Gabeira digere Maia e fecha aliança que inclui o DEM
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Em política, a parte mais importante do diálogo nem sempre é a palavra. Por vezes, o que importa é a pausa.
É na pausa que os diferentes entram em comunhão. Tome-se o caso de Fernando Gabeira e Cia..
A bordo do minúsculo PV, Gabeira precisava angariar apoios que lhe permitissem disputar o governo do Rio.
Sem palanque no terceiro maior colégio eleitoral do país, José Serra carecia de um parceiro com boa projeção no Rio.
Ainda no ano passado, Gabeira decidiu somar suas fragilidades às de Serra. E vice-versa. Há coisa de dois meses e meio, esboçou-se o acordo.
Gabeira mediria forças com Sérgio Cabral (PMDB) e Anthony Garotinho (PR) vitaminado pelo tempo de TV das legendas associadas a Serra.
PSDB indicaria o vice de Gabeira (Márcio Fortes). Ao DEM caberia apontar um dos candidatos ao Senado (Cesar Maia). Ao PPS, o outro (Marcelo Cerqueira).
Na TV, a coisa funcionaria assim: Gabeira alardearia a presidenciável do PV, Marina Silva. O vice e os senadores propagandeariam Serra.
Quando o martelo já estava batido, o prego virado, Gabeira decidiu encrencar, no mês passado, com Cesar Maia.
Alegou que seu eleitorado trazia o ex-prefeito ‘demo’ atravessado na traquéia. Queria manter a coligação, mas sem o DEM.
Gabeira imaginou que, para tê-lo ao seu lado, PSDB e PPS topariam abandonar Cesar Maia à própria sorte.
Rodrigo Maia, presidente do DEM e filho do rejeitado, reagiu. Levou os lábios ao trombone. Fez um barulho equiparável ao de Gabeira.
Súbito, fez-se o silêncio. Um silêncio que permitiu aos dois lados ouvir os pequenos ruídos.
Depois que Ciro Gomes foi arrancado por Lula e pelo PSB do tabuleiro presidencial, o tucanato foi à máquina de calcular.
Estimou que o esvaziamento de Gabeira poderia ser um bom negócio para Serra. Cogitou a sério negar o tempo de TV da oposição ao candidato verde.
Por quê? Asfixiando-se Gabeira, Marina ficaria sem vitrine no Rio. E o PSDB avaliou que parte dos votos dela iriam para Serra.
Captado pelos tímpanos de Gabeira, o ruído como que amoleceu o aparelho digestivo do candidato do PV.
Nesta segunda (3), reuniram-se no Rio, de novo, PV, PSDB, DEM e PPS. Gabeira “engoliu” Cesar Maia. E a coligação foi reativada.
Retorne-se ao início: Em política, a parte mais importante do diálogo nem sempre é a palavra. Por vezes, o que importa é a pausa.
Escrito por Josias de Souza
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