Afiado, Serra rebate Dilma, critica alta dos juros e diz que há loteamento no governo
DE SÃO PAULO
Segundo a participar da sabatina da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), em Brasília, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, elevou o tom das críticas à sua adversária na disputa, Dilma Rousseff (PT), e ao governo Lula.
Segundo ele, há "loteamento político" no governo federal. "A Infraero está loteada. Hoje, as agências reguladoras estão divididas entre partidos. Tudo está loteado."
O tucano afirmou que o governo federal não solucionou problemas de infraestrutura do país, apesar do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). "Estão sendo resolvidos? Não duvido que haja boa intenção, mas está complicado", disse.
Sérgio Lima/Folhapress |
Presidenciáveis José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva participam de sabatina da CNI, em Brasília |
"Falta planejamento, qualidade de gestão e falta capacidade para fazer sequenciamento dos investimentos segundo a ordem de prioridade", reiterou.
Serra rebateu Dilma no que diz respeito à alta dos juros no país. "Não entendi a explicação da Dilma quando ela defende a política cambial e de juros. Entra governo, sai governo, continuamos com os maiores juros do mundo", disse. O tucano afirmou que o Brasil é "campeão" por ter a maior taxa de juros do mundo.
Ele afirmou ainda que a taxa de investimento governamental, muito aclamada por Dilma, é irrisória. "Somos o penúltimo país na taxa de investimento. Só perdemos para o Turcomenistão."
Serra começou seu discurso reclamando do formato da sabatina. Ele disse que os pré-candidatos deveriam ter debatido entre si. "Eu preferia que os candidatos tivessem feito o mínimo de debate. Essas questões não vão ser debatidas na TV. Estamos perdendo a oportunidade de trocar ideias, de ter algum tipo de confronto não político-eleitoral, mas um confronto legítimo de ideias", afirmou.
No modelo da sabatina, não há debate entre candidatos. Cada um fala separadamente e responde a perguntas de empresários.
O tucano disse ainda que "sem desenvolvimento industrial poderoso, o Brasil nunca vai ser um país desenvolvido".
Segundo ele, a indústria perde espaço por distorções na política macroeconômica brasileira. "Indústria já está com R$ 7 bilhões de deficit. E não me venham dizer que é porque a economia está crescendo muito."
Serra defendeu sua gestão no governo de São Paulo. "Conseguimos enfrentar cada uma das questões colocadas no âmbito nacional. Triplicamos a taxa de investimentos ao mesmo tempo em que melhoramos a relação dívida-receita. Conseguimos melhorar a situação financeira triplicando investimentos, sem criar nenhum novo imposto."
Serra afirmou não ter entendido o que Dilma disse a respeito de tributação. Na Constituição, se consagrava a insenção de ICMS nas importações de manufaturados e qualquer coisa. "A ex-ministra falou contra isso, mas estava no projeto que ela apoiava."
"Eu li o diabo do projeto", disse o tucano sobre o projeto de reforma tributária do governo, que não foi para frente. "Eu fui um elemento importante para que essa ruína não fosse aprovada."
Indústria
Questionado sobre o que fazer para diminuir as dificuldades da indústria para exportar e também no que diz respeito ao espaço que os produtos importados tomam dentro do país, Serra mais uma vez alfinetou Dilma.
"Se a ex-ministra está preocupada com esse assunto [indústria] quando fala de estaleiros, deveria se preocupar com as indústrias já existentes. Tem desnacionalização. A indústria vai ficando cada vez mais montadora, se liquidando por causa do câmbio."
O tucano voltou a criticar a autonomia excessiva do Banco Central. "O Banco Central tem que se integrar na política do governo. Não há governo que funcione bem assim. A equipe é integrada."
E repetiu a frase polêmica: "O Banco Central não é a Santa Sé".
Gastos
Serra defendeu a ampliação de gastos na população brasileira. "Temos que gastar menos na máquina, mais na população."
Ele também defendeu mudanças na legislação brasileira. E citou como exemplo a lei de licitações. "Quando eu estava no Ministério da Saúde, a camisinha mais barata era a que cheirava a pena de galinha. Pela lei, teria que ser ela. Então, a lei tem furos."
Serra assumiu o compromisso de lutar pelo setor industrial ao contar histórias de sua infância. O pré-candidato tucano disse que está "nas suas origens" a proximidade com o meio industrial, já que morou numa vila operária.
Ele disse que vai trabalhar para manter erguida a "mesa" da economia. "Eu ajudei a erguer a mesa da economia do Brasil. Nunca vou ajudar a derrubar essa mesa", disse.
O tucano brincou ao afirmar que, desde a Constituinte, pensa "da mesma maneira" sobre a economia. "Hoje, pensando a mesma coisa, o Serra está à esquerda. Pode até abalar os mercados, mas não há razão nenhuma para isso. A gente tem que aliar coerência, conhecimento, capacidade de fazer e responsabilidade", disse.
Ele insistiu na comparação entre sua gestão no governo de São Paulo e o governo federal. "Temos 30% a mais de alunos no ensino técnico em São Paulo do que no governo federal", disse. Ao longo de sua explanação, o tucano abusou de comparações entre as duas gestões.
Serra ainda pediu desculpas aos empresários pela sua "informalidade" na sabatina. "Talvez tenha sido excessivamente informal, mas para uma discussão ser produtiva, é importante dizer com transparência o que pensa."
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