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Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo
ALÔ, SERRA E AÉCIO: OU É UNIÃO OU É ESMAGAMENTO
sábado, 5 de dezembro de 2009 | 6:47Eu sei que não sou do tipo que torna tudo mais fácil, aquele que leva o leitor ao conforto “Ah, agora entendi tudo; ainda bem que existe um explicador…” Ao contrário: eu não estou aqui para dizer que as coisas são mais simples do que parecem. Estou para dizer que elas são mais complicadas do que parecem. Em vez de quebrar o todo em miudezas, faço a operação inversa: pego as miudezas e aponto o que elas têm a ver com o todo. Sou, em suma, um chato, complicador das coisas. Que milhares de pessoas, e em número crescente, queiram isso, bem, confesso que fico muito satisfeito.
Uma das coisas um tanto complexas do meu pensamento — e nem todo mundo compreende — é que sou um adversário ferrenho de teorias conspiratórias. Estas supõem sempre a existência de um grupo de controle, que dispara operações para pegar os adversários — não raro, toda a sua sapiência maléfica teria de contar com a colaboração do… adversário! Ora, não foi uma máquina conspiratória que fez aqueles vagabundos do DF serem o que são, certo? Adiante.
Pensem no que costumo chamar de “petização” da sociedade. Não há um “lugar” onde esse troço é decidido. Muito mais importante e grave do que isso é a interiorização de valores, pelas instituições, que servem exclusivamente a um partido. Ou a partidarização de entes do estado. E isso está em curso, sim, não é de agora.
Avaliem a nova avalanche de denúncias. Qual é o único partido que está sendo preservado — ÚNICO??? Sacanagem de que o PT não participe é cabeça de bacalhau. Seria ele mais honesto do que os outros? Ora… E que fique claro: o fato de que os petistas estejam podendo se comportar como São Jorge de bordel não quer dizer que os demais não devam ser investigados. Devem, sim. Mas que papel desempenha a Polícia Federal de Tarso Genro na investigação e, sobretudo, no vazamento de dados? Será o partido do Mensalão — e falarei mais dele em outro post — realmente mais honesto e decente do que os outros??? A resposta está numa festa que o PT promoverá na terça-feira para homenagear seus ex-presidentes - leia-se: os mensaleiros José Dirceu e José Genoino. Enquanto um aluvião colhe as demais legendas, os petistas congratulam-se, mesmo com este magnífico passado.
A POSIÇÃO DESTE BLOG É INEQUÍVOCA: QUE NÃO SOBRE UM SÓ CANALHA!!! Mas que investigação e punição não sejam seletivas — ou o que temos é polícia política. Que a máquina de destruir reputações é poderosa, lá isto é. Observem que os jornalistas foram transformados em meros divulgadores do que Durval Barbosa quer que saibamos.
OBSERVEM: ATÉ AGORA, BEM POUCO SE DISSE A RESPEITO DO PRÓPRIO DURVAL.
Não, não há conspiração. Há um conjunto de ações em curso que colhem apenas um lado da disputa política. E, em todas as ações, está a Polícia Federal do isentíssimo Tarso Genro — e isso inclui o Rio Grande do Sul, onde ele é candidato. Porque não é segredo para ninguém que PF e Ministério Público foram partidarizados. E digo isso em defesa das instituições; em defesa daqueles que, lá dentro, agem sem olhar a cor partidária. Muito bem, dado esse quadro, vamos ao segundo termo do binômio que está no título.
O PSDB
A crise que está aí indica a necessidade e urgência de o PSDB se unir — e isso significa José Serra e Aécio Neves caminharem juntos. Ai daquele — entre os dois e entre quaisquer outros — que se imaginar numa posição de interlocutor privilegiado se Lula fizer o seu sucessor; no caso, sucessora. FHC chegou a falar em risco de subperonismo. Acho que o mais apropriado seria falar em risco de “PRIização” da democracia brasileira, numa referência ao PRI do México, que ditou os rumos do país, e seus desastres, por mais de 70 anos. E com uma diferença que pode ainda ser contra a realidade brasileira: aqui, ainda há uma visão um tanto bolchevista de “partido”.
