Serra quer neutralizar discurso social do PT com pacote para baixa renda
Governo paulista expandirá investimento em programas de microcrédito, de moradia popular e de escolas técnicas
Julia Na corrida pela conquista do eleitor de baixa renda, maior parte do eleitorado e fiel da balança na disputa presidencial, as principais vitrines sociais do governo do tucano José Serra serão encorpadas e servirão de arma na campanha eleitoral deste ano. A ideia no PSDB é usar iniciativas de cunho popular no Estado para neutralizar o discurso social do governo e do PT, principalmente na campanha eleitoral no rádio e na TV.
A contabilidade tucana para este ano prevê a expansão do programa de microcrédito, o anúncio da liberação dos créditos da Nota Fiscal Paulista numa frequência maior, a duplicação dos Ambulatórios Médicos de Especialidades e até a abertura de restaurantes populares em comunidades carentes. Tudo casado com uma maratona de inaugurações, antes do prazo para a desincompatibilização de quem ocupa cargos no Executivo, em 3 de abril.
A ação dos tucanos ocorre no momento em que o governo federal prepara uma série de eventos para relacionar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a projetos sociais. Até abril, a petista terá o nome vinculado, por patrocínio do governo, aos lançamentos do PAC 2, do Plano Nacional de Banda Larga e do projeto de Consolidação das Leis Sociais, que Lula quer deixar como legado na área.
As vitrines tucanas não só municiarão o futuro candidato no debate eleitoral, como devem ilustrar e balizar o programa de governo do partido. Somam-se a elas outras iniciativas de Serra que o PSDB aposta que terão repercussão nacional, como o recente anúncio do novo salário mínimo regional, de R$ 560. Depois de debates internos entre integrantes da equipe econômica de Serra, o governo resolveu mudar o critério de reajuste para conceder neste ano um aumento acima do que estava previsto.
Na semana passada, Serra ensaiou agenda de campanha e inaugurou na Brasilândia, zona norte da capital paulista, um dos restaurantes Bom Prato, que vendem almoços a R$ 1. Mas a ida do governador ao local teve um componente diferente. Aquele foi o primeiro modelo inaugurado em uma comunidade carente - as 30 unidades anteriores foram abertas em locais de passagem, como ruas de comércio popular e estações do Metrô. A orientação agora é que este novo modelo seja levado para outras comunidades até o final da gestão - as próximas serão Paraisópolis e Heliópolis, a maior favela da capital paulista.
Beneficiado por esses programas, o eleitor que ganha até dois salários mínimos corresponde a mais da metade do eleitorado. Pesquisa Ibope, feita entre 6 e 9 de fevereiro, mostra que a maior parte dos eleitores (34%) quer que o próximo presidente dê "total continuidade ao governo atual". De acordo com os dados, 79% dos que ganham até um salário mínimo consideram o governo Lula bom ou ótimo, o que explica a resistência de parte do tucanos em criticar a atual gestão. Os números vão além. Expõem a necessidade de um discurso para esse perfil de eleitor. "Neste ano, o PSDB vai precisar desconstruir o que Lula diz. Vai ter que defender o que foi feito durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, comparar os candidatos e mostrar o que tem sido feito em São Paulo", afirmou o cientista político Rubens Figueiredo.
CRÉDITO
Na esteira do governo federal, que aumentou a oferta de crédito impulsionando o consumo das famílias, que este ano deve crescer 6,1%, o governo tucano engordou o programa de empréstimos populares. De olho na classes de renda mais baixa, resolveu aumentar em 30% os recursos para empréstimos do Banco do Povo Paulista, que chegam a R$ 120 milhões neste ano, o maior valor desde que foi criado em 1998.Os contratos variam de R$ 200 a R$ 7.500 e têm como alvo pequenos trabalhadores autônomos.
Agora em 2010, os mutirões anuais de crédito passam a ser semestrais. Até a divulgação conta com a ajuda do Palácio dos Bandeirantes. "Um grande entrave era a pouca divulgação ou a ausência dela. Antes ficava a cargo das prefeituras, mas desde o ano passado ficou centralizada", disse Antonio Mendonça, diretor executivo do Banco do Povo, ao falar da nova campanha no rádio e na TV que deve ir ao ar em março - a última foi no final do ano passado.
Serra também pediu um estudo da Secretaria da Fazenda para alterar o prazo de resgate dos créditos que o consumidor acumula com a Nota Fiscal Paulista. A ideia é que no segundo semestre se anuncie a mudança no resgate, que passaria de semestral para trimestral.
SAÚDE
Amparado por pesquisas que mostram a saúde com um dos pontos mais frágeis da gestão Lula, o PSDB avalia que o discurso social do partido deve rememorar a atuação de Serra no Ministério da Saúde, durante a gestão FHC - as pesquisas mostram que o eleitor se recorda e avalia positivamente a passagem do governador pela pasta.
Ao lado da Lei Antifumo, a aposta dos tucanos para a área são os Ambulatórios Médicos de Especialidades para consultas e exames médicos. Trabalha-se para a inauguração de 20 novos ambulatórios no ano. Isso corresponde à mesma quantidade de unidades criadas desde 2007, começo da gestão.
A produção de moradias populares também será recorde neste ano, na comparação com os três primeiros anos de gestão do tucano. A previsão é investir R$ 2,2 bilhões, quase o total de R$ 2,4 bilhões aplicados nos anos anteriores. Também pretende-se inaugurar 42.585 unidades e intervenções habitacionais - mais da metade do que foi entregue no ano passado.
O pé no acelerador também passa pelo ensino técnico, onde, diferentemente de outros casos, tucanos pretendem tomar a frente das comparações. O governo de Serra diz que deve ultrapassar a meta de entregar 52 novas faculdades de tecnologia neste ano - já foram abertas 49. Em quatro anos de governo, serão investidos R$ 3,2 bilhões, mas somente em 2010 o valor aplicado alcança R$ 1 bilhão.
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