"Busca incessante dos holofotes" marca política externa do Brasil, diz Ricupero
Rafael Spuldar
Do UOL Notícias
Em São Paulo
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Os esforços do governo brasileiro em mediar o conflito entre Israel e os palestinos, além da sua aproximação com o Irã, são exemplos de uma política externa marcada pela "busca incessante dos holofotes", afirma o diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero. Em entrevista exclusiva ao UOL Notícias, ele também lamentou a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba no momento em que o dissidente Orlando Zapata morreu, após dois meses e meio de greve de fome, e criticou o silêncio do Brasil às violações aos direitos humanos na Venezuela.
Na opinião de Ricupero, a iniciativa do Brasil de tentar se tornar um ator nas negociações entre israelenses e palestinos é louvável, mas pouco realista, pela falta de poder de barganha e de pressão do governo. "Em diplomacia, bons ofícios não se oferecem: é alguma coisa que se aceita quando as partes pedem", diz o ex-ministro. "É a mesma coisa que se diz, 'em briga de marido e mulher, quem tem juízo não se mete', e em brigas como essa, você só pode entrar se tiver realmente alguma coisa", afirma. O diplomata acredita que a intenção do governo brasileiro tem um viés mais doméstico, sem pretensões de atingir resultados concretos.
Ricupero vê a mesma lógica de "protagonismo" da política externa do governo brasileiro na recente aproximação com o governo iraniano, na qual ele não vê nenhuma vantagem. O ex-ministro acredita que esta relação só prejudica o Brasil, por demonstrar uma posição "errática" e "incoerente" do País, que condenou o golpe de Estado em Honduras, mas que, segundo ele, se cala quanto às violações dos direitos humanos pelo regime de Teerã, o qual classifica de "ditadura teocrática". Na opinião de Ricupero, a relação com o Irã deve dificultar a candidatura do Brasil a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
O ex-ministro também critica a postura do governo brasileiro quanto a Cuba, além de lamentar a declaração do presidente Lula, que fez uma analogia da situação dos dissidentes cubanos com uma eventual greve de fome dos detentos de São Paulo. A declaração foi "despropositada e absurda", na opinião de Ricupero. "Eu tenho pena, porque acho que o presidente Lula havia atingido um nível importante de reconhecimento e admiração internacional, que ele está dilapidando por declarações e gestos irrefletidos", afirma.
Quanto à relação com o governo da Venezuela, o diplomata vê um lado positivo em termos de comércio exterior, mas acredita que é papel do Brasil denunciar casos como violações à liberdade de imprensa por parte do regime de Hugo Chávez. "Se os direitos humanos são tão importantes para nós, como que nós estamos nos abstendo?", afirma Ricupero, relembrando o fato do governo do Brasil ter lançado o projeto do Programa Nacional de Direitos Humanos.
Ricupero lançou na última terça-feira (16) seu livro Diário de Bordo – A Viagem Presidencial de Tancredo Neves, no qual relata o giro internacional feito em 1985 pelo então presidente eleito, do qual era assessor para assuntos internacionais.
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