Claudio Dantas Sequeira e Luiza Villaméa |
Isto é - 28/06/2010 |
Especialistas não preveem rupturas que possam mudar o rumo do Brasil O Brasil está na vitrine internacional. Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente brasileiro mais popular da história, o País ganhou status de global player e ostenta índices de crescimento que o credenciam como uma das principais potências da próxima década. Nesse cenário, como os três principais candidatos a suceder “o cara” são vistos lá fora? Se por um lado José Serra (PSDB) se destacou como ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso e governador de São Paulo, Dilma Rousseff (PT) é imediatamente associada à gestão de Lula, enquanto Marina Silva (PV) aparece como dona de uma coleção de prêmios internacionais, como o Champions of the Earth, o maior reconhecimento das Nações Unidas para o setor ambiental. “Os observadores estrangeiros, governos e mercados estão atentos, principalmente à Dilma e ao Serra”, afirma o historiador Timothy Power, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford, na Inglaterra. “Isso porque é a quinta eleição presidencial consecutiva polarizada entre os partidos que Dilma e Serra representam.” Entre os observadores e analistas estrangeiros há também o consenso de que o processo eleitoral de 2010 não será marcado pelo conceito de change election, uma referência à eleição na qual existe um desejo generalizado de mudança. Ao contrário do registrado nos Estados Unidos em 2008 – quando o democrata Barack Obama foi eleito contrapondo-se à gestão do conservador George W. Bush –, está claro para os especialistas que a continuidade das políticas públicas deve ser a tônica no Brasil. Por enquanto, os detalhes da trajetória e das propostas de cada candidato são familiares apenas para aqueles que acompanham de perto a América Latina e o Brasil. Nesse grupo, Serra e Dilma são os mais conhecidos, avalia o consultor americano David Rothkopf, colunista da prestigiosa publicação “Foreign Affairs” e ex-subsecretário de Comércio do governo Bill Clinton. Marina, por sua vez, é muito popular e respeitada nas instituições e nos organismos internacionais vinculados à defesa do meio ambiente. O cientista político Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American Dialogue , acredita que, embora nenhum dos três candidatos tenha um perfil particularmente alto entre as lideranças internacionais, Serra e Dilma se destacam pelo papel desempenhado nos governos Fernando Henrique e Lula. Como consequência, há a crença de que Serra tenderá a seguir o roteiro de Fernando Henrique, enquanto Dilma avançará no caminho traçado por Lula, talvez com uma pitada um pouco mais ideológica. Ela é vista como uma mulher poderosa, com um histórico de realizações no atual governo. “A questão é saber se ela será capaz de manter o cuidadoso equilíbrio da gestão de Lula, que eu chamo de ‘modelo do violino’: segura com a mão esquerda e toca com a direita”, compara Rothkopf. Pensando em reforçar a imagem de sucessora ideal de Lula, Dilma viajou a Nova York em maio, e, em meados deste mês, fez uma turnê pela Europa. Foi tratada pelo jornal francês “Le Monde” como “la dauphine”, a pupila de Lula, alguém sem experiência eleitoral, mas que tem como principal trunfo a imensa popularidade de seu mentor. A campanha internacional incluiu encontros com líderes como o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Em Portugal, Dilma suspendeu parte da agenda para comparecer ao velório do escritor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura. Seus movimentos foram acompanhados de perto pela historiadora Carmen Fonseca, do Instituto Português de Relações Internacionais. E, apesar de destacar que Dilma tem a vantagem de ser diretamente associada a Lula, Carmen lembra que todos os três candidatos são vistos como uma continuidade de um processo iniciado no governo Fernando Henrique. Na sua opinião, como a lição de casa já está feita, o próximo presidente precisará ter a capacidade de preservar esse legado. “Depois de Lula dificilmente haverá outro presidente com o seu protagonismo”, diz a historiadora. De qualquer maneira, no cenário mundial, a popularidade de um presidente é quase sempre algo inerente ao cargo. Conhecidos na América Latina e em círculos restritos dos Estados Unidos e da Europa, Lula e Fernando Henrique só ganharam envergadura internacional depois que assumiram o Palácio do Planalto. Nada disso, porém, diminui o interesse de Dilma e de Marina em investir no público externo. Recentemente, a candidata do PV foi uma das estrelas das comemorações do Dia da Terra no The National Mall, a esplanada central de Washington, nos Estados Unidos. Na ocasião, um encontro entre a presidenciável e o cineasta canadense James Cameron teve repercussão mundial. Ao contrário de suas duas concorrentes, Serra, por enquanto, não pretende cumprir uma agenda fora do País. A estratégia de Serra pode se sustentar no fato de que, diferentemente da eleição de 2002, não se esperam grandes surpresas deste pleito. Quando Lula foi eleito, os mercados tremeram. O governo logo conquistou a confiança internacional e, quase oito anos depois, não há expectativa de guinada na condução do País. A falta de surpresas também está associada a aspectos biográficos. Como lembra o cientista político brasileiro Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, na França, Lula, como operário que concorreu quatro vezes à Presidência, esgotou as novidades em termos biográficos. O que, na sua opinião, faz com que esta eleição seja “um pouco chata”. Até porque falta carisma dos candidatos. Marina Silva seria a exceção por sua luta histórica em defesa do meio ambiente. “Ela é mais interessante nesse sentido, mas é uma percepção restrita aos ecologistas”, resume Valladão. Seja quem for o próximo presidente, ao mesmo tempo que poderá herdar a projeção internacional conquistada por Lula, também arcará com o bônus e o ônus de sua política externa. Enquanto a escolha do sucessor está em fase de campanha eleitoral, o clima global é de tranquilidade em relação ao Brasil. “Na perspectiva internacional, não vai importar muito quem ganhar”, acredita Timothy Power, que acompanha a política brasileira desde 1985. O principal oponente da candidata do governo, argumenta, é sensível ao desejo de continuidade do eleitorado. E, ao contrário do ocorrido em 2002, no mercado global não há o menor indício de especulação contra nenhum candidato. Em 2010 o cenário é de confiança em relação a todos os presidenciáveis. |
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Serra, Dilma e Marina são garantia de continuidade aos olhos da comunidade internacional
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