Tática de Lula para Meirelles

| Tiago Pariz | ||||||||||||||||
| Correio Braziliense - 12/03/2010 | ||||||||||||||||
Presidente e cúpula do PMDB terão reuniões semanais para discutir a aliança em torno de Dilma. Nos planos do Planalto, emplacar o presidente do BC como vice
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PMDB acertaram reuniões semanais para negociar a aliança eleitoral em torno da pré-candidata do PT, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Elaborada sob pretexto de resolver impasses regionais entre as duas legendas, a ideia é Lula usar esses encontros para, pouco a pouco, minar a resistência dos peemedebistas ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como vice na chapa presidencial. Lula gostaria de ter Meirelles, recém-filiado ao PMDB, na chapa para reforçar a imagem de que não haverá mudanças na política econômica. Mais do que isso, o presidente do Banco Central — fiador do atual tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superavit fiscal — seria a ponte da campanha com os investidores e daria o recado de que propostas heterodoxas não teriam fôlego caso Dilma fosse vitoriosa. Aliado ao movimento pró-Meirelles há uma desconfiança de Lula com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), hoje apontado como unanimidade entre os peemedebistas para ser vice da pré-candidata petista (veja ao lado). Oposicionista durante todo o primeiro mandato do petista, Temer é visto como um político próximo ao PSDB — leia-se: do governador de São Paulo, José Serra, virtual candidato dos tucanos à Presidência da República O movimento será feito com cautela. Os peemedebistas ameaçam dizendo que, se Lula tentar impor um vice, o acordo será desfeito. Por isso, a estratégia é tentar convencê-los aos poucos de que o perfil do banqueiro Meirelles é melhor do que o do promotor Temer, uma alusão às suas carreiras de origem. Significa que Lula e Dilma não terão pressa para resolver quem será o vice. Ambos trabalharão com o prazo para encontrar a “solução” em junho. “Se a Dilma continuar crescendo, o PMDB perde a capacidade de negociar e eles vão ver que não valem o tanto que imaginam”, disse um petista. “E o Lula tem a habilidade de negociar e acabar, no fim, impondo o que ele quer”, acrescentou. Blefe O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, elogiou Meirelles como vice, mas ressaltou que a decisão é do PMDB. “Com certeza é um bom nome, mas não sei se agregaria mais ou não. É difícil dar um palpite. Quem decide é o PMDB”, afirmou o ministro, no Rio de Janeiro. O presidente do Banco Central decidiu deixar o cargo na autoridade monetária para buscar seu lugar na eleição. Ele anunciará a saída dois dias antes do prazo final da desincompatibilização (2 de abril). Na prática, seu último dia à frente da instituição será no próximo dia 22, quando entrará de licença. Bernardo disse que Meirelles (1)descartou disputar o governo ou o Senado por Goiás. “Ele não vai concorrer ao governo de Goiás e já me disse que não vai ser candidato ao Senado. Mas pode ser que, eventualmente, saia candidato a alguma coisa”, afirmou o ministro do Planejamento, acrescentando que, pelo menos oficialmente, a intenção de Lula é mantê-lo no Banco Central até 31 de dezembro. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também enfatizou que a intenção do presidente é que Meirelles não saia do governo. Uma reunião para decidir o futuro político do neo-peemedebista ainda será marcada, segundo Padilha. Ao que tudo indica, não passa do roteiro formal para negar o acerto entre Lula e Meirelles e não azedar as conversas com os peemedebistas. A reunião de ontem teve a presença de Temer, do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado. Os peemedebistas aproveitaram para apresentar demandas. O partido cobrou do presidente Lula que não substitua por técnicos os peemedebistas que ocupam ministérios e sairão do governo em abril para se dedicar às eleições. Segundo Jucá, Lula teria assegurado que o partido continuará comandando Agricultura, Defesa, Comunicações, Minas e Energia, Integração Nacional e Saúde. 1 - Inquérito no STF O presidente do Banco Central emitiu nota ontem para informar que não cometeu irregularidade e viu com serenidade o pedido do Ministério Público para abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal. O MP indiciou Meirelles por crimes contra a ordem tributária. “O patrimônio formado durante sua vida profissional foi resultado de árduo trabalho, com todos os seus rendimentos e bens declarados aos órgãos competentes, na forma da legislação”, consta da nota divulgada pela assessoria. Goianos mobilizados Denise Rothenburg
O PMDB deflagrou um movimento para tentar segurar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em Goiás. O objetivo é evitar que ele comprometa a intenção dos deputados de fazer do presidente do PMDB, deputado Michel Temer, candidato a vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ontem, por exemplo, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), foi até Goiânia pela manhã conversar com o prefeito Íris Rezende, para se certificar de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será mesmo candidato ao Senado. “O candidato único do PMDB para compor a chapa presidencial é Michel Temer”, disse Henrique Alves ao Correio, pouco antes de embarcar de Goiânia para Brasília, onde pegaria o voo para Natal (RN). “Este é assunto vencido”, completou, com um recado direto ao PT: “Petista fala da cabeça de chapa. E a vice, que cabe ao PMDB, quem fala a respeito são os peemedebistas”, respondeu o líder, quando perguntado como ele reagiria se o presidente Lula ou o PT pedisse para que o PMDB indicasse Meirelles. Os peemedebistas insistem que, embora Dilma Rousseff esteja crescendo nas pesquisas, não dá para os petistas quererem impor ao PMDB quem deve ser o vice. Os caciques do partido de Temer insinuam que a aliança ainda não é “líquida e certa”. Argumentam que seria preciso ter alguém capaz de lastrear votos numa convenção e dar ao PMDB a certeza de que os interesses da legenda seriam preservados. E hoje, segundo eles, o nome que mais agregaria votos dentro da convenção seria o de Temer. “O nome do vice não está mais em pauta para o PMDB, é Michel”, repetiu Alves. Fantasma Apesar das declarações do líder, houve estremecimento nessa solidez. Além do fantasma de Meirelles ressurgir com força, o presidente da Câmara desagradou o Planalto ao incluir na pauta da Casa uma série de projetos que não eram do agrado do governo, como a PEC da jornada de 40 horas e os aumentos dos bombeiros, que terminaram aprovados em primeiro turno e só saíram de pauta porque o líder do governo, Cândido Vaccarezza, chegou com a proposta de não votar mais as Propostas de Emendas Constituicionais (PECs) este semestre para não tumultuar o clima na Casa. Além disso, a bancada do PMDB do Rio, fiadora da eleição de Temer na Câmara, não gostou da forma como o presidente da Casa conduziu a sessão da noite de quarta-feira, onde o governo, e por tabela os cariocas, foram derrotado na distribuição dos royalties do petróleo. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) considerou que se o presidente quisesse, poderia ter evitado a aprovação da emenda que distribui os royalties a todos os estados, tirando R$ 7 bilhões do Rio. Cunha afirmou para quem quisesse ouvir que estava com saudades de Arlindo Chinaglia (PT-SP), que antecedeu Temer na Presidência. Pelo visto, o fantasma de Meirelles começa a se materializar mais do que imaginava Temer há 15 dias. Cara a cara
Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado “Henrique Meirelles de vice é matéria vencida para nós. O Meirelles é um candidato forte a governador ou senador por Goiás. Essa matéria já está bem explicitada.”
Paulo Bernardo (PT), ministro do Planejamento “Meirelles não vai concorrer ao governo de Goiás e já me disse que não sai candidato ao Senado. É um bom nome para vice, mas é difícil ficar dando palpite porque quem decide é o PMDB”. | ||||||||||||||||





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