Quinta-feira, Dezembro 24, 2009
Dora Kramer -Fator de risco
O Estado de S. Paulo - 24/12/2009 |
Há um grupo de pessoas influentes que circulam na indústria, no comércio, no mercado financeiro, o mundo chamado genericamente de "negócios", muitas delas integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Umas por um tempo, outras durante todo o tempo. Nem todas mantiveram com José Serra uma relação amistosa, até porque algumas eram alvos da crítica permanente por parte do então Ministro do Planejamento e depois da Saúde. Entre elas vigora um pensamento: José Serra é um homem público de preparo inequívoco para presidir a República e, a despeito das divergências, preferem vê-lo eleito à continuidade por intermédio de Dilma Rousseff. Aqui, até mais por razões de ordem institucional, a fim de que a alternância preserve a diversidade partidária impondo obstáculos a projetos de hegemonia que asfixia o exercício do contraditório, reduz os espaços de oposição e consolida Lula como o líder carismático catalisador da política mesmo formalmente fora do poder. Não concordam com a declaração do presidente Luiz Inácio da Silva de que a ministra Dilma representa a garantia da estabilidade na economia. Está fresco ainda na memória aquele momento em 2005 em que a chefe da Casa Civil "detonou" a proposta de se estabelecer em lei um limite para os gastos públicos. Dentro do governo, além do ministro Antonio Palocci e da equipe da Fazenda, considerada de qualidade superior à atual, a sugestão contava com o apoio de Paulo Bernardo (Planejamento) e, segundo consta, com a simpatia - depois não confirmada - do presidente Lula. De fora, ex-comandantes da Economia como Delfim Netto, Pedro Malan e Maílson da Nóbrega também deram seu aval. Dilma explodiu a iniciativa qualificada por ela de "rudimentar". É um fato citado para acentuar as preocupações com a estabilidade frente à despreocupação com o aumento dos gastos públicos. Muito bem. Apesar de tudo isso, esse grupo de pessoas influentes acha que Serra em algum momento, de preferência sem demora, deve se pronunciar sobre suas ideias na área. Admite que o governador resista e até aceita a alegação de que suas posições são muito bem conhecidas por quem transita por esse lado da vida. Apoia a estratégia do governador paulista de não assumir desde já a candidatura, diz que ele está fazendo (pela primeira vez) tudo certo na política. Mas enxerga um nó na economia, um setor em que o silêncio só favorece o adversário. No caso, o governo que pela voz do presidente da República explora e tenta ampliar a real desconfiança que existe em relação às posições de Serra. Tido como intervencionista. Mas Lula não vai por aí, até porque o discurso da candidata oficial é assumidamente estatizante. Ele envereda pelo rumo do risco à estabilidade do País que representaria outro candidato que não o do atual governo. Procura carimbar o oponente como um fator de instabilidade. Na realidade fria, uma ironia, já que foi no governo anterior que se instituiu o Plano Real, a noção de estabilidade da moeda, o fim da inflação e o conceito de responsabilidade fiscal. O PT bateu-se contra essa política, só a adotou quando percebeu que era o caminho para ganhar a eleição e com ela prosseguiu porque sem ela não estaria até hoje no governo. |
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