Energia: governo só investiu 38% do orçado no ano
Julian Stratenshulte/Efe
Em 2009, o governo destinou ao Grupo Eletrobras, R$ 7,243 bilhões para cobrir investimentos no sistema de geração e transmissão de energia elétrica.
Entre janeiro e agosto, apenas R$ 2,73 bilhões –38% do total— foram efetivamente investidos.
Os dados são oficiais. Armazena-os um órgão público chamado DEST (Departamento de Coordenação das Empresas Estatais).
As informações foram trazidas à luz, nas pegadas do apagão da noite de terça-feira (9), pelo sítio Contas Abertas, que se dedica a acompanhar os gastos públicos.
Não há dados disponíveis sobre a execução dos investimentos em energia depois do mês de agosto. Porém...
Porém, mantido o ritmo observado nos primeiros oito meses de 2009, a Eletrobras deve investir até o final do ano R$ 4,2 bilhões.
A cifra corresponde a pouco mais da metade –57% — de toda a verba que o governo reservara para os investimentos do ano.
Em valores absolutos, será o maior montante investido pela Eletrobras desde 2002. No último ano da gestão FHC, os investimentos somaram R$ 5,8 bilhões.
Mas, tomado como uma fatia do PIB, os R$ 4,2 bilhões de 2009 corresponderão a menos de 0,5% de todas as riquezas produzidas no Brasil.
Aliás, em proporção ao PIB, o grupo estatal que gere o setor energético investiu sob Lula, até o ano passado, menos do que fora investido no ocaso da era FHC.
Em 2000, um ano antes do apagão tucano, que resultaria em racionamento de energia, a Eletrobas investira R$ 2,1 bilhões (0,18% do PIB).
Em 2001, ano do apagão, os investimentos somaram R$ 2,5 bilhões (0,20% do PIB). Em 2002, R$ 3,3 bilhões (0,23% do PIB).
Desde a posse de Lula, em 2003, os investimentos da Eletrobras mantiveram-se em patamares inferiores, perdendo peso no cotejo com o PIB.
Em 2003, os investimentos da estatal alçaram a casa dos R$ 2,8 bilhões (0,27% do PIB). No ano passado, R$ 3,7 bilhões (0,13% do PIB). Aperte aqui e veja a tabela.
Pela versão oficial, o apagão de terça foi ocasionado por chuvas, ventos e raios que caíram sobre as linhas de transmissão da subestação de Itaberá (SP).
Um trololó que, por ora, não soou convincente nem mesmo para o Inpe, o instituto de pesquisas espaciais vinculado à pasta da Ciência e Tecnologia.
Em nota, o Inpe informou que, na hora do apagão, os raios de Itaberá tinham "baixo potencial" e caíram longe das linhas de transmissão.
O texto do instituto é taxativo: “A baixa intensidade da descarga registrada (menor que 20 kA) não seria capaz de produzir um desligamento da linha, mesmo que incidisse diretamente sobre ela [...]..."
"...Em geral, apenas descargas com intensidade superiores a 100 kA, atingindo diretamente uma linha, poderiam causar um desligamento de linhas de transmissão operando com tensões tão elevadas como as de Itaipu (duas de 600 kV e duas de 750 kV)”.
O desencontro de versões tonifica a suspeita de que pode ter havido falha humana ou defeito operacional no sistema. Algo que o Ministério Público já investiga.
De resto, o apagão reacendeu o debate sobre um antigo flagelo do setor elétrico. Nesse setor, o político prevalece sobre o técnico na escolha dos gestores.
Sob FHC, esse nicho do aparato estatal era dominado pelo PFL, hoje rebatizado de DEM.
O ministro de Minas e Energia do apagão de 2001 era José Jorge, um ex-senador ‘demo’, hoje acomodado numa cadeira do TCU.
Sob Lula, o setor é rateado entre PT e PMDB. O ministro é o senador licenciado Edison Lobão (PMDB-MA), homem de José Sarney.
O presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, foi alçado ao posto com o aval de Sarney e do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).
Responde pela diretoria financeira da estatal Astrogildo Quental, outro apadrinhado de Sarney.
Chama-se Flávio Decat de Moura o diretor de Distribuição. Apadrinhou-o o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
O diretor de Engenharia é Valter Luiz Cardeal de Souza. Um velho conhecido da ministra petê Dilma Rousseff, a quem deve a nomeação.
Até Orestes Quércia, presidente do PMDB-SP, beliscou uma naco do organograma da Eletrobras. Acomodou Miguel Colassuono na diretoria de Administração.
A política se espraia também pelas subsidiárias da Eletrobras. Preside a Eletronorte Jorge Nassar Palmeira, indicação de Jader.
Na Eletrosul, Eurides Mescolotto, ex-marido da senadora petê Ideli Salvati (SC), líder do governo no Congresso.
No comando de Furnas, Carlos Nadalutti Filho. Foi à cadeira com o endosso das bancadas de deputados federais do PMDB de Minas e do Rio.
Na presidência de Itaipu Binacional, a empresa que eletrifica as linhas de transmissão de Furnas, um ex-deputado: Jorge Samek, amigo de Lula.
Diferentemente dos raios de Itaberá, ainda pendentes de confirmação, as intempéries políticas que infelicitam o setor elétrico brasileiro dispensam, por notórias, maiores verificações.
Escrito por Josias de Souza às 04h39
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.