ARTIGO
A vez das menininhas?
Durante a convenção do PRB realizada em Brasília sábado passado, Dilma Rousseff disse que pretende representar da melhor forma possível as mulheres, "a ponto de uma menininha querer se transformar em presidente do Brasil". Sua pretensão foi registrada pelo repórter Chico de Góis, em matéria publicada no dia seguinte por O Globo.
Será que quis apenas alfinetar José Serra, que deseja ser presidente desde criancinha, ou a candidata petista estaria falando sério? Já faz algum tempo que é permitido às mulheres brasileiras quererem concorrer à presidência do país. Roseana Sarney, por exemplo, teve sua candidatura abortada não por ser mulher, mas por outras coisas do jogo político.
Está bem, ainda existem reminiscências machistas no Planalto Central. Afinal, Dilma não chegou a competir, não disputou nem conquistou propriamente a convenção do PT para se candidatar pelo partido. Lula é quem determinou que era o momento propício para o lançamento de uma mulher, escolhida por ele! E estava falado.
Em resumo: quem concedeu a oportunidade, quem indicou e permitiu a candidatura da mulher que no momento está na dianteira, segundo pesquisa do Ibope, é o cara que anuncia nos quatro cantos deste Brasil que ela é ele.
Mas vamos ao assunto deste dia: as menininhas... Marina Silva teria um perfil mais adequado para alimentar o sonho de ser presidente entre as garotinhas brasileiras, cuja maioria pertence às faixas pobre e emergente da população nacional. Foi menina pobre e analfabeta dos seringais da Amazônia. Mesmo assim, de conquista em conquista, formou-se professora de História, entrou para a política e, com brilho próprio, chegou ao Senado e ainda se fez conhecer internacionalmente.
Longe de mim, negar os méritos de Dilma. Porém, para as menininhas, a história de vida da senadora que veio da floresta tem tudo para ser a mais fascinante. Até mesmo a disputa real pela presidência. Ou alguém discorda que a luta mais árdua e ousada é a da candidata verde?
Sobretudo agora, com a Dilma exibindo um visual com grife, criado especialmente para sair bem nas fotos, na tv e na internet. Dentro de um padrão de elegância convencional; adotado quase sempre por executivas de empresas e representantes de governos. Com um objetivo eleitoral alcançado: o de cativar as mulheres de classe média alta.
E as mulheres das classes populares? Ah, mesmo que se identifiquem mais com Marina, na fantasia delas, uma primeira dama deveria aparentar alguma semelhança com as "ricaças" ou as "poderosas" retratadas pela mídia. Com um detalhe. Segundo pesquisas, um dos anseios é poderem consumir cosméticos que as façam se sentir "bonitas".
Daí que com sua espontaneidade, elegância natural e estilo apreciado por uma turma bem resolvida, a candidata do PV pode assustar um pouco. Por quê? Porque o mulherio em geral poderia se sentir ameaçado por uma eventual desvalorização dos produtos de embelezamento (dos pés à cabeça). Afinal, o setor de beleza responde também por grande parte dos empregos e prestação de serviços femininos em indústrias, comércio, salões especializados, spas, clínicas, atendimento domiciliar etc.
Eu sei. O empresário Guilherme Leal, um dos donos da Natura, é o vice de Marina. Só que a maioria das mães das menininhas ainda não sabe.
Ateneia Feijó é jornalista
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