A crise que está aí indica a necessidade e urgência de o PSDB se unir — e isso significa José Serra e Aécio Neves caminharem juntos. Ai daquele — entre os dois e entre quaisquer outros — que se imaginar numa posição de interlocutor privilegiado se Lula fizer o seu sucessor; no caso, sucessora. FHC chegou a falar em risco de subperonismo. Acho que o mais apropriado seria falar em risco de “PRIização” da democracia brasileira, numa referência ao PRI do México, que ditou os rumos do país, e seus desastres, por mais de 70 anos. E com uma diferença que pode ainda ser contra a realidade brasileira: aqui, ainda há uma visão um tanto bolchevista de “partido”.
Se algo essa crise pode ensinar às oposições — e ao PSDB em particular — é que se trata de união ou esmagamento. E, nesse caso, não é só a sobrevivência dos partidos que estará ameaçada; a própria democracia começará a ser gravemente atingida. Não, eu não imagino um modelo exatamente venezuelano. Isso é bobagem. A economia brasileira é muito mais complexa do que a da Venezuela. Acho que poderemos estar diante da extinção do debate público e da divergência, que é a essência da democracia, ainda que a imposição da verdade oficial não se dê pela força escancaradamente bruta. Não há democracia que tenha se sustentado assim.
O PT não reconhece a existência do outro justamente porque a sua origem bolchevista lhe diz que ele é a encarnação da força progressista, que faz o Brasil andar para a frente. Não se trata daquela “vulgaridade” americana em que democratas e republicanos divergem sobre mais ou menos impostos, casamento gay ou não, assistência de saúde estatal ou não, mas sempre concordando que as divergências são legítimas. O PT criminaliza o adversário, acusa-o de sabotagem, de força do atraso.
Sete anos de poder deixaram claro como o partido soube se adaptar aos vícios mais detestáveis da política brasileira (não é, sarney?) sem, no entanto, abrir mão daquela vocação para ser um ente de razão, que paira acima de tudo e pode (e deve) tomar o lugar da sociedade. Vitoriosa Dilma Rousseff, quem será o grande interlocutor do “outro lado”, do não-PT? Aécio? Serra?
Que os dois tucanos tenham claro: NÃO HAVERÁ INTERLOCUTORES “do outro lado” porque tudo poderá ser resolvido no MESMO LADO. Ao petismo caberá apenas — o que, em parte, já faz hoje — administrar as divergências do lado de lá da linha. Todos as contradições e choques de interesses serão parte do poder.
Quem precisará de Aécio? Quem precisará de Serra? Quem precisará dos Maias?
O entendimento entre os dois tucanos é uma questão de sobrevivência da democracia na forma em que uma democracia deve ser: com situação e oposição. Ou esses dois têm essa clareza ou estarão traindo a expectativa de milhões de pessoas que ainda hoje reconhecem que melhor para o Brasil é a alternância de poder. O que está em curso demonstra que a máquina de moer adversários está com fome. E é uma máquina inteligente, que poupa aliados dos operadores e esmaga os adversários. Quando pega canalhas, faz um bem; quando seleciona os canalhas, o mal que pratica é superior ao bem praticado.
Curiosamente, a crise que se abateu sobre o DEM também pode ser uma janela de oportunidades. Mas, sei, até agora, aproveitar janelas tem sido uma qualidade exclusiva dos petistas. Os oposicionistas têm preferido dar murro em ponta de faca — ou no próprio aliado.
Se a harmonia que se viu ontem entre Serra e Aécio no horário político da TV se transformar numa decisão estratégica, melhor para a democracia. A responsabilidade de ambos só aumentou. Espero que tenha clareza disso.
Texto originalmente publicado às 19h18 do dia 4
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