Meirelles: Inflação sob controle pode favorecer Dilma
Sérgio Lima/Folha
Premido pela retomada do crescimento da economia e seus reflexos na taxa de inflação, em alta, o Banco Central flerta com uma elavação da taxa de juros.
Perguntou-se a Henrique Meirelles, o presidente do BC, se a providência não vai prejudiciar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. E ele:
“A nossa experiência mostra que é equivocada a avaliação de que política monetária frouxa e, em consequência, inflação mais elevada trazem algum benefício eleitoral”.
Para Meirelles, é mais provável que se dê o oposto. Acha que, associada ao poder de compra dos salários e dos benefícios sociais, a inflação baixa pode ajudar Dilma:
“A inflação na meta e o poder de compra do trabalhador e dos beneficiários dos programas sociais preservado beneficiam o país e a população...”
“...Portanto, acabam por beneficiar eleitoralmente [a candidatura oficial] ou pelo menos não prejudicar”.
Meirelles falou ao repórter Cristiano Romero. A conversa foi às páginas do jornal Valor (só para assinantes).
A despeito de reconhecer que o comportamento da economia influencia o voto, Meirelles diz que a ação do BC é pautada por critérios técnicos.
Em artigo veiculado no final do ano passado, o professor Affonso Pastore anotara que o PIB brasileiro já cresce acima do seu potencial.
Pastore escrevera que o governo já deveria ter levado o pé ao freio. E insinuara que o eleitoral prevalece sobre o técnico na gestão da economia.
Instado a responder à crítica, Meirelles soou peremptório: “O BC não se deixa influenciar pelo fato de que uma decisão seria politicamente inadequada. Tanto que tomamos decisões politicamente inadequadas no passado várias vezes”.
Meirelles acrescenta: “O BC brasileiro já tem uma reputação de credibilidade, um histórico suficientemente estabelecido para ter a liberdade de tomar a decisão na hora certa, para não precisar provar nada a ninguém”.
O entrevistador recordou a Meirelles que a inflação deste início de 2010 é a mais alta desde 2003. E inquiriu: o Brasil está preparado para crescer 5,8%, como projeta o BC para 2010?
Ouça-se Meirelles: “Não sabemos qual é o produto [PIB] potencial do Brasil neste momento. Isso tem sido discutido entre os economistas [...]...”
“...[...] No processo de recuperação da economia, assim como num determinado ano se operou abaixo do PIB potencial, é possível operar em alguns momentos acima do potencial...”
“...A extensão desse período, e se isso é homogêneo nos diversos segmentos da economia, é outro problema. Não se pode fazer esse cálculo de forma simplista. Há uma série de outros fatores que precisam ser analisados”.
No auge da crise financeira global, o BC afrouxara o compulsório dos bancos, injetando dinheiro no mercado.
Numa reversão dessa política, o BC acaba de elevar o compulsório bancário, retirando de circulação algo como R$ 71 bilhões. Não é muito cedo?
Para Meirelles, não: “O momento é absolutamente adequado porque as condições da economia brasileira demonstram isso com clareza...”
“...Há uma recuperação forte da demanda doméstica, do consumo privado e público, e, agora, do investimento...”
“...Além disso, houve aumento da renda e do crédito. O segredo da saída [dos compulsórios] é este: ele não pode ser prematuro, mas também não pode ser tardio...”
“...[...] Do ponto de vista de colchão de liquidez, a medida também se justificava, porque concluímos que o nível que tínhamos na crise era adequado, então, decidimos restaurar esse colchão”.
A mexida no compulsório, com a consequente diminuição da liquidez, pode ajudar na administração da taxa de juros?
Meirelles reconhece que a providência tem “efeitos de política monetária”. Mas pondera: “A experiência mostra que o mecanismo básico que o BC deve usar para alterar a trajetória futura de inflação é a taxa base de juros [Selic]...”
“...É o mecanismo mais eficiente, uma vez que as séries históricas estão mais bem estabelecidas e, portanto, é algo mensurável...”
“...Trata-se do instrumento básico de ação de bancos centrais no mundo todo e do BC brasileiro. Não procuramos substituir um mecanismo por outro...”
“...Para o controle específico de liquidez em alguns momentos, o recolhimento ou a liberação de compulsório, como fizemos em 2008, é um mecanismo extremamente eficaz...”
“...Portanto, a decisão do compulsório teve em vista questões de liquidez. Não há dúvidas, porém, de que ela tem efeitos de política monetária”.
Filiado ao PMDB, Meirelles frequenta o noticiário com cara de candidato. Descartou o governo de Goiás. Vai ao Senado? Sonha com a vice de Dilma? Ele preferiu o silêncio.
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