O MANIFESTO DAS BESTAS CÚBICAS
segunda-feira, 26 de outubro de 2009 | 3:49 Reinaldo AzevedoTodos sabemos o que é uma besta quadrada, não? Não tenho certeza nem pesquisei, mas creio que a expressão seja uma derivação de “besta elevada ao quadrado”. Seria, assim, uma besta multiplicada por si mesma, incapaz de sair de seu próprio mundo de ignorância e irrelevância, dona daquela burrice que mais apela à nossa piedade do que à nossa fúria. Quem não conhece uma “besta quadrada”? É, confesso, um dos meus xingamentos prediletos se quero dizer que o sujeito é uma… besta quadrada!
Mas “besta quadrada” é o homem comum, aquele sem o apuro acadêmico, que não ambiciona a profundidade, que não pretende se fazer reconhecer por seus dotes de pensamento, que se satisfaz só com o eventual domínio de seu quintal. Há um outro tipo de besta, que vou batizar aqui: é a BESTA CÚBICA. A besta cúbica pretende ter profundidade, densidade, volume. Ambiciona ter uma visão tridimensional do mundo e se quer realmente apta a ensinar e a transmitir o seu legado moral. Boa parte dos nossos ditos “intelectuais” está nessa categoria. São as bestas diplomadas — algumas delas não chegam a ter diploma, mas gozam do prestígio de celebridades de esquerda.
Pois bem… Uma tropa de bestas cúbicas assinou, como noticiei aqui, um “Manifesto” contra a CPI do MST. Não é a primeira vez que isso acontece. Na tentativa anterior de instalar a comissão, também houve um protesto organizado — aquele que contou até com a anuência da sambista Beth Carvalho. Desta vez, Beth não está, mas Emir Sader, por exemplo, sim. Isso só quer dizer que a tese do documento continua imoral, mas o samba conseguiu piorar.
O Brasil tem PCC, Comando Vermelho e Amigos dos Amigos entre as organizações mais famosas. Já pode fundar o Primeiro Comando dos Intelectuais. A universidade brasileira, com as exceções de praxe, é um verdadeiro Complexo do Alemão da ideologia. Isto: fazendo um trocadilho para quem é do ramo: essa gente já pode escrever a sua própria versão de “A Ideologia Alemã”. “A Ideologia Alemã”, na versão brasileira, explica por que a polícia não pode subir no Complexo do Alemão e por que, vejam só, o Congresso está proibido de investigar a destinação do dinheiro público que é repassado ao MST.
Assinam a lista alguns “suspeitos de sempre”, como diria Louis, o policial de Casablanca que conhecia bem os vagabundos da cidade — ele próprio, diga-se, não era flor que se cheirasse. Manifesto de esquerda que não conte com a assinatura de Antonio Candido, por exemplo, não tem validade, não é? Ele endossará o que aparecer. Sader, de quem já falei, idem. Paulo Arantes, que já sonhou ter seu próprio morro intelectual nos tempos em que FHC era presidente, desistiu e resolveu aderir à tradição do Complexo do Alemão. Chico de Oliveira continua a delirar com o socialismo, agora no PSOL, cuidando de uma “comunidade” do lado de lá da ponte… Mas se é para tentar impedir que o Congresso exerça uma PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL, eles todos se juntam. Eles todos se colocam numa trincheira no Complexo do Alemão mental e se armam de imposturas até os dentes.
Alguns “intelectuais” de outros países também assinam o manifesto, como o inimputável Eduardo Galeano, autor da obra mais cretina escrita no século passado: “As Veias Abertas da América Latina”. Mas até aí, vá lá. Comovido mesmo eu fiquei quando vi a assinatura da cubana Isabel Monal, tida como uma — segurem-se na cadeira — “renovadora do marxismo”. Alguém que se propõe a renovar o marxismo em Cuba mereceria o hospício não fosse uma vigarista.
Esta senhora nada mais é do que parte do apparatchik castrista, apoiadora e apologista de uma das ditaduras mais assassinas da história. Isabel Monal — e, por conseqüência, todos aqueles que assinam com ela o manifesto — apóia um regime que impede uma blogueira de deixar o país, a exemplo do que acontece com Yoani Sanchez, mas quer impedir um dos Poderes da República, numa democracia, de exercer a sua prerrogativa.
Não que o manifesto não fale por si mesmo, trazendo entre os signatários o humorista Luis Fernando Verissimo. Este rapaz se autodefiniu numa palestra que conferiu na Festa Literária Internacional de Paraty, em 2005 — eu já o tinha bem definido muito antes, mas ali ele se entregou. Havia acabado de estourar o escândalo dos dólares na cueca. Indagado pelo público sobre seu apoio ao PT, Verissimo disse que se sentia muito mal — claro, claro —, mas se declarou impossibilitado de atacar o partido que tanto defendera. Então, disse, a sua decisão era não mais escrever sobre política em suas colunas. É ou não é um humorista?
Ah, sim: há gente por ali anônima até entre seus pares, cuja produção é desconhecida até no Complexo do Alemão Acadêmico. É que, desta feita, não quiseram sambistas entre os signatários. Talvez seja por isso que o Chico Buarque ainda não assinou. Também notei a falta da Tati Quebra-Barraco da filosofia: Marilena Chaui. Mas ela ainda assina. E, dada a sua virada ideológica, manifesto de intelectuais de esquerda sem Gabriel Chalita não vale.
O tal manifesto traz uma mentira após outra, mas seu trecho mais significativo é certamente este:
Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça. Trata-se de uma grande área chamada Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares. Desses 30 mil hectares, 10 mil são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil são terras improdutivas. Ao mesmo tempo, não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.
Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça. Trata-se de uma grande área chamada Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares. Desses 30 mil hectares, 10 mil são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil são terras improdutivas. Ao mesmo tempo, não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.
O stalinismo é assim: mentiroso, vigarista, delinqüente. A informação não foi omitida coisa nenhuma. Ao contrário: deu-se grande destaque à questão judicial. A titularidade é contestada pelo Incra NA Justiça -não “pela Justiça”. O que dizer de um grupo de ditos intelectuais que nega o que todos viram? O MST depredou a fazenda. É questão de fato, não de gosto.
Chamem FB, refugiado lá no outro Complexo do Alemão, para assinar o manifesto. Ele é bandido do tipo assumido e, ao menos, corre riscos.
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