Clóvis Rossi
SÃO PAULO - A surpresa, pelo menos do meu ponto de vista, na pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje não é o fato de Dilma Rousseff ter reduzido bastante a desvantagem em relação a José Serra, mas o fato de Serra ainda estar à frente, mesmo que no limite da margem de erro.
Explico: nestes últimos 50 anos em que as eleições brasileiras foram se massificando, jamais houve outro pleito em condições tão favoráveis para o governo como o deste ano. É verdade que a série histórica é magra. A de 2010 será a sétima eleição em meio século. É pouco, mas é o que temos para comparar.
Não se trata de que o público compre a numeralha que o governo despeja, parte dela maquiada. Ninguém vai à sessão eleitoral calculando que "Lula fez 4 casas, e FHC, apenas 2, logo, voto no Lula".
Não. Eleição para a esmagadora maioria é sentimento ou emoção. E o fator predominante é o que os ingleses chamam de "feel good". Quase dá para segurar com as mãos esse "sentir-se bem".
Daí a votar no governista de turno é um passo. O trabalho de Lula, portanto, é apenas o de gravar a fogo no sentimento do público que Dilma é a sua parceira no "feel good".
A pesquisa que hoje se publica é a primeira que demonstra que esse trabalho está dando certo. Dilma quase empata com Serra antes até do que calculavam alguns dos estrategistas de sua campanha.
Já o trabalho de Serra é infernal: não adianta querer convencer o eleitorado de que as coisas não estão nada "good", mas muito "bad", que é o que faz qualquer oposição em qualquer lugar do mundo. Terá que demonstrar que, com ele, Serra, o "good" será melhor ainda.
Claro que é sempre necessário guardar as formas e lembrar que pesquisa retrata apenas um momento, o de hoje. Mas que o PSDB terá que empurrar o carro Serra ladeira acima parece não haver dúvida.
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