Serra, Marina e Dilma: um mês de pré-campanha com tropeços e acertos
Gilberto Scofield Jr.
SÃO PAULO - Nestes 30 primeiros dias de pré-campanha, a julgar pelos muitos equívocos e alguns acertos dos três candidatos à Presidência mais bem posicionados nas pesquisas - José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) -, é possível esperar uma disputa presidencial para lá de emocionante e polarizada, na opinião de cientistas políticos e profissionais de marketing.
Acredito que muitos na cúpula do PT estão dando palpites sobre o que a candidata deva dizer ou fazer, esvaziando o esforço de marketing político
Por enquanto, a inexperiência de Dilma com os palanques tornou a candidata alvo preferencial de críticas fora e dentro do PT. Um tom excessivamente professoral e tecnocrata foi criticado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu à candidata que interrompesse a campanha para se preparar melhor para debates e entrevistas na TV. Mas as gafes não se limitaram ao tom do discurso, incluindo seu conteúdo.
- Acredito que muitos na cúpula do PT estão dando palpites sobre o que a candidata deva dizer ou fazer, esvaziando o esforço de marketing político desenhado por João Santana (ex-sócio de Duda Mendonça, outro crítico da campanha de Dilma) - diz Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp: - A influência de estrategistas como Marcelo Branco ou o sociólogo Emir Sader, que são mais ideólogos que marqueteiros, pode atrapalhar mais que ajudar.
Romano cita como exemplo o episódio em que Dilma, num comentário truncado, deu a entender que os exilados teriam fugido da luta contra a ditadura, o que provocou enorme reação. Outro tropeço teria sido a admissão da suposta aliança informal " Dilmasia ", entre a candidata e o atual governador de Minas, Antonio Anastasia, logo desmentido pelo próprio.
Mas o professor de Ciências Políticas da UFRJ Charles Pessanha observa que o que se considera um erro político neste momento pode se revelar um acerto estratégico no futuro, dependendo da evolução do quadro político e da reação popular. E vice-versa.
- A declaração do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, dizendo que apoiará a coalizão "Dilmasia" mostra uma dificuldade clara na campanha de José Serra: a montagem de alianças políticas que neutralizem o tamanho da aliança entre Dilma e o PMDB de Michel Temer, especialmente em regiões onde o candidato não é forte, como no Norte e no Nordeste. Sem uma ação forte de Aécio (Neves, o ex-governador), a sugestão de Dilma pode se materializar no futuro - diz Pessanha.
O professor de Jornalismo e Mídia da Universidade de Brasília Paulo José Cunha acha que os equívocos de Serra são a demora da sua entrada na campanha e as indefinições sobre o vice.
- Aécio será vice ou não? Isso ainda não está resolvido. Até a Marina já escolheu seu vice.
Aécio será vice ou não? Isso ainda não está resolvido. Até a Marina já escolheu seu vice
Cunha diz que Marina não conseguiu alinhavar uma aliança capaz de guindar sua campanha a outro patamar e mantém a imagem restritiva de ambientalista, mesmo com sua presença no exterior sendo um trunfo bem utilizado. Ele observa que um subproduto da campanha - a ampliação do conhecimento sobre o PV em nível nacional - é usado com inteligência pela candidata, mas o programa de governo continua um amontoado de propostas desconexas.
- A gente conhece o programa de Dilma porque ela é a continuidade do governo de Lula, e manter esta ligação é um dos seus maiores acertos, mas tanto Serra quanto Marina precisam deixar mais claro o que pensam sobre grandes questões nacionais e o que farão para resolver os problemas - diz Cunha.
Muitos consideram Serra e Dilma candidatos de semblantes carregados e perfil autoritário, o que jogaria contra eles, enquanto Marina parece mais simpática. Mas o professor do Instituto de Ciência Política da UnB Antônio Brussi acha que nem esse conceito pode ser considerado demérito, a esta altura:
- Boa parte da população considera Lula um pai, uma imagem positiva do sujeito autoritário que desautoriza quem for preciso na defesa dos interesses do povo. Pois esta é uma imagem aceitável de alguém autoritário. Então, quando se chama Serra ou Dilma disso, a que tipo de autoritário se referem?
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