PSDB aposta nos candidatos estaduais

Cúpula do PSDB faz pressão para alterar marketing de Serra 

MARCELA ROCHA

Integrantes da cúpula do PSDB reclamam da falta de coordenação política da campanha presidencial e defendem que é preciso recuperar com urgência o eleitor classe média das grandes capitais. Este grupo social era tido como eleitor cativo do candidato ao Planalto José Serra. No entanto, segundo apontam as últimas pesquisas de intenção de votos, está migrando para a adversária do PT, Dilma Rousseff. Estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais são, agora mais do que antes, alvos de esforço emergencial do candidato do PSDB.

Até o resultado das últimas pesquisas apontar o crescimento de Dilma sobre esse eleitorado, os tucanos avaliavam que seria possível deixar para intensificar a campanha em São Paulo mais adiante. No entanto, ante a nova conjuntura apresentada pelos levantamentos, o partido olha com preocupação a perda de espaço na região. Pretendem, o quanto antes, turbinar a agenda do tucano e já contam com programas elaborados pelo diretório estadual.

Correligionários e aliados que antes reclamavam da falta de abertura de diálogo com candidato e o seu marqueteiro, admitem agora que ambos estão mais dispostos a reavaliar a estratégia estabelecida antes do início da campanha, o que deve ser feito ainda nesta semana.

Com 30,3 milhões de votantes, São Paulo tem o maior eleitorado do Brasil. Neste, que é considerado o principal reduto eleitoral do PSDB, Dilma aparece com 41% e Serra com 36% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha divulgada no final da semana passada. No levantamento anterior, do dia 21 de agosto, ela tinha 34% e ele, 41%.

Dilma também ultrapassou Serra no Rio Grande do Sul e no Paraná. No levantamento feito com os gaúchos ela pulou de 35% para 43%, enquanto o tucano caiu de 43% para 39%. No paranaense, ela saiu de 34% para 43%, e Serra caiu de 41% para 34%.

Embora afirmem que é preciso evitar uma campanha errática, a ânsia por medidas emergenciais e reavaliação do rumo político é consenso no ninho tucano. Já se passaram duas semanas de propaganda no horário eleitoral gratuito e o resultado não só ficou aquém do esperado pelo PSDB, mas surpreendeu aqueles que contavam com o crescimento de Serra quando feita a comparação com sua adversária do PT. Os tucanos apostavam no embate entre os currículos.

Responsável pelo marketing da campanha, o jornalista Luiz Gonzalez defende que Serra deve manter o discurso voltado às camadas mais populares. O tucano tem tentado aproximar as grandes áreas do governo, como Saúde, Educação e Segurança, aos problemas do cotidiano das pessoas. O tratamento de varizes, a oferta de cursos técnicos e o fichamento nacional de bandidos aparecem como a tradução das propostas políticas da candidatura para o País. A estratégia tem sido questionada por integrantes da coligação. Segundo um membro da coordenação da campanha, a tentativa de aproximar a linguagem da propaganda à população de baixa renda fez Serra perder identidade com setores que já eram garantidos, e não resultou na conquista de outros.

Ainda segundo o Datafolha, 41% dos eleitores acreditam que Serra defenderá mais os ricos, enquanto apenas 17% fazem essa avaliação de Dilma. O levantamento também mostra não mais de 20% dos entrevistados crentes de que ele governará mais para a população de baixa renda, contra 45% que atribuem essa característica à petista, caso eleita.

Alento
O que tem consolado os tucanos é o fato de a queda de Serra nas pesquisas não ter afetado os candidatos a governador nos Estados. Antonio Anastasia, candidato à reeleição mineira, disparou nas pesquisas; Geraldo Alckmin, que disputa o Palácio dos Bandeirantes, mantém a dianteira; Marconi Perillo, de Goiás, também é o favorito, e o paranaense Beto Richa segue liderando em seu Estado.

O desempenho dos candidatos aos governos estaduais faz com que os tucanos diagnostiquem problemas apenas na candidatura Serra. E deixa a esperança de que a "contaminação" possa ocorrer no sentido contrário - que os populares candidatos estaduais terminem por trazer mais votos para a candidatura presidencial.