Em Cuba, Lula encontra ditadores; ‘dissidentes’, não
Lula Marques/Folha
Antes de voar para Havana, Lula participou de cúpula latino-caribenha
Lula desembarcou em Havana na noite passada. Nesta quarta (24), vai encontrar os irmãos Castro, Raúl e Fidel.
O governo brasileiro define o encontro de Lula com o par de ditadores –o atual e o antecessor— como um "reencontro de velhos amigos".
A exemplo do que ocorrera em visitas anteriores, a agenda de Lula não inclui encontros com opositores do regime cubano.
Um acontecimento funesto envenena a cena. Horas antes do desembarque de Lula, morreu no cárcere o pedreiro Orlando Zapata Tamayo.
Preso político, Tamayo estava em greve de fome. Feneceu no 85º dia. Para deesassessogo de Lula, justamente o dia de seu desembarque.
Em carta entregue à embaixada brasileira, um grupo de 50 dissidentes presos ou com "licença penal" por razões de saúde dirigiu um pedido a Lula.
Eles pediram ao presidente do Brasil que interceda pela liberação dos presos políticos de Cuba. No texto, afirmam que Lula é um “magnífico interlocutor”.
Acham que, se quiser, Lula interceder para que “o governo cubano decida fazer as reformas econômicas, políticas e sociais que o país necessita com urgência.”
Mais: “Avançar no respeito aos direitos humanos; conseguir a reconciliação nacional e tirar a nação da profunda crise em que se encontra".
Não parece provável que Lula interceda em favor dos presos. Comissões da verdade para apurar transgressões aos deireitos humanos, só no Brasil. Em Cuba, jamais.
Para animar o “reencontro de velhos amigos”, Lula deixará em Cuba US$ 150 milhões. Dinheiro para a ampliação de um porto, em Havana.
Trata-se da segunda parcela de um desembolso total de US$ 300 milhões. Ao final das obras, a conta pode chegar a US$ 500 milhões.
Lula voou para Havana depois de participar da Cúpula dos Países Latino-americanos e do Caribe, no México.
Na animação fotográfica exposta lá no alto, você confere as fotos de despedida, clicadas pelo repórter Lula Marques.
Por sugestão do anfitrião, o presidente mexicano Felipe Calderón, a maioria dos 25 chefes de Estado presentes ao encontro vestiram-se de Guajaberas.
Trata-se de um traje típico do Caribe. Uma homenagem aos catadores de goiaba. Alguns preferiram suas próprias roupas típicas.
O venezuelano Hugo Chávez, por exemplo, não abriu mão do seu jaleco de tom abacate-militar.
Produziram-se na cúpula alguns consensos. Um deles resultou na criação de um novo bloco regional. Uma organização que funcionará nos moldes da velha OEA.
Com duas diferenças: inclui Cuba. E exclui EUA e Canadá. No dizer de Chávez, será uma organização capaz de produzir ações isentas da “colonização” americana.
Não ficou muito claro qual será a serventia da nova entidade. Já existem o Grupo do Rio, a Unasul e a própria Cúpula da América Latina e do Caribe. Mas quem se importa?
Ah, sim, Honduras não foi admitida no novo grupo. Por quê? Decidiu-se condicionar o ingresso do país à concessão de anistia a Manuel Zelaya.
Bulir com a soberania de Cuba não pode. Meter-se nos assuntos internos de Honduras pooooode!
Num segundo consenso, os chefes de Estado reunidos no México solidarizaram-se com a colega argentina Critina Kirchner.
Deram-lhe apoio na queda-de-braço que a Argentina trava com a Inglaterra desde que Londres decidiu explorar petróleo nas ilhas Malvinas.
Lula soou categórico. Disse que as Malvinas pertencem à Argentina, não à Inglaterra. Criticou a ONU, que demora-se em dirimir a pendenga.
Nem tudo foi concórdia, contudo. Num almoço a portas fechadas, o venezuelano Hugo Chávez e o colombiano Alvaro Uribe travaram um duro embate verbal.
O rififi começou quando Uribe queixou-se do tratamento dispensado pela Venezuela às empresas colombianas. Chávez interveio.
Disse que, sob sua presidência, iniciada no longínquo ano de 1999, o comércio entre os dois países foi multiplicado por oito.
Uribe o interrompeu. E Chávez, depois de soltar um palavrão, disse que o colega da Colômbia encomendara a um grupo paramilitar o assassinato dele.
Estica daqui, puxa dali, Chávez ameaçou deixar a reunião. E Uribe: "Seja homem! Estas questões devem ser discutidas nestes fóruns...”
“...Você é muito corajoso para falar as coisas à distância, mas um covarde quando é para falar as coisas na cara".
Coube ao companheiro-ditador de Cuba, Raúl Castro, jogar água fria na fervura. Ao final, o anfitrião Calderón disse, em entrevista, que a coisa terminou bem.
Chávez e Uribe toparam participar de um “diálogo amistoso”. Cirou-se um grupo negociador. Integram-no Brasil, Argentina, República Dominicana e México.
A viagem de Lula não termina em Cuba. De Havana, o presidente brasileiro voará para o Haiti. Dali, para El Salvador. Só retorna a Brasília no final de semana.
Escrito por Josias de Souza às 05h10
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.