Tasso x Ciro/Cid: tem gente que diz que a briga no CE é prá valer

Desmancha o que parecia sólido

Fábio Campos
fabiocampos@opovo.com.br16/06/2010 

Reviravolta na política do Ceará. Deu-se o inusitado. O processo se fez dinâmico, o mercado político ganhou variedade e Cid Gomes (PSB) pode ganhar dois novos concorrentes na disputa pelo Governo. Na noite de segunda-feira, o senador Tasso Jereissati (PSDB) reuniu a base tucana de prefeitos, fez um relato dos acontecimentos e anunciou que o partido vai lançar um candidato próprio para o Governo do Ceará. Em paralelo, Lúcio Alcântara afirmou que o seu PR está disposto a lançar um candidato ao Governo, que pode ser o próprio ex-governador. Disse também que está disposto a negociar uma possível aliança com Tasso, o político que puxou seu tapete em 2006, fato que estabeleceu as condições políticas ideais para que Cid Gomes vencesse a disputa ainda no primeiro turno. O PSDB promete anunciar seu candidato na próxima segunda-feira. O limite do prazo legal estabelecido pela legislação gerou uma velocidade extraordinária na sucessão de acontecimentos. O limite legal é dia 30 de junho. São duas semanas pela frente. Cid viaja para a África do Sul. Há sinais de que Ciro Gomes assume a posição de articulador e negociador. Após três anos e meio de apoio tucano ao Governo Cid e após uma recente declaração de Tasso apoiando a reeleição de Cid, os fatos surpreendem a crônica e os agentes políticos.

OS FATOS ENCADEADOSHá um fato ainda mais relevante do que o anúncio tucano de que intenciona (o termo ainda é este) lançar candidato próprio ao Governo do Ceará. Na conversa com os prefeitos, que certamente permaneceram atônitos, o senador Tasso expôs o seu desconforto pessoal na relação com Ciro, Cid e Ivo Gomes. Desconforto de Tasso com Ciro? Isso mesmo. Após uma relação que está completa 25 anos, há muitos sinais de que a amizade não resiste a uma nova empreitada eleitoral. Atentem que não há notícias de nenhuma embaixada de Ciro junto aos tucanos. Atentem que, anteontem, Ciro já declarava que o PSDB tem o direito de lançar candidato e que a existência de uma oposição a Cid era um fato saudável para a democracia e para o processo político. Enquanto tudo isso ocorria, Ciro articulava com o PDT. Ele manteve conversas com o presidente da sigla, André Figueiredo. Ontem pela manhã, a notícia: reunida, a executiva pedetista decidiu colocar o nome de Flávio Torres na mesa de negociações para ser o candidato a vice de Cid. Ou seja, não haverá indicação do nome de Patrícia Saboya para a reeleição do Senado como estava sendo articulado pela própria senadora,
que mantinha conversas nesse sentido com Tasso. De quebra, a indicação de Torres para a vice serve para enfraquecer a ânsia petista pelo cargo. Assim, o PT se obrigará a negociar suas pretensões.

OPÇÃO PELO LULO-PETISMO?Para os prefeitos, Tasso teria dito que o grupo político de Cid “perdeu a coragem” com a visita de Lula ao Ceará. Ou seja, numa leitura livre, para Tasso, diante de possíveis argumentos de Lula, o grupo teria recuado da intenção de abrigar a candidatura do tucano para o Senado, nem que fosse informalmente. Na semana passada, Tasso teria procurado Cid. Sem sucesso. Teria procurado Ciro. Sem sucesso. A consequência é a que se evidencia agora. Para interlocutores pessoais, Tasso tem sim reclamado de Ciro. O tucano usa termos bastante fortes para qualificar a decisão de Ciro de mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo, como pediu Lula. Diante disso, a leitura que pode ser feita é a seguinte: o grupo político que comanda o Governo do Ceará estaria muito mais sintonizado com os interesses do lulo-petismo do que com o que pode proporcionar uma velha relação com o tassismo. É preciso atentar que o grupo da família Ferreira Gomes se renovou. Agora, a condução não é feita somente por Ciro Gomes. O comando é dividido com Cid e com Ivo Gomes, que publicamente tem declarado as suas reservas em relação a Tasso Jereissati.