País dividido
Pesquisa eleitoral mostra que os eleitores brasileiros não estão divididos apenas entre Norte e Sul. A cisão equilibrada entre os dois candidatos também ocorre em todas as faixas de renda
Alan RodriguesNORTE
Nos Estados nordestinos Dilma abre 12 pontos de vantagem sobre Serra
SUL
Nas regiões Sudeste e
Sul Serra tem em média dez pontos a mais que Dilma
A eleição presidencial não mostra um país dividido apenas entre um Sul rico e serrista e um Norte pobre fechado com Dilma Rousseff. A divisão geográfica, típica das últimas eleições, já não é suficiente para explicar integralmente o empate técnico, na faixa de 37%, que se verifica entre os dois candidatos à Presidência da República. O equilíbrio na separação das forças, na verdade, é mais profundo. A última pesquisa do Instituto Datafolha sobre as intenções de voto revela que o Brasil está cindido de cima abaixo, em todas as faixas de renda e de escolaridade. Os números da pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 17 e 20 de julho, comprovam que, mesmo dentro destas grandes áreas territoriais que tendem mais para um ou outro candidato, o eleitorado está rachado. A petista e o tucano praticamente empatam entre os pobres, a classe média e até entre os ricos. Situação idêntica acontece quando se abrem os dados por escolaridade: os entrevistados com ensino fundamental e os com formação superior também dividem-se por igual na preferência eleitoral.
A conclusão surpreendente dessa pesquisa é que o voto em Dilma ou Serra, até o momento, não está associado com nenhum estrato social específico. Na verdade, a divisão socioeconômica torna até mais tênue a regionalização do voto. Ou seja, os ricos do Sul não votam maciçamente em Serra nem os pobres do Nordeste têm uma preferência avassaladora por Dilma. Trata-se de uma mudança: no 1º turno das eleições de 2006, Lula mantinha 26 pontos percentuais sobre Alckmin, entre os eleitores de baixíssima renda – até dois salários mínimos. Outro dado interessante que aparece na enquete é que até mesmo a disposição de anular o voto é igual entre os mais abastados e os mais humildes, ambos na faixa de 4% do eleitorado.
“Os problemas não são mais ideológicos, são econômicos”, acredita o cientista político Cesar Romero Jacob, autor do livro “A Geografia do Voto nas Eleições Presidenciais do Brasil: 1989 – 2006”. Especialista em mapas eleitorais brasileiros, Jacob diz que a vantagem que Serra leva no Sul pode ser explicada por um certo desconforto da região com o empobrecimento relativo de Estados exportadores. Já a liderança de Dilma no Norte e Nordeste seria reflexo da melhoria econômica destas regiões. Apesar dos empates nas diferentes classes sociais, estas percepções regionais ainda sustentariam a divisão Norte-Sul da eleição. “A cadeia produtiva dos programas de distribuição de renda, tipo o Bolsa Família, beneficia a todos os setores da sociedade do lado de cima do mapa brasileiro, enquanto o dólar desvalorizado prejudica a parte de baixo, do empresário ao pequeno produtor do agronegócio”, entende Jacob. Para o estudioso, a eleição será resolvida nos pequenos municípios. “O candidato que abandonar os grotões, cidades de até 20 mil habitantes que, segundo o Censo de 2000, são 4.074 municípios, estará fadado à derrota.” As periferias das grandes cidades, segundo ele, estão também divididas: “Os excluídos da periferia dos centros urbanos sempre estiveram ao lado da esquerda que hoje está sem lastro ideológico. Assim, eles votam em Serra ou Dilma sem diferença.”
EM CASA
José Serra visita Blumenau (SC), reforçando a campanha nos Estados do Sul
Passadas três semanas da largada oficial da campanha de 2010, a pesquisa de intenção de voto realizada pelo Instituto Datafolha joga luz sobre a força política das duas legendas (PSDB e PT) e expõe o matiz da geografia do voto nacional. As enquetes mostram como as cinco regiões do País se dividiram em dois blocos partidários com margens de vantagem cada vez mais apertadas. Numa imagem colorida, o Brasil segue azul e vermelho – respectivamente, as cores das agremiações tucana e petista. A maioria dos eleitores da parte de cima do mapa nacional ainda está mais afinada com a candidatura da petista Dilma Rousseff e a maioria dos votantes do Sul e Sudeste identificam-se mais com o tucano José Serra. Entre os mais de 135 milhões de pessoas aptas a votar, quase cinco em cada dez eleitores concentram-se nos Estados do Sul e Sudeste. Nessas duas regiões, que compreendem sete Estados, o PSDB contabiliza uma vantagem de mais de cinco milhões de intenções de voto, saldo que zera o prejuízo tucano amealhado no Norte, Centro-Oeste e Nordeste, onde Dilma larga com idêntica superioridade de crédito eleitoral – cinco milhões de intenções de voto. Assim, se a pesquisa de opinião é uma fotografia do comportamento do eleitor em um determinado momento, como gostam de dizer os políticos, ninguém tem condições de encomendar antecipadamente a roupa para a festa da transmissão da faixa presidencial.
APOIO
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