Presidente do Banco Central diz que temor de mudança na política econômica causa incerteza
Publicada em 19/12/2009 às 18h18m
Patrícia Duarte e Sergio FadulPara ele, o principal fator de tensão e preocupação no horizonte em 2010 não será externo, como nos últimos 15 meses, mas exatamente as eleições que se aproximam. Os temores de mudanças nos rumos da política econômica provocarão incertezas, diz.
Para Meirelles, no entanto, são remotas as chances de o país viver um novo 2002, quando Lula foi eleito para o primeiro mandato presidencial e o país mergulhou numa crise. O Brasil está mais sólido, mas diante da inquietação que está por vir com as eleições, avisa que o BC não hesitará e dispõe de um arsenal pesado para combater distorções. O presidente do BC deixa ainda transparecer viver um dilema pessoal entre retomar a carreira política ou continuar à frente do BC até o fim de 2010.
O GLOBO - Estamos terminando 2009 melhor do que se projetava no início do ano?
HENRIQUE MEIRELLES: Acho que a melhor definição é dentro do que se trabalhou para que fosse. De fato, o Brasil está terminando o ano muito bem, com desempenho da economia excepcional. O Brasil tem perspectiva de crescimento sustentado em 2010, o mercado prevê mais de 5%. É um crescimento saudável, porque é baseado no crescimento do emprego, da renda, do crédito e dos investimentos.
O resultado do PIB no terceiro trimestre (com crescimento de 1,3%, abaixo dos 2% esperados pelo mercado) jogou água fria nas expectativas?
MEIRELLES:Existem dois pontos. Primeiro: não há dúvida de que jogou uma certa água fria na euforia, na exuberância, mais ou menos na linha que vínhamos alertando há bastante tempo. Não é aquele clima de incêndio que se estava esperando. Por outro lado, a composição desse PIB é muito saudável. Temos um crescimento dos investimentos de cerca de 30% anualizados, da indústria perto de 10%. Do lado da demanda, tem o consumo das famílias, sustentado por fatores sólidos: emprego, renda e crédito. Não é o que vemos em alguns países com estímulos do Estado. Isso dá uma base para bastante otimismo em 2010.
O senhor prevê que o risco de termos distorções profundas nos indicadores econômicos como nas eleições de 2002 de novo é menor?
MEIRELLES:É muito baixo. Vamos devagar. Estamos falando de duas coisas diferentes. O risco de termos 2002 é remoto, para não dizer que não existe. Banqueiro central nunca diz que não existe risco. É remoto porque o Brasil tem reservas internacionais de US$ 240 bilhões, estará recebendo mais de US$ 40 bilhões em investimentos externos durante 2010, o Brasil está crescendo, a inflação está na meta, a dívida pública está próxima a 40% do PIB, não há dívida dolarizada, o Tesouro Nacional é credor internacional. Então é uma situação estrutural completamente diferente daquela época. Por outro lado, o que se coloca de preocupação não é isso, de ter uma crise em 2010. A preocupação é se poderia ou não haver, dependendo de quem seria o próximo presidente, uma mudança de política econômica. O que eu digo no mundo inteiro é que acho que não há espaço hoje na sociedade brasileira para mudança de política econômica em virtude dos ganhos trazidos pela estabilidade.
Entre as alternativas que se apresentam, como disputar o governo de Goiás ou ser vice-presidente na chapa da ministra Dilma Rousseff, qual lhe agrada mais?
MEIRELLES: Existem várias alternativas na vida pública, como deputado estadual, deputado federal, senador, vice-governador, governador, vice-presidente (rindo). Não tenho pretensões, hoje, a nenhum desses cargos. Isso que eu digo é sério. Estou dedicado ao BC até a segunda quinzena de março, quando tomarei uma decisão. Se buscarei uma via eleitoral ou não. Se não, está resolvido, fico no BC até dezembro de 2010. Se decidir buscar a via eleitoral, terei dois, três meses para analisar. Só aí, faria as conversas, as articulações.
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