Lula vai insistir em Ciro para São Paulo
Autor(es): Paulo de Tarso Lyra |
Valor Econômico - 18/01/2010 |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou do recesso de fim de ano disposto a convencer o deputado Ciro Gomes (PSB) a concorrer ao governo paulista. Apesar desse projeto ter surgido em 2009, as negociações emperraram nos últimos meses do ano passado. Lula tem repetido aos seus interlocutores que existe um espaço claro, não preenchido ainda, para uma candidatura de oposição em São Paulo. Eleito pelo Ceará, o deputado mudou seu domicílio eleitoral para São Paulo no ano passado. Segundo um auxiliar do presidente, o argumento de Lula é de que as fortes chuvas que caíram sobre São Luís do Paraitinga (SP) e na capital paulista, destruindo casas e alagando ruas - especialmente no Vale do Anhangabaú, no Centro - podem abalar a avaliação positiva das administrações do PSDB (que governa o Estado com José Serra) e do DEM (que governa a capital, com Gilberto Kassab). Mas o presidente sabe que a construção dessa candidatura não depende apenas da sua vontade. Ao longo dos últimos meses, Lula tem dito que, baseado no respeito e na gratidão que nutre pelo parlamentar cearense, não pretende "colocar Ciro em uma fria". Ele sabe que a estratégia terá que contar com o aval do PT. Pessebistas já avisaram ao presidente que, mesmo com as crises recentes, o cenário ainda é desfavorável: o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, é um nome forte; José Serra, caso decida concorrer à reeleição, não terá adversários. "Ainda que os tucanos escolham outro candidato - como o chefe da Casa Civil do Estado de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, por exemplo -, eles têm um elenco de realizações para mostrar à população", admitiu um político envolvido nas negociações. Lula vai aproveitar uma escala que fará em Recife (PE), no dia 27 de janeiro, antes de seguir para o Fórum Econômico Mundial de Davos, para almoçar com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. "Não dá para reunir os dois partidos nesse encontro, vai ser um simples almoço. Mas já dá para conversarmos sobre política e eleições 2010", admitiu o governador. Em fevereiro e março as cúpulas das duas legendas vão se reunir formalmente com o presidente Lula. Só a partir daí, avalia Eduardo Campos, será possível ter uma visão mais clara de como será o processo eleitoral. Pelo calendário político, a partir de abril os ocupantes de cargos públicos que desejarem disputar as eleições terão que se desincompatibilizar de suas funções. "Nosso prazo é março, para que antecipar isso? As pessoas não estão pensando em eleições agora. Estão preocupadas em pagar contas, 2009 foi um ano difícil. Só em agosto, depois da Copa do Mundo, é que o assunto política começará a surgir nas rodinhas de conversa", disse Campos. Mas a tarefa de Ciro Gomes na disputa presidencial não é fácil. Apesar de ter um bom percentual de intenções de voto, o deputado do PSB tem pouco tempo de televisão na propaganda eleitoral. E o comando da campanha da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, certificou-se de que esse tempo não cresça ao negociar alianças com os demais partidos da base que poderiam ser procurados pelo PSB. O PSB estaria disposto a conversar com Lula para pedir que o PDT e o PCdoB - que já estiveram com os pessebistas no bloquinho de esquerda - apoiem a candidatura de Ciro, dando-lhe tempo de televisão e assegurando a realização de um segundo turno. "O problema é que PDT e PCdoB precisam eleger bancadas fortes. Se eles apoiarem Ciro e não Dilma, vão arcar com menos tempo de televisão do mesmo jeito", ponderou um aliado da chefe da Casa Civil. Lula nunca abandonou a ideia de lançar Ciro à disputa pelo governo de São Paulo. Mas as declarações dadas pelo presidente no fim de 2009, durante café da manhã com jornalistas, foram interpretadas pelos petistas paulistas como um recado para que o PT se mobilizasse e apresentasse um candidato próprio. Na ocasião, o presidente afirmou que o maior erro de seu partido foi nunca ter repetido o mesmo nome na disputa para o Palácio dos Bandeirantes. "Você lança alguém que começa com 5% (de intenções de voto). Esse alguém termina a eleição com 30%. Quando vai disputar a eleição seguinte, lança outro nome para começar dos mesmos 5%", reclamou o presidente. Setores do PT paulista, que sempre resistiram a Ciro, viram na declaração a possibilidade de retomar as articulações para a candidatura própria. Anunciaram que o nome ao governo estadual poderia ser o do senador Aloizio Mercadante, candidato derrotado por José Serra em 2006. Pesquisas encomendadas pelo partido apontam que ele é o nome com mais densidade eleitoral na legenda. Mas Mercadante tem repetido, até o momento, que pretende disputar a reeleição para o Senado. Continua em perspectiva, até o presidente definir-se completamente por Ciro, o deputado Antonio Palocci, candidato de um grupo majoritário do PT paulista. |
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