Coordenador da campanha de Serra acusa Dilma de ter sensibilidade ambiental 'próxima a zero'
O Globo
SÃO PAULO - O ex-secretário do Meio Ambiente do governo de São Paulo e um dos coordenadores da campanha do candidato à Presidência José Serra (PSDB), Xico Graziano, afirmou nesta segunda-feira que Dilma Rousseff (PT) representa a "insensibilidade em relação ao meio ambiente".
Dilma representa a insensibilidade em relação ao meio ambiente
- A sensibilidade ambiental do PT é próxima a zero. É lamentável. E a Dilma representa a insensibilidade em relação ao meio ambiente - disse Graziano, depois de um debate em São Paulo com coordenadores das candidaturas do PT, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), e do PV, João Paulo Capobianco.
Ao responder as críticas do tucano à candidata Dilma, José Eduardo Cardozo afirmou que esse tipo de ataque só pode ser atribuído ao "desespero" dos adversários tucanos, já que as recentes pesquisas de intenção de voto mostram a petista ou à frente de Serra (Vox Populi) , ou empatada com o adversário (Datafolha) .
- Quando o discurso vai para a desqualificação pessoal, é sinal que falta argumento por parte do adversário - ele disse.
Quando o discurso vai para a desqualificação pessoal, é sinal que falta argumento por parte do adversário
Graziano e José Eduardo falaram no fim de um debate promovido pelo Instituto Trata Brasil, cujo tema central foi o saneamento básico e a preservação ambiental. Para o tucano, que citou a saída de Marina Silva (PV) do Ministério do Meio Ambiente como exemplo da postura de Dilma, o governo tem errado em relação ao tema, e a vitória da petista representaria um retrocesso na área.
Representante da coordenação da campanha de Marina, Capobianco criticou a discussão polarizada entre as duas campanhas, e disse que a "comparação entre currículos" prejudica o debate eleitoral:
- É hora de olhar para o futuro, não ficar apontando quem fez o quê.
Coordenadores divergem sobre propostas para saneamento básicoMesmo concordando nos princípios básicos, durante o debate, os coordenadores das campanhas dos três principais candidatos à Presidência da República não chegaram a um consenso sobre como resolver o problema do saneamento básico no Brasil. Enquanto a campanha verde, representada por Capobianco, defende que o problema seja encarado como uma questão de saúde pública, a coordenação petista alia a solução às políticas de infraestrutura, e a campanha tucana diz que o tema deve ser pensado dentro de um programa de política ambiental.
No momento mais acirrado do debate, as principais divergências ficaram caracterizadas na discussão sobre o programa Minha Casa, Minha Vida. Para o verde Capobianco, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva erra ao promover um programa de crédito para a construção de moradias sem antes regularizar a situação de clandestinidade da maioria das habitações no país.
- O Minha Casa, Minha Vida tem que ter um critério ambiental, tem que fiscalizar as áreas de risco, as áreas de mananciais. Não pode ser feito com irresponsabilidade, como tem sido feito - criticou.
José Eduardo Cardozo, um dos coordenadores da campanha de Dilma, admitiu que a maior parte das moradias no país estão em situação irregular, mas afirmou que o governo não pode suspender a concessão de crédito até que a situação se regularize, já que isso seria a punção da população de baixa renda que mora em áreas problemáticas.
A maior parte das moradias do país é clandestina. O saneamento é o maior problema que o Minha Casa, Minha Vida enfrenta, mas não podemos retirar esse crédito
- A maior parte das moradias do país é clandestina. O saneamento é o maior problema que o Minha Casa, Minha Vida enfrenta, mas não podemos retirar esse crédito. O que nós temos que fazer é combater com rigor a ocupação irregular. A situação é grave. Eu não posso inibir políticas sociais nesse ponto.
Para o tucano Graziano, o próximo governo deve priorizar a criação de um plano nacional de saneamento para solucionar o problema, e dobrar o investimento na área, que hoje é R$ 5 bilhões, aproximadamente. Ironicamente, no entanto, ele se recusou a falar sobre as propostas de Serra para o saneamento do país, para que o PT "não copiasse". Ele concordou com as críticas de Capobianco ao programa habitacional do governo, disse que é preciso melhorá-lo, mas negou a suspensão do projeto.
- Nós vamos fazer muito mais moradias que esse governo fez. Mas vamos fazer conjuntos habitacionais com a agenda sustentável.
No entanto, José Eduardo Cardozo, Xico Graziano e João Paulo Capobianco concordaram que problemas de saneamento do Minha Casa, Minha Vida dependem, para ter solução definitiva, da interação entre os governos federal, estaduais e municipais. Os três concordaram que se cada esfera de poder cuidar do que é sua obrigação os problemas são solucionados.
Conforme dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil, apenas 50,6% da população que vive em áreas urbanas no país tem acesso a rede de esgoto e somente 34,6% do volume de esgoto coletado no Brasil recebe tratamento. Os dados deste ano mostram ainda que 217 mil empregados precisam se afastar do trabalho por ano para se tratar de problemas gastrointestinais provocados pela falta de saneamento, e cada afastamento significa a perda de 17 horas de trabalho.
Outro dado significativo do Trata Brasil, conforme estudo da OMS/Unicef, mostra que o Brasil é o nono colocado no "ranking mundial da vergonha" dos países cuja população não tem acesso ao banheiro. São 13 milhões de brasileiros sem banheiro em casa.
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