Dois na gangorra
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/04/10
Os discursos de despedida de Dilma Rousseff e José Serra, respectivamente dos cargos de ministra da Casa Civil da Presidência da República e do governado de São Paulo, desmentem a versão de que ambos são praticamente iguais. Pois nas cerimônias de adeus aos cargos duas pessoas absolutamente diferentes se apresentaram ao público. A começar pela escolha dos sujeitos das cerimônias.
Dilma mais uma vez preferiu exaltar a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, celebrar os feitos do governo do qual fez parte até anteontem e ao qual aspira dar continuidade. Dilma Rousseff não fala de si, a não ser de forma genérica, quando informa ter sido preparada "para coisas mais duras do que disputar uma eleição". Emociona-se, mas a referência é sempre Lula, não abre o coração, não se dá a conhecer, como se nada a seu respeito houvesse para ser revelado além da já conhecida fidelidade ao presidente da República.
Reafirmou sua luta contra a ditadura, relatou as lições aprendidas com Lula, a ser otimista, a vencer a pobreza, a ter coragem, a resistir, a não ser submisso, a ser digno, não ser conformista. Mas, sobre Dilma mesmo, além da "competência extraordinária", a única frase foi Lula quem disse: "Dilma é o que ela é".
Terá tempo ao longo da campanha para dizer o que é.
Mas o adversário, José Serra, aproveitou o momento inicial para expor não um programa de governo, mas um rol de valores pessoais Para quê? Marcar a diferença e se dar a conhecer no detalhe. Falou a respeito de coisas que há muito não se fala: valorização de caráter, condenação de malfeitorias, coerência, índole, brio, solidariedade, austeridade nos gastos, sensibilidade, mérito e aproveitou para discorrer sobre alguns aspectos de sua personalidade que ao longo de sua carreira formaram uma imagem sem sempre positiva.
"Sou sério, não sisudo; realista, não pessimista; monitor, não centralizador", e por aí foi. É como ele se vê, não necessariamente como eleitor o vê. Mas pelo menos são conceitos, aqui bastante resumidos, que podem ser examinados, discutidos, checados, confrontados, aceitos ou não.
No segundo momento, quando do lançamento da candidatura, em 10 de abril, será apresentado o esboço sobre o programa de governo e aí as ideias para novo escrutínio da população.
Dilma poderá continuar sustentando seu discurso apenas na repetição do orgulho de ser aprendiz do mestre Luiz Inácio? Não terá que em algum momento de se apresentar como algo mais que fiel seguidora?
E não se trata de currículo, mas de pensamento a respeito da vida e de suas circunstâncias. Por exemplo, daqueles valores como índole, solidariedade, brio, austeridade. Ou defendê-los é crime de lesa-PT, como já foi coisa da direita defender a estabilidade da moeda?
Os discursos de despedida de Dilma Rousseff e José Serra, respectivamente dos cargos de ministra da Casa Civil da Presidência da República e do governado de São Paulo, desmentem a versão de que ambos são praticamente iguais. Pois nas cerimônias de adeus aos cargos duas pessoas absolutamente diferentes se apresentaram ao público. A começar pela escolha dos sujeitos das cerimônias.
Dilma mais uma vez preferiu exaltar a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, celebrar os feitos do governo do qual fez parte até anteontem e ao qual aspira dar continuidade. Dilma Rousseff não fala de si, a não ser de forma genérica, quando informa ter sido preparada "para coisas mais duras do que disputar uma eleição". Emociona-se, mas a referência é sempre Lula, não abre o coração, não se dá a conhecer, como se nada a seu respeito houvesse para ser revelado além da já conhecida fidelidade ao presidente da República.
Reafirmou sua luta contra a ditadura, relatou as lições aprendidas com Lula, a ser otimista, a vencer a pobreza, a ter coragem, a resistir, a não ser submisso, a ser digno, não ser conformista. Mas, sobre Dilma mesmo, além da "competência extraordinária", a única frase foi Lula quem disse: "Dilma é o que ela é".
Terá tempo ao longo da campanha para dizer o que é.
Mas o adversário, José Serra, aproveitou o momento inicial para expor não um programa de governo, mas um rol de valores pessoais Para quê? Marcar a diferença e se dar a conhecer no detalhe. Falou a respeito de coisas que há muito não se fala: valorização de caráter, condenação de malfeitorias, coerência, índole, brio, solidariedade, austeridade nos gastos, sensibilidade, mérito e aproveitou para discorrer sobre alguns aspectos de sua personalidade que ao longo de sua carreira formaram uma imagem sem sempre positiva.
"Sou sério, não sisudo; realista, não pessimista; monitor, não centralizador", e por aí foi. É como ele se vê, não necessariamente como eleitor o vê. Mas pelo menos são conceitos, aqui bastante resumidos, que podem ser examinados, discutidos, checados, confrontados, aceitos ou não.
No segundo momento, quando do lançamento da candidatura, em 10 de abril, será apresentado o esboço sobre o programa de governo e aí as ideias para novo escrutínio da população.
Dilma poderá continuar sustentando seu discurso apenas na repetição do orgulho de ser aprendiz do mestre Luiz Inácio? Não terá que em algum momento de se apresentar como algo mais que fiel seguidora?
E não se trata de currículo, mas de pensamento a respeito da vida e de suas circunstâncias. Por exemplo, daqueles valores como índole, solidariedade, brio, austeridade. Ou defendê-los é crime de lesa-PT, como já foi coisa da direita defender a estabilidade da moeda?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.