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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ah, o subdesenvolvimento...

Enviado por Demóstenes Torres -
25.2.2010
| 16h25m
ARTIGO

Cúpula da Feijoada

A foto oficial dos 32 chefes de Estado reunidos no balneário mexicano de Cancún para a II Cúpula da América Latina e do Caribe causou a primeira impressão de que se tratava de um congresso de pais-de-santo.

Com exceção do histriônico Chávez e das presidentes da Argentina e do Chile, todos os demais “estadistas” usavam uma túnica branca à moda safari feita sob medida.

Em pauta, assuntos da maior relevância global como a integração dos povos latino-americanos.

Para a surpresa geral, não coube ao coronel de opereta de Caracas trazer a memória de Simon Bolívar para estimular os ânimos libertadores dos convivas.

Desta feita, a menção gloriosa ficou a cargo do anfitrião, o presidente mexicano Felipe Calderón, que acolheu a oportunidade para revigorar “o sonho do libertador da América Latina de ter um continente unido e orgulhoso das suas raízes comuns”.

Calderón tem um plano ambicioso de converter a tal Cúpula em uma Organização dos Estados Americanos paralela, chamada OEA do B, constituída do puro sangue miscigenado dos povos curarachos.

A intenção altaneira e bela do mexicano é de excluir os anglo-saxões dos Estados Unidos e do Canadá desta poderosa organização tropical.

A proposta não é nova e atende aos reclamos da I Cúpula da América Latina e do Caribe ocorrida em dezembro de 2008, ocorrida na não menos paradisíaca Costa do Sauípe na Bahia.

É muito interessante observar que esse pessoal só se reúne em balneários onde há o livre acesso a lagostas frescas, resorts encantadores com vista para o mar, ritmos quentes dos tambores e o “rebolation” de mulatas.

De decisão mesmo, nada de relevante é registrado em tais convescotes a não ser algumas tentativas de arrostar as forças imperialistas depois de a valentia dos dignitários ser provocada por alguns goles de destilado, conhecido como efeito tequila.

Enquanto na I Cúpula prevaleceu o desejo de Evo Morales de que todos os integrantes da organização chamassem os seus embaixadores acreditados em Washington caso o futuro presidente dos EUA, Barack Obama, não suspendesse, como um dos primeiros atos de governo, o embargo a Cuba, nesta II Cúpula o tom da conversa subiu contra o Império Britânico.

Os estadistas decidiram apoiar a reivindicação argentina de soberania sobre as Ilhas Malvinas.

A moção de apoio de líderes latino-americanos tem enorme efeito dissuasório e certamente os ingleses devem estar prontos para se retirar do arquipélago sob pena de se convocar uma III Cúpula em caráter extraordinário, desta feita, sugiro, a se realizar às margens do Lago Titicaca para renovar a ameaça de expansão física.

O fetiche da integração da América Latina, não fosse uma tremenda perda de tempo, significa um dispêndio de recursos empregados em jantares, palanques e túnicas que poderia ser evitado para a felicidade geral e a integração dos povos afins.

O que esse pessoal gasta em encontros e cúpulas daria, no mínimo, para promover sensacional feijoada em escala capaz de reverter os números de insegurança alimentar do subcontinente.

E depois poderíamos congregar em uma espécie de clube do feijão amigo, o Grupo do Rio, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), a Aliança Bolivariana para os Povos das Américas (Alba), a própria Cúpula da América Latina e do Caribe, o Mercosul, e a Organização dos Estados Americanos. Êpa! Até a OEA?

Perfeitamente! Deixar de fora da umbigada o companheiro Obama seria uma descortesia, para não falar em discriminação.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

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