Disparada de Dilma atesta o êxito dos planos de Lula
Ricardo Stuckert/PR
Conforme já noticiado aqui, a estratégia de campanha de José Serra deu 100% errado. Na outra ponta, os planos de Lula revelaram-se corretos nos detalhes. Materializado em todas as pesquisas, o êxito de Lula é tonificado nas dobras da última sondagem do Datafolha, divulgada neste sábado (21).
Decorridos escassos três dias de propaganda eleitoral, Dilma Rousseff se descolou de Serra. Ela foi a 47%. Ele ostenta 30%. A diferença saltou de oito para 17 pontos. Contabilizados apenas os votos válidos, a pupila de Lula vai a 54%. Significa dizer que, se a eleição fosse hoje, Dilma liquidaria a fatura no primeiro turno.
Movido a intuição, Lula assentara sua tática eleitoral em oito estacas. Por ora, permanecem todas em pé. Vai abaixo um inventário do sucesso:
1. A antecipação: No Brasil, são três as evidências que permitem a um presidente detectar a chegada da síndrome do fim do mandato. Súbito, começa a beber cafezinho frio. Os aliados ensaiam o desembarque. E irrompe à sua volta um irrefreável burburinho acerca da sucessão presidencial.
Sob Lula, tudo aconteceu às avessas. Aquecido pelos índices de popularidade, o cafezinho queimava-lhe a língua. Legendas como o PMDB o bajulavam. A sucessão? Foi antecipada em dois anos pelo próprio presidente. Levou Dilma à vitrine em 2008.
2. O bloqueio: Ao impor Dilma ao PT, Lula interditou um debate interno que levaria sua legenda à disputa fratricida. Cristã nova no petismo, a ex-pedetê Dilma não era a preferida de ninguém. O próprio Lula cogitara outros nomes.
Antonio Palocci, o primeiro da fila, fora apeado do pedestal pelo caseiro Francenildo. Antes dele, a alternativa José Dirceu perdera-se nos desvãos do mensalão. Num instante em que petistas como Patrus ‘Bolsa Família’ Ananias e Tarso ‘Justiça’ Genro esboçavam os primeiros movimentos no tabuleiro, Lula deu-lhes o xeque-mate.
No início de 2008, o jogo no PT estava jogado. Dilma foi às pesquisas com um percentuais mixurucas –2% a 3%. Em maio daquele ano, roçava os 10%. No final do ano, FHC dizia, em privado, que a presença de Dilma no segundo turno de 2010 era fava contada. Previa que ela não teria menos do que 30% dos votos.
3. Ciro Gomes: Lula decidira que seu governo seria representado na campanha por um único nome. Nos subterrâneos, pôs-se a tramar contra Ciro Gomes. Empurrou-o para a a disputa paulista. Ao perceber que Ciro resistia à idéia a despeito de ter transferido seu domicílio eleitoral para São Paulo, Lula sufocou-o.
Por baixo, tirou dele todas as perspectivas de alianças com legendas governistas. Pelo alto, acertou-se com o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente do PSB. Minado por sua própria legenda, Ciro ruiu como candidato de si mesmo.
4. O plebiscito: Lula pressentira que 2010 repetiria um embate que, desde 1994, submete as disputas presidencias brasileiras a um bipartidarismo de fato. De um lado, o PT. Do outro, o PSDB. Guiando-se pelas pesquisas que atestatam a impopularidade da era tucana, Lula decidiu levar FHC à roda. “Seremos nós contra eles”, decretou.
Num jantar realizado no Alvorada em dezembro de 2009, Ciro dissera a Lula que sua estratégia estava errada. Arriscava-se a converter Dilma em candidata mais cotada para fazer de Serra o próximo presidente da República. Lula deu de ombros. Dizia, já nessa época, que a eleição seria definida num turno. A seu favor.
5. A megacoligação: No início de 2010, enquanto o tucanato se consumia em dúvidas –José Serra ou Aécio Neves?— Lula cuidava de reproduzir ao redor de Dilma o consórcio partidário que lhe dá suporte no Congresso. Mirava o tempo de TV. Dizia que Dilma, por desconhecida, precisava de uma vitrine televisiva ampla.
Simultaneamente, num movimento iniciado em 2008, Lula exibia sua escolhida em pa©mícios. Arrancava-a do gabinete, batizava-a de “mãe do PAC”. Dava musculatura política a uma técnica jamais submetida ao teste das urnas. Manuseando o prestígio pessoal e afrontando a lei eleitoral, acomodou ao lado de Dilma uma megacoligação de 11 legendas.
6. O PMDB: Na costura da aliança, Lula deu prioridade ao PMDB. Ordenou ao PT que reduzisse a ambição de eleger muitos governadores. Deixou claro que o palanque nacional se sobrepunha aos estaduais.
Enquanto Serra adiava sua candidatura, retardando a formação dos palanques regionais da oposição, Lula empurrava o PMDB goela abaixo do PT. No último lance, impôs, em Minas, o pemedebê Hélio Costa aos petês Fernando Pimentel e Patrus Ananias.
7. O vice: Lula demorou a digerir Michel Temer. Informado de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, alimentava pretensões políticas, desaconselhou a filiação dele ao PP de Goiás. Mostrou a Meirelles a porta do PMDB. Tramara fazer dele o vice de Dilma. Em movimento simultâneo, Temer costurou algo que parecia impossível.
Temer uniu o PMDB da Câmara, que traz no embornal, ao PMDB do Senado, comandado por José Sarney e Renan Calheiros. Virou pólo de concórdia de uma legenda tisnada pela discórdia. Depois, Temer puxou suas fichas. Pragmático, Lula intuiu que não valia a pena pagar pra ver. Em troca da flexibilização da traquéia entregou a Dilma um PMDB unido como nunca antes na história desse país.
8. A despedida: No estágio atual da campanha, Lula dá o último ponto no tricô que deu um nó na cabeça da oposição. Converte a emoção da despedida do presidente superpopular em arma eleitoral. Já verteu lágrimas num ato de 1º de Maio, num comício em Curitiba e numa entrevista de televisão. Virou o paizão que transfere o povo aos cuidados da grande “mãe”. Uma ex-poste que ameaça converter José Serra no mais preparado ex-futuro presidente que o Brasil já teve.
Escrito por Josias de Souza
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