Evolução pré-eleitoral
Nas Entrelinhas | |||
Denise Rothenburg | |||
Correio Braziliense - 17/02/2010 | |||
“Garotinho tem todas as chances de vencer. Pedimos para apoiar Dilma. Se o PT quer seguir apenas com o PMDB, o Garotinho pode ir de Serra Não vamos retirar a candidatura dele” A profusão de políticos que marcou presença no circuito Elizabeth Arden do carnaval brasileiro, Recife-Salvador-Rio de Janeiro, tinha mais recados a dar do que simplesmente seguir à risca a sabedoria popular que diz “só quem aparece é lembrado”. Vamos começar pelo sábado de carnaval: Dilma Rousseff foi mais, como dizem os pernambucanos, “paparicada” pelo governador Eduardo Campos do que o deputado Ciro Gomes (PSB), pré-candidato a presidente pelo PSB. Para muitos, foi sinal de que a candidatura de Ciro não dura até a chegada do coelhinho da Páscoa. Do Recife, Dilma seguiu para Salvador. Lá, ficou a maior parte do tempo na companhia do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), com quem almoçou e assistiu aos desfiles dos blocos. Ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do PMDB, sobrou apenas uma visita, bem no estilo “beijinho, beijinho, tchau e tchau”. O encontro de Dilma com Geddel no circuito dos trios não durou dez minutos. Os petistas baianos ficaram eufóricos. Consideram líquido e certo que o encontro carnavalesco foi uma prévia do que virá na campanha: Dilma desfilará mais com Wagner, que é do seu partido, do que com o peemedebista Geddel. No Rio de Janeiro, a ministra desfilou com o governador Sérgio Cabral (PMDB). No papel de anfitrião da Sapucaí e candidato à reeleição, Cabral aproveitou o embalo e tascou um pedido de exclusividade à ministra para que ela não frequente o palanque de Anthony Garotinho, o nome do PR. Para muitos, Cabral “piscou”, ou seja, demonstrou que teme perder terreno se dividir a candidata de Lula com o PR. Não foi à toa que Cabral anunciou na madrugada de ontem que era amigo do governador de São Paulo, José Serra, e que adoraria recebê-lo no camarote do governo do estado. Para bons entendedores, a evolução política de Cabral foi clara: se o PT ficar de gracinha com Garotinho, ele pode até se reaproximar do PSDB. Enquanto Cabral faz apenas um movimento de corpo, o PR declara em alto e bom som: “Garotinho tem todas as chances de vencer. Pedimos apenas que fizesse um esforço para apoiar Dilma e o PT. Agora, se o PT quer seguir apenas com o PMDB, o Garotinho pode ir de Serra que estamos juntos. Não vamos retirar a candidatura dele”, afirma o líder do PR na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO). A declaração de Mabel mostra que os candidatos nos estados saem da avenida direto para a fase de “me segura, senão eu te solto”. O PR tem em Garotinho uma de suas melhores apostas para tentar conquistar um governo estadual. A cúpula do partido se movimenta para atrair o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), como já atraiu o deputado Manoel Ferreira (PTB-RJ), pastor da Assembleia de Deus, onde tem um eleitorado. Enquanto não estiver claro se Lula conseguirá ou não transferir todo o seu prestígio para Dilma, são essas estruturas — e a ameaça de apoio ao PSDB — que os deputados vão usar para exigir neutralidade da candidata petista nos estados. Na cena carnavalesca em que os aliados do PT começam a se desentender, o PSDB apenas prepara a rede para resgatar os descontentes. Serra desfilou no Recife, fez um passeio por Salvador ao lado de Paulo Souto (DEM), e terminou fora do carnaval do Rio. Preferiu reforçar seu prestígio em São Paulo, quando apareceu com água pelas canelas no projeto para tornar a praia mais acessível aos portadores de necessidades especiais. Esse movimento também não foi por acaso. Serra sabe que o presidente Lula vai usar este mês de março para tentar colocar mais alguns pontos a favor de Dilma no eleitorado paulista. O fato de o presidente não ter comparecido ao circuito Elizabeth Arden do carnaval teve por objetivo deixar que Dilma aparecesse e fosse lembrada como a dona do pedaço. E, embora esteja tudo pronto para o presidente passar o bastão petista à sua pré-candidata no congresso do PT, a partir desta quinta-feira, todos acreditam que, em São Paulo — onde a candidata não pisou no carnaval — só as visitas de governo, com o presidente ao lado da ministra, podem ajudar a reduzir a distância que a separa de José Serra. |
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