26/02/2010 20:16:38
Mauricio DiasLula e Aécio fazem um debate político mais sutil, à margem da artilharia pesada disparada por atores coadjuvantes da pré-campanha presidencial. No caso dessa disputa, a imagem surrada de peças se movendo em um tabuleiro de xadrez cai como luva. Vejamos.
Em mais de uma ocasião, entre 2007 e 2008, o presidente da República provocou o governador de Minas Gerais. Sugeriu a ele que abandonasse o PSDB e se filiasse ao PMDB, para viabilizar-se como candidato à sucessão presidencial de 2010. A última vez que falaram sobre isso foi em Belo Horizonte, na sala de estar do Palácio das Mangabeiras.
Aécio recusou, embora em alguns momentos tenha chegado a pensar na hipótese. Esbarrou em vários obstáculos. Um deles é a instabilidade do PMDB mineiro, que ainda sofre, ou sofria, na ocasião, uma influência considerável do ex-governador Newton Cardoso.
Mas será que Lula pretendia mesmo criar uma cobra que pudesse picá-lo? Claro que não. Ao contrário. O metalúrgico-enxadrista tentava plantar um aliado no terreiro do PMDB, parceiro inevitável da campanha de 2010. A chapa Dilma e Aécio não seria insuperável eleitoralmente?
Foi um lance não concluído, mas de preparação espetacular. Posteriormente, o presidente sacou da manga o nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, hoje filiado ao PMDB. Meirelles é uma peça a mais nesse tabuleiro. Aécio preferiu arriscar-se como aspirante a candidato no próprio ninho tucano. Perdeu. O risco, no entanto, era calculado. Para onde se deslocará o eixo de poder no PSDB se o governador Serra candidatar-se e for derrotado? O comando da oposição cairá nas mãos de Aécio e ele se firmará como alternativa insuperável para a eleição de 2014. A idade permite a ele mover-se com mais tempo.
Um adendo ao parágrafo acima: Aécio ainda pode ser procurado no sítio da família em Cláudio, para onde, às vezes, retira-se para descansos. O avô dele, Tancredo, também saía da cena política e ia para lá. Essa pequena cidade no Oeste de Minas é conhecida como a "cidade dos apelidos". Ela própria talvez venha a ser chamada de Colombey-les-Deux-Églises, onde os franceses foram pedir a Charles De Gaulle para voltar e salvar a pátria. Os tucanos irão atrás dele para salvar o PSDB? Aécio Neves já fez pilhéria com essa metáfora política.
Mas ele também poderá voltar à disputa presidencial como vice de Serra? O governador mineiro teria, sem dúvida, muitas chances de aumentar a possibilidade de vitória do governador paulista.
Por receio desse movimento de Aécio, o presidente Lula fez um lance arriscado, surpreendente e, mais uma vez, brilhante. Fez uma mexida inesperada com uma peça não prevista. Lançou o vice-presidente José Alencar como alternativa para disputar o governo de Minas. O nome emblemático de Alencar deve ter abalado o governador, que tem a tarefa de garantir, com a enorme popularidade que tem no estado, a eleição do vice-governador dele, Antonio Anastasia. A partida não terminou. Mas também nem todos os lances desse jogo terão sequência imediata. O resultado da partida, para Lula e Aécio, transcende 2010.
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