Todos de olho em Aécio Neves
28/02 - 11:50 - Tales Faria, iG Brasília
Ironia do destino. O governador de São Paulo, José Serra, ganhou do de Minas Gerais, Aécio Neves, a vaga de candidato do PSDB a presidente da República. Agora precisa desesperadamente de Aécio para vencer as eleições. O próprio Serra é o primeiro a admitir, em declaração ao iG:
“Aécio Neves tem um papel fundamental, nas eleições, por três razões igualmente importantes: é uma das grandes lideranças políticas do país - e não apenas do PSDB; faz um governo muito competente e, com justiça, tem o reconhecimento da população; Minas Gerais é um estado-chave não só por ter o segundo maior colégio eleitoral do País, mas porque é um ponto de equilíbrio e de irradiação de ideias e influências na federação. E Aécio fortaleceu esse protagonismo.”AE Governador vira motivo de disputa
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), vai mais longe: “A vitória em Minas Gerais é indispensável. Não tem campanha presidencial sem o governador Aécio Neves”.
Há mais motivos para tantos afagos no tucanato. É que também os estrategistas da candidata do PT à Presidência – a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff – estão com seus radares apontados para os movimentos do governador mineiro.
Pesquisas eleitorais do PT e do PSDB apontaram que, do jeito que eleitorado está distribuído nos estados nesta campanha, Minas Gerais poderá ser mais decisivo do que nunca na eleição do presidente da República.
Os números, pela lei, não podem ser divulgados. São guardados a sete chaves. Mas a avaliação de ambos os lados é semelhante:
Dilma vai muito bem no Nordeste e melhor que Serra no Norte. No Sul do País e no Centro Oeste, o eleitorado está dividido. Portanto, a eleição deve se definir no Sudeste.
Em São Paulo, Serra compensa um pouco a vantagem de Dilma em outras regiões. No Rio, a situação é imprevisível com o lançamento da candidatura de Fernando Gabeira. O que significa que vence a eleição, muito provavelmente, quem tirar uma boa vantagem em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país.
Empenho
Ou, como declarou ao iG o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “Minas sempre foi de fundamental importância política e eleitoral. Se fui eleito duas vezes no primeiro turno é porque contei com forte apoio em São Paulo e em Minas Gerais, sem descuidar do País como um todo. Nas eleições que se aproximam essa observação vale ainda mais, dada a força política e eleitoral do Aécio.”
Para FHC, “de uma ou de outra maneira, a decisão das eleições dependerá de Minas e do apoio que o PSDB mineiro vier a dar à candidatura nacional. Não há um só caminho para isso: a decisão será do Aécio, sobre a que se candidatará. Mas o essencial – e disso eu não duvido – é o empenho dele na vitória em Minas e no Brasil.”
Por mais que Aécio insista que apoia o colega tucano José Serra, a verdade é que há dúvidas, sim, sobre o quanto se empenhará. Atribui-se à falta de empenho de Aécio a derrota de Serra para Lula em 2002.
Enquanto os tucanos ainda sonham com Aécio aceitando a vaga de vice na chapa de Serra, Lula e Dilma mantêm abertos todos os canais de contato com o governador mineiro, na tentativa de evitar que ele faça uma campanha enfática a favor de José Serra no Estado.
Presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra explica: “O Aécio é um grande líder e Minas, o segundo colégio eleitoral do País. É claro que isso tem peso. Mas terá maior ou menor peso na eleição nacional, dependendo do interesse do candidato em se empenhar nessa linha”.
Dutra raciocina que Aécio poderá estar mais preocupado em cuidar da sua própria eleição e do seu candidato a governador, Antônio Anastasia, mal colocado nas pesquisas, e que precisará tentar ganhar uma parte do eleitorado do PT.”
“Não vejo motivos para o Aécio bater de frente com a candidatura de Dilma Rousseff. Ele será candidato ao Senado, provavelmente. E nunca vi uma candidatura nacional confrontar-se com uma candidatura a senador. Também não será do nosso interesse. Mesmo que o Aécio saia para vice de Serra, normalmente não há motivos para um confronto com o vice”, argumenta Dutra.
Pelo sim, pelo não, o PT procura se entender com o PMDB de Minas, cujo candidato a governador, o ministro Hélio Costa, tem 48% de preferência nas pesquisas locais.
“Minas é tão importante que o ideal é montarmos aqui um palanque único para a ministra Dilma Rousseff, com PT e PMDB juntos. Por outro lado, o PSDB e o DEM têm que olhar as inaugurações aqui – com o governador e seu vice sempre presentes – e pararem de criticar o fato de o governo federal estar mostrando suas obras”, cutuca o ministro.
Inaugurações
Aliás, no próximo dia 4 será comemorado o centenário de nascimento de Tancredo Neves, avô de Aécio. E o PSDB está aproveitando para programar uma intensa mobilização em torno do governador mineiro, aproximando-o de José Serra.
Em Minas, o próprio Aécio, inaugurará, no dia 4, a nova Cidade Administrativa do Estado, batizada de Tancredo Neves. O tucanato em peso estará presente.
Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, artífice da candidatura Dilma, resolveu não deixar Aécio sozinho com o PSDB: também confirmou presença no evento.
No dia anterior, o Congresso reverenciará Tancredo Neves e a Nova República em sessão solene. O tucanato vai em peso. Mas, de olho em Aécio, também estarão lá representantes de todos os partidos. Dos presidentes da Câmara e do Senado. Michel Temer (SP) e José Sarney (AP) – do PMDB –, ao candidato do PSB a presidente da República ou a governador de São Paulo, Ciro Gomes.
“O Aécio terá presença marcante nestas eleições em qualquer hipótese”, admite o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, mesmo deixando claro que seu partido tende a se aliar com o PT em Minas. “Afinal, o Estado é fundamental para a aliança com o PT no nível federal: os mineiros têm 60 votos na nossa Convenção Nacional”, explica Temer.
“Eu pessoalmente, ainda acho que o meu amigo Aécio poderá ser candidato a presidente da República”, afirma Ciro Gomes, que aposta na queda de José Serra nas pesquisas e, daí, na sua desistência de concorrer a presidente, abrindo o espaço para a candidatura presidencial de Minas. “Mas aí pode ser tarde”, lamenta
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