O jogo de faz de conta
Yeda finge superar desgaste, mas PSDB prefere aliança com o PMDB para enfrentar o PT no Rio Grande do Sul
Adriana NicacioJUSTIFICATIVA
“Todos os eventos positivos do meu governo foram encobertos por denúncias”
Terra de Érico Veríssimo, Mário Quintana e outros grandes escritores, o Rio Grande do Sul tem uma pródiga literatura. Talvez seja por isso que a campanha eleitoral deste ano transformou- se em uma obra de ficção. A governadora Yeda Crusius finge que tem o apoio de seu partido, o PSDB, para disputar a reeleição. Mas o pré-candidato tucano a presidente, José Serra, prefere o palanque do pemedebista José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, e conta com o ex-governador Orestes Quércia para fazer deste sonho realidade. Além de se proteger do desgaste de Yeda, Serra sabe que os gaúchos dificilmente reelegem um governador. Em 2006, Germano Rigotto (PMDB) foi o único governante que não conseguiu chegar sequer ao segundo turno das eleições. Até nas pesquisas mais favoráveis, a governadora aparece em desvantagem, com apenas 12% das intenções de voto, atrás dos adversários do PT, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, e de Fogaça – este já conta com o apoio velado dos tucanos. A oposição ganhou força nos últimos três anos, quando Yeda precisou responder a denúncias de corrupção. Mas ela tenta demonstrar que conseguirá superar o que ainda está fresco na lembrança dos gaúchos.
No Palácio do Piratini, com a máquina do governo estadual nas mãos, começou a reunir números favoráveis a sua gestão e trabalha para manter o PP na sua base de apoio. “Todos os eventos positivos do meu governo foram encobertos por denúncias. Sofri uma guerra violenta, mas passou. Agora é hora de resultados”, disse a governadora à ISTOÉ. Yeda garante que a confiança voltou ao Estado e aponta três fatos que estarão presentes na campanha: “O investimento estrangeiro cresceu, a região da Serra Gaúcha registrou o maior aumento de emprego da sua história e os hospitais estão dentro das metas.” O problema é que a pauta da campanha é menos a avaliação de seu governo e mais o pós-Yeda. Essa situação tem permitido aos adversários ampliar os apoios. Fogaça ofereceu o cargo de vice para o deputado federal Pompeo de Mattos, numa tentativa de repetir com o PDT a aliança que o reelegeu prefeito em 2008. O PDT tem hoje no Rio Grande do Sul sua maior expressão, com 65 prefeitos eleitos e 694 vereadores. Fogaça tem tanta confiança em sua vitória que renunciará ao cargo de prefeito em abril para disputar o Piratini.
“Dói deixar a prefeitura com mais três anos de mandato pela frente. Mas o faço por sentimento de dever”, disse. Genro, que aparece em primeiro nas pesquisas, espera convencer o deputado Beto Albuquerque (PSB) a desistir da candidatura própria para apoiar o PT. “O Rio Grande do Sul está isolado econômica e politicamente do restante do País. Existe um bloqueio devido à arrogância e ao autoritarismo do governo estadual que impediu a integração do Estado às políticas do governo federal”, disse Genro. Beto Albuquerque, contudo, garante que será candidato. Pelo menos por enquanto. “O Rio Grande do Sul não pode ficar refém da alternativa PT ou PMDB, que já mostraram que não são as melhores opções”, disse. A tendência, porém, é que a eleição no Estado também seja polarizada. Mas com uma realidade dura para Yeda: sem o PSDB.
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