José Roberto de Toledo (Estadão)
Nas palavras da experiente socióloga Fátima Pacheco Jordão, “parecia um debate inglês”. Não houve provocação, piada, baixaria nem puxada de tapete. Só discussão de “alto nível”. Comparado aos debates que a própria Band rememorou na abertura do programa, foi de dar sono. Começou com quase 6 pontos no Ibope, o que é muito para quem concorreu com uma semifinal de Taça Libertadores, e terminou com menos de 2 pontos.
Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) saiu com mais do que entrou. Já pode colocar no currículo que foi “trending topic” mundial do Twitter: seu nome foi uma das expressões mais citadas por usuários da rede social no mundo durante o período do debate.
Na forma, foi quem melhor se saiu, dirigindo-se diretamente ao telespectador com intimidade. Falou com segurança e surpreendeu pelo tom direto e por partir para o confronto. No conteúdo, é para quem concorda com as ideias do PSOL. Talvez comece a beliscar um pontinho ou outro na próxima rodada de pesquisas. A fórmula, todavia, pode cansar rápido.
Na forma, foi quem melhor se saiu, dirigindo-se diretamente ao telespectador com intimidade. Falou com segurança e surpreendeu pelo tom direto e por partir para o confronto. No conteúdo, é para quem concorda com as ideias do PSOL. Talvez comece a beliscar um pontinho ou outro na próxima rodada de pesquisas. A fórmula, todavia, pode cansar rápido.
Marina Silva (PV) perdeu uma oportunidade para ser notada. Plínio ocupou o lugar que poderia ter sido dela, se fosse uma franco-atiradora. Não é. Comportada, demorou para conseguir mostrar suas diferenças em relação a Dilma e Serra. Só embalou quando começou a falar de meio ambiente, mas o debate já estava acabando.
Foi segura, olhou direto para a câmera. Mas precisará ser mais agressiva, ou pelo menos incisiva, para ganhar espaço numa disputa tão polarizada. Isso parece contrariar sua natureza conciliadora. O poema que declamou no final ficou fora de contexto. Não emocionou.
Foi segura, olhou direto para a câmera. Mas precisará ser mais agressiva, ou pelo menos incisiva, para ganhar espaço numa disputa tão polarizada. Isso parece contrariar sua natureza conciliadora. O poema que declamou no final ficou fora de contexto. Não emocionou.
José Serra (PSDB) mostrou que é mais experiente que Dilma. Conseguiu criticar o governo sem falar mal de Lula. Surpreendentemente, não abjurou o governo Fernando Henrique Cardoso, ao contrário. Usou uma linguagem mais direta e popular do que a principal adversária. Conseguiu dominar boa parte do temário do debate, pondo a saúde, seu ponto forte, em evidência (o que lhe valeu a pecha de “hipocondríaco”, dada por Plínio).
Mas Serra falou duas bobagens que poderão ser exploradas pelos adversários. Ao enumerar os problemas de portos e aeroportos, arrematou: “Eu não sei como se vai resolver isso”. Não é a melhor frase para um candidato.
Depois, ao falar de reforma agrária, qualificou propriedades de 80 hectares como “chácara de fim-de-semana”. São 800 mil metros quadrados, algo como 80 quarteirões, praticamente um bairro.
No final, Serra foi buscar uma memória do pai para emocionar-se. Embargou a voz e lacrimejou. A emoção pareceu genuína, mas a técnica para obtê-la pareceu estudada.
Mas Serra falou duas bobagens que poderão ser exploradas pelos adversários. Ao enumerar os problemas de portos e aeroportos, arrematou: “Eu não sei como se vai resolver isso”. Não é a melhor frase para um candidato.
Depois, ao falar de reforma agrária, qualificou propriedades de 80 hectares como “chácara de fim-de-semana”. São 800 mil metros quadrados, algo como 80 quarteirões, praticamente um bairro.
No final, Serra foi buscar uma memória do pai para emocionar-se. Embargou a voz e lacrimejou. A emoção pareceu genuína, mas a técnica para obtê-la pareceu estudada.
Dilma Rousseff (PT) cometeu todos os erros que os rivais diziam que ela cometeria. Foi prolixa, usou um palavreado difícil e vazio: “política estruturante”, “flexibilizar”, “bioma”, “oligopolizados”. Abusou das siglas, do jargão e de cifras. Não concluiu a maior parte dos raciocínios que começou. Olhou para o oponente em vez de olhar para o telespectador. Quando o fez, olhou para a câmera errada. Estava ofegante, respirando fora do ritmo das frases. Estourou o tempo em quase todas as respostas.
Mas o pior erro de Dilma foi outro. Ela demorou uma hora e meia para dizer a palavra mais importante do seu discurso: Lula. Antes, sempre disse “nosso governo”, sem explicar que era o governo dela e de Lula. Quando percebeu o equívoco, já estava no final do debate. E, mesmo quando tentou, não conseguiu usar a figura do presidente para passar emoção. Num olhar de Poliana, Dilma ao menos sabe, agora, tudo o que precisa corrigir para o próximo debate.
Mas o pior erro de Dilma foi outro. Ela demorou uma hora e meia para dizer a palavra mais importante do seu discurso: Lula. Antes, sempre disse “nosso governo”, sem explicar que era o governo dela e de Lula. Quando percebeu o equívoco, já estava no final do debate. E, mesmo quando tentou, não conseguiu usar a figura do presidente para passar emoção. Num olhar de Poliana, Dilma ao menos sabe, agora, tudo o que precisa corrigir para o próximo debate.
RESUMO – O debate da Band muda o rumo da campanha? Não. Ao menos por ora, Dilma segue sendo favorita. Os adversários podem comemorar porque os pontos fracos da candidata do governo ficaram evidenciados, e serão explorados. Para quem está em baixa nas pesquisas e com dificuldades para obter financiamento de campanha, é um alento. Mas ainda é insuficiente para virar o jogo. Aumenta, porém, a importância dos próximos debates.
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