PSDB sonha com um projeto de poder para 16 anos
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O PSDB vai à sucessão de 2010 com os olhos voltados para 2026. O partido rumina em segredo um projeto de poder longevo. Coisa para os próximos 16 anos.
Entre 2011 e 2018, dois mandatos de quatro anos para José Serra. Daí em diante, mais oito anos de Aécio Neves.
Para reforçar as chances de êxito do primeiro passo, a eleição de Serra em 2010, o partido vai intesificar no início do ano a pressão sobre Aécio.
Deseja-se convencê-lo a aceitar a posição de vice na chapa tucana. Martela-se a tecla de que uma dobradinha Serra-Aécio seria “imbatível”.
Por quê? São Paulo e Minas, Estados em que Serra e Aécio estão bem postos nas pesquisas, reúnem 30% do eleitorado brasileiro.
Imagina-se que, juntos, os dois governadores amealhariam nos dois maiores colégios eleitorais do país uma quantidade de votos que faria a diferença.
Abririam uma vantagem difícil de ser revertida pela rival Dilma Rousseff, mesmo escorada na popularidade lunar de Lula.
Para quebrar as resistências de Aécio, planeja-se convertê-lo num vice inusual. Em vez do ócio, espécie de mãe de todos os vices, o compartilhamento do poder.
Estratégia urdida com a participação de FHC, presidente de honra do PSDB, prevê contemplar Aécio com o controle de nacos da Esplanada.
Noves fora a área econômica, da qual Serra não abre mão, admite-se confiar a Aécio o domínio de ministérios à sua escolha.
Em mensagem levada à web, Aécio insinuou que abandonou a condição de presidenciável, mas não abdicou da pretensão de chegar ao Planalto.
Na peça, ele agradece o apoio recebido dos internautas à sua pregação em torno da “idéia de um país novo, de um projeto novo”.
Afirma que o trabalho está “apenas começando”. Repisa o “novo projeto”. E arremata: “Eu acho que o Brasil ainda vai vivê-lo” (asssista abaixo).
No esforço para seduzir Aécio à vice, um pedaço do tucanato cogitou a idéia de celebrar um compromisso entre suas duas estrelas.
Eleito, Serra governaria por quatro anos. Depois, abriria mão de disputar a reeleição em favor de Aécio.
O grupo de Serra torce o nariz para a fórmula. Evoluiu-se, então, para a equação dos 16 anos –oito para cada um. Com Aécio de vice no primeiro ciclo.
É um tipo de plano cujo êxito depende da boa vontade dos fatos, irritantemente imprevisíveis e arredios.
O último tucano a vocalizar algo parecido foi Sérgio Mota, o ex-ministro das Comunicações de FHC.
Associado à imagem de um trator, Serjão previra, nas pegadas do Plano Real, que o PSDB ficaria no poder por 20 anos.
Morreu antes de testemunhar a conspiração dos fatos. Eleito na sucessão de 2002, Lula interrompeu o sonho quando eram decorridos oito anos de presidência tucana.
De resto, para ficar de pé, o devaneio do PSDB terá de saltar pelo menos seis obstáculos que o separam de 2027:
1. Serra teria de seduzir Aécio para o seu projeto. A julgar pelo que anda dizendo o governador de Minas em privado, é algo complicado
2. Depois, Serra teria de prevalecer sobre Dilma nas urnas de 2010. Impossível? Não. Fácil? Tampouco.
3. Eleito, o governador de São Paulo teria de realizar um governo tão bom que o credenciasse à reeleição. Coisa que nenhuma bola de cristal é capaz de assegurar.
4. Na hipótese de Lula retornar à cena em 2014, uma eventual recandidatura de Serra teria de provar-se capaz de bater o ex-presidente mais popular da história.
5. Se conseguisse impor uma surra ao mito, Serra teria de vencer um fenômeno aeronáutico que costuma assediar os governos longevos: a fadiga do material.
6. Entregando a bola redonda para Aécio, seu futuro suposto vice precisaria ultrapassar todas as etapas anteriores:
...Prevalecer sobre o rival da época, fazer boa administração, livrar-se da urucubaca aeronáutica e reeleger-se.
Em resumo: Na política, como em qualquer outra atividade, o problema de quem planeja o futuro é que não dá para prever o projeto que o futuro traça para aqueles que se aventuram a planejá-lo.
Escrito por Josias de Souza às 04h34
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