Enviado por Ruy Fabiano -
19.12.2009
|12h06m
ARTIGO
Meteorologia sucessória
A meteorologia eleitoral costuma ser mais imprevisível e provisória que a climática.
Uma frase mal colocada, um dado inesperado e a reviravolta pode ser instantânea. Esta semana, alguns acontecimentos sacudiram o ambiente.
Lula avisou ao PMDB – e comprou uma briga com o partido – que não aceitará um nome único para compor a chapa de Dilma.
Exigiu no mínimo três para que Dilma decida quem prefere. O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, ficou uma fúria, já que ele mesmo era o nome definido pela cúpula de seu partido.
Sentiu-se rejeitado. Como a manifestação de Lula deu-se na sequência de menção ao nome de Temer no Mensalão de Brasília, o impacto foi redobrado. Uma coisa se ligou à outra.
O argumento de Lula foi pueril: disse que o vice é uma espécie de noivo – e que, nesses termos, cabe à noiva (no caso, Dilma) escolhê-lo.
Não pode ser imposto. E assim está a parceria, submetida a um abalo pré-conjugal. Temer aguarda uma manifestação reparadora de Lula, que, pelo que se sabe, não virá.
Anteontem, foi a vez de o PSDB produzir sua novidade. O governador Aécio Neves, de Minas, anunciou a retirada de sua pré-candidatura, na expectativa de pressionar José Serra a formalizar a sua, o que não ocorreu.
Serra insiste em esperar até março.
Não se sabe se a saída de Aécio é pra valer, se ele dará às costas à sucessão, cuidando apenas de Minas ou se cogita de retomar a candidatura presidencial.
“Na política, tudo pode mudar”, foi o que disse, mantendo o quadro em suspense.
A situação mais aflitiva, de longe, é a em que está o deputado Ciro Gomes (PSB-SP).
Tornou-se um problema para a base governista – e para ele próprio. Instado por Lula, trocou o seu título de eleitor do Ceará – estado que governou e no qual exerce indiscutível liderança política – para São Paulo, onde jamais fez política, embora lá tenha nascido (em Pindamonhangaba).
Lula o queria candidato a governador, contra a vontade do PT local.
Ciro acatou, na expectativa de que, fazendo-o, aumentaria seu cacife pessoal junto ao presidente para compor a chapa com Dilma Roussef, como vice. Frustrou-se.
Lula não pode prescindir do PMDB, cujo tempo na TV será vital às pretensões da candidata oficial.
Ciro contou com as pesquisas, em que aparece sempre com bom cacife, ou à frente de Dilma ou colada com ela.
Nos cenários em que José Serra não é incluído, ele, Ciro, assume a vanguarda, o que mostra que possui votos na seara tucana, que abomina. Portanto, a parceria com ele poderia, de fato, ser benéfica à candidata oficial.
Ocorre, porém, que o PMDB não abre mão de fazer o vice, o que deixa Ciro sem pai, nem mãe. Não será candidato ao governo de São Paulo, como já repetiu diversas vezes, por um motivo óbvio: não terá chances de vencer.
No máximo, com o título de eleitor paulista, poderá ser reeleito deputado federal, o que, para quem aspira à Presidência da República, é muito pouco.
Diante dos fatos, pôs, esta semana, a boca no trombone: bradou aos quatro ventos, evocando as pesquisas, que Dilma, ladeada por um peemedebista, não tem condições de vencer José Serra.
Somente com ele, torna-se competitiva. Não falou mal de Lula, mas criticou duramente a estratégia, concebida pelo presidente, de promover um casamento indissolúvel com o PMDB.
Disse que se trata de “uma hegemonia que paralisa o país”. Ciro, que já louvou o governo Lula por ter estabelecido um “novo paradigma moral para o país”, acha que o PMDB desfaz esse paradigma.
Sua opinião sobre o partido, nesse quesito, é impublicável. O problema, porém, não se restringe ao PMDB.
Seu partido, o PSB, em que desponta a liderança do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não lançará candidato próprio à Presidência.
Não abre mão da parceria com Lula – e Lula não abre mão da parceria com o PMDB, que, além de possuir o maior número de prefeituras e parlamentares, detém preciosa fatia de tempo na TV, que acrescentará uns 20 minutos à propaganda eleitoral de Dilma, o que pode ser decisivo numa campanha.
Resultado: Ciro viu-se com um mico eleitoral na mão.
Ele, que foi o deputado federal proporcionalmente mais votado do Brasil, está condenado a disputar com dificuldades a reeleição.
Se tivesse mantido seu título no Ceará, teria no mínimo garantida uma cadeira no Senado.
Não sendo a resignação uma característica sua, o que se prevê é que continuará a soltar seus cachorros verbais (ferocíssimos) e ainda dará muitas dores de cabeça à base governista neste início de campanha.
Ruy Fabiano é jornalista
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