Razões do Blog


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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Novos comentários sobre o apagão (Carta Capital)


Além da ventania
16/11/2009 12:25:31

Uma vez culpado, sempre culpado. Em 2001, às vésperas do racionamento de energia, um dos maiores desastres de gestão do Estado brasileiro, integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso tentaram convencer a população de que a culpa era de eventos climáticos, a falta de chuvas, no caso. Agora, nos dias posteriores ao apagão que atingiu 18 estados, Brasília recorreu ao mesmo bode expiatório.

Na quarta-feira 11, durante entrevista coletiva, o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão foi taxativo: “Todos chegaram à conclusão de que foram descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá. Houve uma concentração desses fenômenos atmosféricos ali, o que provocou um curto nos três circuitos que levam a energia que vem de Itaipu”. Localizada no Sul do estado de São Paulo, Itaberá é uma das 46 cidades por onde passam as três linhas de transmissão de Itaipu.

Ainda que a situação atual seja completamente distinta da de oito anos atrás (não existe, como daquela vez, nenhum risco ao fornecimento de energia, pois os reservatórios das hidrelétricas estão abarrotados e sobra gás para alimentar as termoelétricas), os raios e trovões são insuficientes para explicar o incidente e esclarecer a real situação do sistema elétrico nacional.

Uma nota divulgada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) considerou improvável que as condições meteorológicas na região sejam responsáveis pelo problema. “Embora houvesse uma tempestade próxima a Itaberá, com atividade de descarga no horário do apagão, as descargas elétricas mais próximas do sistema elétrico estavam a cerca de 30 quilômetros da subestação e a cerca de 10 quilômetros de uma das quatro linhas de Furnas e a cerca de 2 quilômetros de uma das outras três linhas de 600 kV que saem de Itaipu em direção a São Paulo. Além disso, a baixa intensidade da descarga registrada não seria capaz de produzir o desligamento.”

A despeito da pressa do ministro em circunscrever o episódio às intempéries (Lobão afirmou na quinta-feira 12 que o caso estava “encerrado”), ficou evidente a vulnerabilidade do sistema elétrico nacional. Principalmente pelo tamanho do estrago, que também afetou o Paraguai. Na região Sudeste, ao menos 50 milhões de habitantes ficaram sem eletricidade. Em São Paulo, foram necessárias quase duas horas para que a energia voltasse. No Rio de Janeiro e Espírito Santo, o tempo de restabelecimento chegou a 2 horas e meia. O blecaute atingiu ainda as regiões Nordeste (onde durou 42 minutos, segundo a Operadora Nacional do Sistema), Centro-Oeste e os estados do Acre e de Rondônia, por cerca de meia hora.

Especialistas chamaram atenção para o fato de as linhas de transmissão que vem de Itaipu se aproximarem justamente na região de Itaberá. “Dos mil quilômetros de rede, em apenas seis quilômetros as linhas de transmissão andam juntas. E foi bem nesse trecho que caiu o raio. Ou seja, trata-se de seis chances em mil”, afirmou o diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Especialistas consideram ainda que não se pode descartar a ação de vândalos. Não é incomum Furnas encontrar isoladores em torres, usualmente fabricados em vidro, destruídos por tiros. Assim como trechos corroídos das linhas, em função da exposição a chuva e sol. Como Furnas tem mais de 20 mil quilômetros de linhas e 45 mil torres, a distribuidora costuma realizar a sua manutenção uma vez por ano.

Responsável por 25% da eletricidade produzida no País, foi a primeira vez que Itaipu desligou completamente por causa de uma pane. A sua não-operação provocou um desequilíbrio em todo o sistema elétrico nacional, o que explicaria o fato de outras usinas hidrelétricas no interior de São Paulo e mesmo as usinas nucleares de Angra dos Reis, em tese desenhadas para permanecer ligadas em momentos críticos, terem deixado de operar. Segundo os técnicos, à medida que novas usinas, ora em construção, passarem a operar, reduzindo a participação de Itaipu no total de energia gerada, o risco de uma propagação tão extensa será menor.

Ex-presidente da Eletrobrás e diretor do Coppe, centro de pesquisas ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, o físico Luiz Pinguelli Rosa considera que o clima dificilmente explica o caso, inclusive porque a rede de transmissão não foi afetada “fisicamente”, ou seja, não houve o rompimento de nenhuma das linhas nem a queda de torres que as sustentam. “O sistema tinha energia disponível no momento em que houve o problema e as linhas haviam sido reforçadas. Fica a impressão de que houve algum problema de gestão, de que houve alguma decisão errada na operação do sistema. Talvez um programa de computador mal utilizado não tenha tomado a decisão certa na hora necessária e o problema se propagou”, afirma. “Um acidente dessa natureza sempre pode acontecer, mas o que chama atenção é a dimensão que o problema tomou. Esse problema deveria ter sido ‘ilhado’, como dizem os engenheiros elétricos, a uma área que poderia ser grande, mas não metade da população.”

Pinguelli Rosa considera que o apagão reforça uma crítica recorrente ao setor elétrico nacional, herança ainda do período das privatizações e do redesenho dos órgãos responsáveis por sua gestão. “A complicação institucional do setor elétrico é uma herança do neoliberalismo que o governo Lula acabou absorvendo. Trata-se de um sistema de uma confusão monumental. O setor acabou sendo entregue às empresas privadas que atuam no setor e está vulnerável.”

Além da Eletrobrás, a ONS, responsável pela gestão direta do sistema, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), criada após a privatização, a Empresa de Planejamento Energético (EPE), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável pelo mercado atacadista, além das 64 distribuidoras e dezenas de comercializadoras. Todas têm alguma participação na gestão do sistema. Numa hora como essa, fica até difícil definir as responsabilidades.

Ex-diretor de Energia da Petrobras, Ildo Sauer também acredita que é “pouco provável” um evento climático ser a causa do problema. “São sete órgãos e falta uma gestão coordenada. O sistema possui três linhas e mesmo que caiam duas delas, é feito para resistir.” Desde 2004, ao menos outros seis eventos semelhantes foram registrados nas linhas de transmissão vindas de Itaipu, mas todos eles foram ‘isolados’ e a interrupção do fornecimento limitou-se a pontos isolados.

Outro detalhe chama atenção. Uma análise realizada pelo Tribunal de Contas da União encontrou “irregularidades graves” em obras da subestação de Furnas em Itaberá, realizadas em 1999. Além de indícios de superfaturamento de mais de 2 milhões de reais, o TCU considerou que Furnas errou ao não realizar uma licitação para contratar a empresa de engenharia responsável pelo projeto-executivo da subestação de Itaberá, a cargo da Marte Engenharia. Conhecida no setor elétrico e antiga prestadora de serviços de Furnas, a Marte já freqüentou o noticiário por sua proximidade com o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB. Cristiane Brasil, filha de Jefferson, foi funcionária da empresa, assim como a irmã de Marcus Vinicius Vasconcelos, ex-diretor da Eletronuclear e genro de Jefferson.

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