Enviado por Ricardo Noblat - 16.10.2009
|12h09m
Volta no tempo (Editorial de O Globo)
Ernesto Geisel era um general de pulso forte. Nascera para a política no movimento tenentista da década de 20 do século passado, participara da era Getúlio, durante a qual servira ao governo de intervenção na Paraíba, e estivera com Castello Branco em 1964.
Ao lado dele caiu no ostracismo quando os “castelistas” perderam o enfrentamento com a “linha dura” do regime. Mas daria o troco na década de 70, como presidente, ao vencer os “porões” e aplainar o terreno para a redemocratização.
Fez a abertura porque era tão ou mais autoritário e centralizador que todos, numa dessas contradições da História.
E, com toda essa linhagem, Geisel é admirado por petistas. Em abril do ano passado, o presidente Lula, na cerimônia do 35 aniversário da Embrapa, elogiou Geisel, e até mesmo Médici — quando a violência na repressão política chegou ao auge.
Motivo: criaram a estatal de pesquisa e construíram Itaipu. Grandes obras públicas e estatais fazem parte do imaginário da esquerda de longa data. Mesmo que tenham sido obra de radicais inimigos.
Em 2001, José Dirceu — então presidente licenciado do PT e a um ano de ajudar a conduzir a campanha vitoriosa de Lula —, numa palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), também não poupou elogios a Geisel, devido à consolidação da industrialização e montagem de uma indústria de máquinas e equipamentos.
Ter sido obrigado a exilar-se em Cuba em nada afetou a opinião de Dirceu.
Pois é o resgate desse entendimento geiseliano do que é poder, governo e Brasil que fica cada vez mais presente no governo Lula, neste segundo mandato.
A ingerência numa empresa privada, a Vale, para forçá-la a fazer investimentos como se estatal ainda fosse, deriva dessa ideologia. As críticas quando a Embraer, outra ex-estatal, afastou funcionários no estouro da crise mundial, são também um cacoete de mesma origem.
Os traços de um projeto estatista ao gosto de Geisel, e de parte dos militares daqueles tempos, estão, também, na proposta de exploração do pré-sal pelo sistema de partilha, com a Petrobras tendo o monopólio da operação nas áreas e um terço dos consórcios.
O governo, tomado por uma visão nacionalista que sempre uniu direita e esquerda no Brasil pós-1930, expõe a Petrobras a um risco financeiro que já seria elevado para a Exxon, tudo com o objetivo de centralizar recursos e poder nas mãos do Estado, a fim de permitir a reedição de um programa de substituição de importações, agora de equipamentos e serviços na área de petróleo — como o governo Geisel fez em insumos básicos e bens de capital.
Há, porém, duas importantes diferenças históricas: as economias brasileira e mundial estão em outro estágio, mais globalizadas e interdependentes.
E Geisel teve quase durante todo o tempo de governo o AI-5 no coldre, ao alcance da mão. Era fácil ser autoritário e exercitar um planejamento no estilo soviético.
Cabe lembrar, ainda, que o país saiu daquele período quebrado e com a inflação em alta.

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