BrasilO último a saberCiro Gomes diz ter "99,47%" de chance de ser candidato. |
Fotos Andre Dusek/AE; Paulo Liebert/AE |
LULA E O DILEMA O presidente já acertou com o PSB que Ciro Gomes não disputará a Presidência da República: a queda livre nas intenções de voto será usada para convencê-lo a sair de cena sem traumas |
O deputado federal Ciro Gomes é um político transparente, que não costuma esconder de ninguém suas convicções. Ciro já acreditou que poderia ser o candidato do presidente Lula nas eleições de outubro – e anunciou isso em alto e bom som. Depois, convencido pelo presidente de que talvez fosse melhor disputar o governo de São Paulo, topou o papel de títere e transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para a capital paulista. Agora, Ciro se diz novamente convencido de que será candidato à Presidência, mesmo sem o apoio do PT. "Tenho 99,47% de chance de ser candidato", diz. "Só quem pode me tirar da disputa é o PSB, que é o meu partido, e mamãe." Dona Maria José não faria uma maldade dessas. Já o PSB... Ciro ainda não sabe, mas, ao contrário do que imagina, há, sim, uma probabilidade realmente quase absoluta, mas de ele não ser candidato a nada. Avalizado pelo governo, o partido já decidiu que não dará a legenda ao deputado – discute tão somente a hora apropriada e a melhor maneira de lhe dar a notícia.
A candidatura Ciro Gomes foi uma experiência oficial que tinha tudo para dar errado. Na semana passada, o presidente Lula e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que preside o PSB, se reuniram para sepultá-la de vez. O presidente reclamou das declarações recentes de Ciro contra o governo e das críticas que ele tem feito à aliança do partido com o PMDB. "O que o Ciro está fazendo é inaceitável", disse Lula. Dado o veredicto, a estratégia inicial era tentar convencer o deputado, que já teve 21% das intenções de voto e hoje tem apenas a metade, de que suas chances minguaram e o melhor a fazer é uma republicana batida em retirada. Os conselheiros do governo, porém, temem que, informado do plano de naufrágio, Ciro possa apontar sua metralhadora oral na direção de Dilma Rousseff. Para evitar que isso aconteça, o melhor, decidiu-se, é afastar Lula do processo. A missão de contar a Ciro o que só ele ainda não sabe ficará por conta – e risco – do PSB.
Apesar do constrangimento de ser obrigado a assistir passivamente à decisão sobre seu futuro político, Ciro Gomes sabia desde o início que sua candidatura era teoricamente descartável e dependia exclusivamente da bússola de Lula. Sem nomes relevantes no PT, o presidente acreditava que ter dois candidatos oficiais era a melhor maneira de chegar ao segundo turno. Mudou de estratégia quando concluiu que Dilma pode ser uma candidata competitiva. Emparedado, Ciro topou até avaliar uma participação na disputa pelo governo de São Paulo, o que hoje também parece inviável. O fim de sua candidatura, por tudo isso, era previsível. A dúvida – e o receio de alguns – é saber se ele vai representar até o fim o papel que lhe reservaram.
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