O tempo de Serra
Nas Entrelinhas | ||||
Autor(es): Por Denise Rothenburg | ||||
Correio Braziliense - 27/12/2009 | ||||
Ninguém do PSDB tem condições de concorrer em pé de igualdade com essa exposição de Dilma. Se o governador sair de São Paulo todos os fins de semana, será acusado de campanha antecipada. Muito tem se falado sobre as dificuldades do governador de São Paulo, José Serra, em assumir de bate-pronto uma candidatura à Presidência da República. A cobrança — feita por setores do PSDB e, registre-se, muito mais de seus adversários do que de qualquer aliado — soa, no entanto, como uma armadilha sem precedentes, que pode inclusive levar a uma ação na Justiça por propaganda antecipada. Hoje, o PSDB não tem dúvidas de que com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, dedicado a resolver os problemas mineiros, o nome para concorrer à Presidência é Serra. Aécio, por sinal, saiu do páreo porque tinha essa certeza. Serra, além da dianteira nas pesquisas de intenção de voto, tem se dedicado a uma intensa articulação nos bastidores, no sentido de preparar terreno para quando chegar a hora de deixar o Palácio dos Bandeirantes e se declarar candidato. Tem conversado com correntes dos mais variados partidos. Da mesma forma silenciosa com que tem trabalhado a candidatura presidencial, tem acertado a vida dos tucanos paulistas. Alguns auxiliares do governador e mesmo integrantes da direção nacional do partido consideram praticamente fechado o nome de Geraldo Alckmin como candidato ao governo paulista. Pragmático, Serra, ainda que tenha mais afinidades com o seu secretário de governo, Aloysio Nunes Ferreira, não pretende deixar esse campo desarrumado, colocando no seu quintal um candidato que, embora tenha todas as qualidades para governar, não seja o que tem mais chances de vitória. Se tudo está tão resolvido, então, perguntam muitos, por que Serra não sai logo da toca? A resposta a essa pergunta é mais simples do que se imagina: Porque não chegou a hora. Nos últimos meses, eleitores de todos os estados foram brindados com a presença constante do presidente Lula levando a tiracolo a sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nas mais diversas oportunidades, o presidente se refere à sua ministra como a mulher que coordena os programas de governo e torna as coisas possíveis. Nas mais variadas vezes, a solenidade tem cara de campanha mesmo. Até o momento, ninguém reclamou das viagens de Dilma. Como ministra da Casa Civil, ela está em todas, e o governo torce o nariz para quem critica a sua presença nos palanques. Ela aparece fiscalizando obra, lançando pedra fundamental, inaugurando casas do Minha Casa, minha Dil… digo, Minha Vida. E dê-lhe chapéu de mestre de obras, sorrisos, discursos em quase todas as solenidades. Ela é ministra, está no seu papel de executiva do governo e ponto. Se isso render alguns pontinhos a mais nas pesquisas, dizem os governistas, não é nada proposital. É apenas resultado do trabalho. O PSDB não tem como fazer o mesmo. Suas estrelas não podem sair pelo país inaugurando obras, vacinando criancinhas, entregando casas. Ninguém tem condições de concorrer em pé de igualdade com essa exposição de Dilma. Se José Serra sair de São Paulo todos os fins de semana ou montar um quartel-general no Nordeste no mês que vem, será acusado de campanha antecipada, de colocar o carro na frente dos bois. Por isso, que ninguém espere um movimento brusco de Serra neste fim de ano, ou em janeiro, quando grande parte dos brasileiros está curtindo as férias de verão, ou ganhando dinheiro com os turistas que lotam nossas belas praias. Ele só fará qualquer movimento mais incisivo depois do carnaval, quando, reza a lenda, começa o ano no Brasil. O PSDB calcula que, lá por março, é que seu pré-candidato terá mais chances de tentar concorrer em pé de igualdade. Pelo menos, assim esperam os tucanos, já que a possibilidade de o governo usar a sua máquina em favor da sua candidata é enorme. Um exemplo desse uso foi o Natal de Lula com os catadores de papel, em São Paulo. Os tucanos ficaram pasmos com o fato de o presidente dizer que poderia fazer promessas, dependendo de quem estivesse ao seu lado, no ano que vem, no papel de presidente eleito. Não faltou quem lembrasse que Fernando Henrique Cardoso não usou o cargo em favor de José Serra na época da campanha — registre-se, não tinham nem uma popularidade tão alta para isso. Mas o fato é que, tudo que é demais, diz o ditado, é sobra. Se continuar nesse ritmo, é bem capaz de Lula saturar a imagem de Dilma antes que o eleitor acorde para a proximidade do pleito. |
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