Arbítrio sarneysta de Lulla 'matou' o PT maranhense

Deteriorada, sede do partido reflete divisões internas

Valor Econômico - 22/06/2010

O diretório estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) no Maranhão fica em uma velha casa no centro da capital, São Luís. Com o telefone cortado e cheia de avarias, a sede reflete bem o atual momento vivido pelo partido no Estado. Historicamente anti-Sarney, o PT maranhense se dividiu em dois após alguns de seus membros se aproximarem do ex-presidente, em meados de 2005. Na ocasião, um punhado de petistas locais seguiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu gratidão a Sarney pelo apoio recebido durante o escândalo do mensalão. Em 2006, Lula esteve no Estado e pediu votos para Roseana Sarney (PMDB), que, mesmo assim, acabou derrotada por Jackson Lago (PDT) na disputa pelo governo local. O apoio presidencial, no entanto, rendeu frutos. Após a cassação de Jackson Lago, em abril do ano passado, o PT passou a integrar o governo de Roseana. O partido comanda hoje as secretarias de Educação, Trabalho e Ação Social. Ainda assim, no dia em que o PT nacional decidiu pelo apoio formal a Roseana, a sala principal do diretório maranhense exibia um prato vazio repousado sobre o chão, cercado de velas e bandeiras do partido. Segundo uma militante, um gesto de solidariedade aos dois companheiros - Domingos Dutra e Manoel da Conceição - que iniciaram uma greve de fome contra a decisão encerrada no fim da semana passada. O apoio a Roseana expôs ainda mais as feridas do PT maranhense. Irritados com a notícia da intervenção, militantes da ala anti-Sarney começaram a fazer ameaças em série: desfiliação em massa, apoio a Marina Silva (PV), atear fogo no palanque em que estarão Dilma Rousseff e Roseana e, até mesmo, "dar um pontapé" em Lula. No dia seguinte, mais calmos, decidiram apenas entrar na Justiça contra a decisão do Diretório Nacional e reforçar a campanha para Flávio Dino (PC do B), que fora escolhido em março durante Encontro Estadual do PT, que acabou anulado. O argumento para a ação judicial é de que a aliança com Roseana desrespeita a legislação eleitoral, já que a base de apoio da governadora contempla PTB, PV e DEM, que fazem oposição ao PT no cenário nacional. A cientista política Arleth Borges, da Universidade Federal do Maranhão, não tem dúvidas de que a aproximação com Sarney foi um divisor de águas para o PT. Porém, avalia que a intervenção do diretório nacional terá efeitos devastadores sobre a sigla. "A posição ideológica já estava rompida, mas procedimentos como este rompem com os princípios da democracia interna", avalia. O PT do Maranhão é presidido por Raimundo Monteiro, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula. Apesar do cargo, ele não costuma ir à velha casa em São Luís. Monteiro se define como um inimigo histórico dos Sarney, que por questões "maiores" será obrigado a fazer campanha para Roseana, indicar seu vice e ainda participar do governo. "O partido está muito preocupado com a eleição de Dilma. É a prioridade. A nossa avaliação é de que ter dois grupos se digladiando no Maranhão é prejudicial para ela. Não vou brigar com Lula nem com Dilma. O Maranhão não é tão importante quanto o Brasil", afirmou o dirigente.