Dilma desafia ex-policial a mostrar gravações
Assis Moreira, de Bruxelas |
Valor Econômico - 18/06/2010 |
A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, queria falar de seu encontro com o presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, ontem à noite em Bruxelas. Mas foi logo questionada sobre o que dizia o policial aposentado Onézimo Sousa no Congresso, sobre suposto pedido de seu comitê eleitoral para grampear José Serra (PSDB). "Eu sei o que ele declarou", disse, deixando claro que monitorava de longe o depoimento em Brasilia. Alegou que o jornalista Luiz Lanzetta, que teria contatado o policial, não é do PT e o que faz é responsabilidade dele. "O PT não autoriza, não contratou e não tem nenhum dos seus militantes em contato", insistiu. A candidata desafiou o policial a mostrar gravações. Reiterou que seu comitê "não fez contato com esse delegado e os documentos que, porventura, sejam colocados, se existirem, não foram produzidos por nós". Para Dilma, Lanzetta ou outros, mesmo se contratados para a campanha, "não falam e não têm autorização para falar no nosso nome". A candidata do PT recebeu um tratamento mais caloroso do presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, do que o usual. Os europeus explicaram que isso se deve ao interesse de Barroso pelo Brasil e que se outros candidatos o procurarem, terão o mesmo tratamento. Ele quebrou uma regra e apareceu para uma declaração à imprensa, na qual rasgou elogios ao Brasil, dizendo que a UE fez uma "aposta no país". E comentou os dois temas que os 27 países da UE tinham acabado de discutir, que vão na direção contrária à defendida pelo Brasil: aumento de sanções contra o Irã e a taxação global sobre os bancos. Barroso observou que a UE fez menção ao acordo feito pelo Brasil e Turquia no Irã. Sobre a taxação bancária, espera que o Brasil aceite um acordo global. Dilma respondeu que o Brasil não aceitaria sanções e nem a taxação sobre os bancos porque o setor financeiro do país não é culpado pelo estrago causado pelo setor financeiro dos países ricos. Barroso voltou a seu gabinete e Dilma deu entrevista depois de dois dias de atritos na Europa. As desinformações de sua assessoria exasperaram os jornalistas, que pediram explicações à candidata na plataforma do trem para Bruxelas. Ela argumentou que não fornecia sua agenda corretamente "por prudência" em relação à segurança pessoal. O deputado José Eduardo Cardozo completou: "É uma política do PT." Sobre a imprensa, Dilma respondeu que sua visão é de que ela "não é má ou ruim". Seu assessor de imprensa comentara antes que ela não gostava do assédio dos fotógrafos. Indagada se estava preparada para isso, como candidata à Presidência, disse o contrário das evidências: "Sim, estou com treino." Em todo caso, ela pareceu contente por ter encontrado "uns dois brasileiros" nas ruas de Paris e, em Bruxelas, ser recebida na estação por cinco petistas com um coro: "Depois do cara, a gente vota é na coroa." Em entrevista na Comissão Europeia, a candidata recusou críticas de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem dando aumentos salariais eleitoreiros. "É eleitoral? Não, não é", disse séria. "Dá impulso [à campanha]? Olha, o que ajuda a minha campanha é o fato de nós termos feito o melhor governo que esse país teve nos últimos 25 anos. Tanto fizemos que o Brasil hoje, ao contrário do que ocorre aqui na Europa, cresce a taxas elevadas. Qual é o nosso problema? É que nós estamos crescendo a uma taxa muito elevada." E continuou, quase como se tivesse repetindo um discurso treinado: "É um bom problema? É um maravilhoso problema." Previu que "nós vamos fechar o ano de 2010 gerando um total de 14 milhões de empregos". Veio de um repórter o esclarecimento de que se tratava do total de empregos entre 2003 e 2010. Dilma disse não ter medo de assumir com inflação em alta, até porque o Banco Central subiu os juros, medida que considerou correta. Reiterou que a redução progressiva dos juros virá com queda na relação dívida/PIB nos próximos anos. A candidata teve um momento de humor quando perguntada sobre se já tinha a equipe econômica na cabeça. "Olha, a gente tem que ter prudência de nunca sentar na cadeira antes da hora. Acho que dá azar. Como todo brasileiro, tenho um pouco de superstição", disse, numa referência indireta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em 1985, posou na cadeira de prefeito de São Paulo e dois dias depois perdeu a eleição para Jânio Quadros. Para ir a Bruxelas de trem, Dilma e assessores entraram na fila da primeira classe, mas o bilhete era de segunda, o que pareceu não desagradar num esquema de comunicação. Na volta, ao encontrar um repórter na plataforma, acenou feliz com sua passagem de trem: "Consegui uma de primeira classe." |
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