Enviado por Murillo de Aragão -
18.12.2009
| 10h08m
ARTIGO
Delicado desequilíbrio
Faltam dez meses para as eleições que ocorrerão em outubro de 2010 e a política inicia sua fase de tensão pré-eleitoral, motivada pela incerteza de quem chegará ao poder.No jogo de alianças e coligações, todo e qualquer comentário mal colocado pode deflagrar reações emocionais, mágoas irreparáveis e críticas azedas.
A declaração feita por Lula de que o PMDB deveria indicar três alternativas de candidato a vice-presidente irritou a cúpula do partido.
Dilma Rousseff escolheria o nome de sua preferência para formar a chapa governista. O comentário originou uma tempestade hormonal em um quadro já delicado.
O PMDB, partido que tem a maior bancada do Senado e da Câmara, rebateu que tal procedimento deveria ter reciprocidade: uma lista tríplice de nomes do PT para encabeçar a chapa.
Uma aliança entre dois partidos com disposição para compor uma chapa presidencial não pode surgir com interferência na escolha do outro.
São as negociações de bastidores que resultam em um nome consensual.
Isso porque a política brasileira funciona em duas dimensões: uma pública, na imprensa, por vezes contaminada pela transmissão de informações e por recados que são dados; e outra reservada, das negociações de bastidores.
O político excepcional é aquele que se sai bem nas duas dimensões. Lula pode ter dito o que não deveria.
Como disse Michel Temer: “Não foi uma fala feliz”.
Ao mesmo tempo, devemos interpretar que pode ter havido uma real intenção: a de dizer que a escolha tem que ser de consenso.
Para o PT, pelo andar da caravana, Michel Temer é o predestinado, principalmente por ser o comandante do PMDB da Câmara.

Resta saber se Renan Calheiros e José Sarney estão no mesmo barco. E, ainda, se Orestes Quércia, já apalavrado com José Serra, vai apoiar Temer.
O governo precisa contornar essa situação.
É arriscado ter o presidente da Câmara na vice da chapa encabeça por Dilma e o PMDB de São Paulo apoiar o governador José Serra.
Além disso, a reeleição de Quércia à presidência do PMDB paulista transformou-se em um ato de repúdio às declarações de Lula.
Os peemedebistas ameaçaram lançar candidato próprio ao Palácio ou mesmo apoiar o candidato tucano.
Em acréscimo, existem especulações e disse-me-disse que Temer poderia ser exposto a notícias negativas.
Rapidamente, Temer mandou ofício à Polícia Federal para saber o que de real existe contra ele.
Foi uma medida acertada.
Voltando ao tema central, a relação entre o PT e o PMDB sempre viveu em um estado de delicado desequilíbrio.
Nas próximas semanas, devem ocorrer movimentos destinados a restabelecer o diálogo.
No entanto, fica a questão: como ter um vice do PMDB se o seu diretório estadual tomar outra direção? É um desafio que tem que ser resolvido quando os ânimos se acalmarem.
Os tempos de Natal podem esfriar o clima exaltado da política. Porém, o ano de 2010 chegará com outras reflexões e eventuais surpresas a serem enfrentadas.
Uma delas é o fato de que o PMDB é, sem dúvida, um parceiro atraente e com a melhor estrutura partidária disponível. O partido tem vasto tempo de televisão e a força do Congresso, apesar da visível divisão da legenda.
Por outro lado, uma dobradinha Dilma-Ciro pode ser eleitoralmente ainda mais interessante para o eleitor, por agregar um nome com sólido desempenho nas pesquisas e pelo fato de ser do Nordeste.
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O PSB tem uma imagem leve e se mistura melhor com o PT.
Cada parceria tem vantagens e desvantagens. Assim como é um casamento. E, de tal forma, deve ser muito bem pensado.
Enquanto os petistas buscam o melhor acordo para Dilma, o tempo vai passando e o ritmo das decisões deve se acelerar a partir de janeiro.
Cientista político e jornalista, Murillo de Aragão, mestre em Ciência Política e doutor em Sociologia pela UnB, é presidente da Arko Advice Pesquisas.

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