1. Embora o "SE" não caiba em política, como aprendizado teórico, pode ensinar muito. Fora do calor pré-eleitoral e das redes na internet tentando demonstrar com números e estatísticas a superioridade de um sobre o outro governo, qualquer raciocínio razoavelmente isento, concluirá que as ações dos governos adotadas dentro das duas últimas décadas, desde o governo Itamar Franco, produziram uma curva sustentável de indicadores positivos em nível econômico e social.
2. A começar pelo Plano Real, no governo Itamar, quando FHC era seu ministro da fazenda. Seus desdobramentos foram políticas -fiscal, monetária e financeira- consequentes. A própria abertura da economia, iniciada um pouco antes, foi reforçada e ampliada pelas ações seguintes. O comércio exterior brasileiro saiu de 52 bilhões de dólares em 1990 para 370 bilhões de dólares em 2008. A política de valorização do real começou com o Plano Real e atingiu igual intensidade nos anos Lula, com efeitos sobre o salário real e o controle da inflação.
3. As ações de inclusão social focalizadas, dispersas, começam ainda nos anos 80, com bolsas-alimentação, ticket-leite, etc. Mas como política orgânica, começam no governo FHC, com o bolsa-escola, enquanto renda mínima com condicionantes. A bolsa-família, agregando bolsas, foi sua continuidade ampliada. Os tratamentos dados aos ministérios de educação e saúde, desde FHC, abriram caminhos para a universalização do ensino fundamental, expansão do ensino médio, avaliação de desempenho, melhoria dos indicadores de saúde...
4. As curvas que traduzem todos estes indicadores tornaram-se ascendentes e auto-sustentáveis, desde que se desse, como se deu, continuidade às diversas políticas constituintes, cuja aceleração dependeria do ambiente externo, como ocorreu negativamente com as crises asiática e russa de 1997/98 e depois com o ciclo de forte expansão internacional de 2004 a 2008.
5. E é aqui que entra o "SE". FHC, como o mais qualificado político brasileiro, com o saber que lhe dá lastro, com a experiência parlamentar e as experiências de ministro de relações exteriores e de fazenda, agregadas à campanha de 1994, chega ao governo sabendo as medidas a adotar. Com sua maioria parlamentar, eliminou amarras constitucionais em relação ao capital privado e externo. E projetou cenários que antecipavam esse ciclo sustentável econômico e social.
6. Para garantir a gestão do mesmo e o usufruto futuro de seu trabalho, alterou para seu próprio mandato as regras constitucionais de re-eleição. Mas as condições mudaram no final de 1997 e durante 1998. A reeleição exigiu plasticidade fiscal e cambial (tanto quanto Lula agora na pós-crise de 2008). E o segundo governo impôs a FHC sacrifícios políticos para garantir a sustentabilidade da curva que lançou. O resultado é que o segundo governo, para a percepção da população, não veio traduzido pela complexidade das medidas, mas pelos resultados, produzindo uma memória de baixa popularidade.
7. "SE" FHC tivesse tido paciência democrática e confiança na irreversibilidade de suas medidas fiscais, monetárias, financeiras e sociais, a emenda constitucional da reeleição só seria aplicável ao próximo governo. Lula carregaria entre 1994 e 1998, como presidente, com a baixa popularidade que FHC carregou e talvez mais, por sua menor experiência, maior ansiedade e pressão de sua base social e política. "SE" isso tivesse ocorrido, provavelmente FHC teria voltado como salvador em 2006 e, agora em 2010, estaria -de carruagem- concorrendo à reeleição. Para o bem do Brasil, que não estaria digerindo os riscos de uma candidatura improvisada do PT, sob a pressão lúdica e incerta de seus pares.
Fonte: ex-blog CM
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