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O curioso caso dos irmãos Dias
Serão no mínimo curiosas as reuniões semanais de líderes do Senado a partir de maio. Dá para imaginar o nó na cabeça do presidente José Sarney (PMDB-AP) quando se sentar com dois irmãos de lados opostos – o governista Osmar Dias (PDT) e o oposicionista Alvaro Dias (PSDB). Cena estranha até para quem está há cinco décadas sem largar o osso na política nacional.
Para entender o caso, só recorrendo ao passado.
Osmar ocupa a liderança pedetista há dois anos. O partido está longe de ser uma potência, mas seus seis senadores são fundamentais para engrossar a base do governo na Casa. Mantê-los alinhados ao Palácio do Planalto é uma das garantias para evitar apuros nas votações, como queda da CPMF em 2007.
Também vale lembrar que o PDT é o partido original da candidata petista Dilma Rousseff. E que o presidente licenciado do partido, Carlos Lupi, é ministro do Tra balho. Ou seja, não há como dissociar a legenda do governo.
Do outro lado, Alvaro foi o único tucano que nunca baixou os ataques a Lula. Arthur Virgílio, o atual líder do PSDB, desgastou-se na luta para derrubar Sarney no ano passado. Envolvido ele próprio nos escândalos administrativos da Casa, foi obrigado a sair de cena aos poucos para não comprometer a reeleição no Amazonas.
De saída da função, Virgílio foi o autor da declaração mais emblemática sobre a troca de liderança dos tucanos. “É fundamental que o líder não seja candidato”, disse, na última terça-feira, após a reunião do partido que oficializou a substituição dele por Alvaro. O problema é que o colega não havia sinalizado publicamente que desistiu de concorrer ao governo do Paraná.
É bom lembrar que a decisão foi tomada um dia depois de o diretório estadual do PSDB escolher o prefeito Beto Richa como pré-candidato ao Palácio Iguaçu. A pré-convenção, segundo Alvaro, foi ilegal. Por enquanto, o senador garante à imprensa que vai disputar a convenção definitiva de junho.
Na prática, fustigar Richa é uma maneira de Alvaro fortalecer a candidatura do irmão. A questão é que não sobram alternativas a Osmar. Ele terá de formar um bloco de esquerda, amparado pelo PT, para fazer frente ao prefeito.
Nos bastidores de Brasília, é dado como garantido que Alvaro terá um papel importante na coordenação da candidatura presidencial de José Serra. O mais provável seria o comando da campanha na Região Sul. O dilema será como agir a partir disso: usando critérios familiares ou partidários.
Na briga pela pré-candidatura, Alvaro começa a trilhar um caminho de afastamento sem volta do grupo ligado a Richa. O clima ficou ainda pior por ele não ter comparecido à reunião da semana passada. Do outro lado, será difícil equilibrar as novas responsabilidades no PSDB com um possível apoio a Osmar.
Alvaro, ao que tudo indica, tende a ficar isolado. Ou melhor, optar pelo isolamento. A partir de maio, será o tucano mais lembrado de Brasília porque ganhará autonomia para malhar ainda mais o governo. Já no Paraná, o peso político deve diminuir.
Sobre o curioso caso dos irmãos Dias no Senado, o diagnóstico preciso do que irá acontecer só sairá a partir de maio. Ainda assim, o episódio vai durar pouco tempo. Sete meses depois, apenas um deles continuará na Casa.
Resta saber se o destino de Osmar será o Palácio Iguaçu ou o ostracismo.
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