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% dos votos em São Paulo. Precisamos arrumar os outros 20%. Eu disse a Mercadante: É preciso que você arrume o teu José Alencar. Porque o José Alencar para mim teve uma importância que não é a da quantidade de votos que ele trouxe só. É a da quantidade de preconceito que ele quebrou. [...] O PT de São Paulo precisa arrumar esse José Alencar. Temos que arrumar um vice que não seja mais à esquerda que o PT, uma pessoa que fale para um segmento da sociedade.

- Michel Temer: A Dilma tem cartão de crédito de oito anos de administração bem-sucedida no Brasil, da qual ela foi uma gerente excepcional. [...] O vice não dá voto. Agora, o Temer eu acho que dará a segurança de um homem que se dedica a vida pública já há muito tempo e tem uma seriedade comprovada dentro do Congresso Nacional. Hoje está mais fortalecido dentro do PMDB e nós trabalhando olhando também o pós-eleição. [...] Então, acho que o Temer, se for ele o indicado pelo PMDB, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade no país.


- Serra e o fim da reeleição: Em política não vale você ficar falando para inglês ver. [...] É importante ter em conta que eles reduziram o mandato de cinco para quatro anos pensando que eu ia ganhar as eleições, em 1994. Aí eles ganharam, e, em 96, aprovaram a reeleição. Aí, para tentarem convencer o Aécio a ser o vice, vieram até me propor que, se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos, sabe, seria o máximo, a gente aprovaria. Eu virei para meu companheiro interlocutor, falei: ‘Olha, eu era contra a reeleição, agora eu quero que tenha a reeleição, mesmo se você ganhar, porque em quatro anos você não consegue fazer nenhuma obra estruturante nesse país, nenhuma’.

- A data da conversa? Faz algum tempo, já.

- Quem era o interlocutori? Não, porque era a tese do ex-presidente [FHC] para convencer o Aécio a ser vice. Então, em política não vale ingenuidade. Ou seja, ninguém vai acreditar que o mesmo partido que criou a reeleição, venha agora querer acabar com a reeleição. [...] Ninguém está pedindo isso. Só o Aécio está pedindo.


- Acha que Aécio será vice de Serra? Não. Acho que o Aécio está qualificado politicamente para ser o que ele quiser ser. Agora, se ele for vice, vai se desgastar muito porque é só pegar o que o Estado de Minas escreveu das divergências de Aécio com Serra. [...] O Aécio vai colocar muita dúvida na cabeça do povo mineiro.


- O PT vai monitorar Dilma? Não existe nenhuma hipótese. [...] Eu vou poder ajudar muito mais a Dilma dentro do PT não sendo presidente da República do que sendo presidente da República. Eu, fora da Presidência, estarei mais nos eventos do PT, estarei participando mais das coisas do PT.


- Transferência de votos: É engraçado, porque as pessoas que acham que eu não vou transferir voto para a Dilma acham que o Aécio vai transferir para o Serra. É engraçadíssimo porque as pessoas olham o seu umbigo e dizem ‘o meu é o mais bonito de que todos’. [...] O que me dá uma segurança é que o mesmo povo que me dá o voto de confiança há sete anos vou pedir para dar um voto de confiança para Dilma.

- Campanha: Eu vou fazer campanha. Não pensem que vou ficar parado vendo a banda passar. Eu quero estar junto da banda, até porque acho que a campanha da Dilma é parte do meu programa de governo para dar continuidade às coisas que nós precisamos fazer no Brasil.

- Taxa de desconhecimento de Dilma nos grotões: Há tempo suficiente [para torná-la conhecida]. É lá que eu vou chegar. Lá eu não vou nem chegar, lá eles são Lula. Lá eu estou representado, lá eles são eu. Eu quero ir é nos lugares onde estou...
- Prevê vitória no primeiro turno? Não acho nem que sim, nem que não. Vamos trabalhar para ter o máximo. [...] A única coisa que não quero é que tenha terceiro turno. E que quem perca, exerça a democracia acatando o resultado eleitoral. E não tente dar golpe, como tentaram me dar em 2005.

- Volta em 2014? [...] Quando o político é canalha, ele não quer eleger o seu sucessor. O velhaco quer voltar. Indica alguém que não pode ser candidato em 2014 e alguém que ele sabe que é fraco. Eu não. Estou indicando o que tenho de melhor. Para ganhar. E , se ganhar, ter o direito de governar mais quatro anos.