PSDB tenta ampliar aliança ouvindo ‘aliados’ de Lula
Fotos: Divulgação
Sem alarde, a direção do PSDB fará nas próximas semanas um lote de consultas a lideranças de partidos que gravitam em torno de Lula.
Deseja-se verificar se há entre os sócios do consórcio governista quem cogite a sério a hipótese de se compor com a oposição em 2010.
Por ora, são dois os parceiros eleitorais do PSDB: DEM e PPS. Vai-se verificar se há alguma chance de enganchar outras legendas à coligação.
Serão procurados políticos de pelo menos quatro agremiações: PDT, PR, PP, PTB e a ala dos descontentes do PMDB. Deseja-se saber:
1. Se os partidos que gravitam em torno de Lula já assumiram compromissos irreversíveis com a candidatura oficial de Dilma Rousseff.
2. Se há entre as legendas governistas alguma que se disponha a trocar de canoa.
3. Se a opção por Aécio Neves, em detrimento de José Serra, ampliaria as chances de atrair novas adesões à caravana da oposição.
O ciclo de consultas é parte do processo que levará o tucanato a optar, até janeiro de 2010, por Serra ou por Aécio.
Deve-se a decisão de ouvir os supostos aliados do inimigo à estratégia desenvolvida pelo governador tucano de Minas Gerais.
Aécio coleciona nas pesquisas de opinião menos da metade das intenções de votos atribuídas ao governador de São Paulo, líder das sondagens.
A despeito disso, Aécio estica a corda. Reitera internamente uma tese que esgrime sob holofotes há meses:
A decisão do partido, diz Aécio, não pode levar em conta apenas as pesquisas. Alega que é mais “agregador” do que Serra.
Afirma que, escolhendo-o, o PSDB desarruma o palanque que Lula, impondo dificuldades à trajetória de Dilma.
O alto comando do tucanato não ignora que o nome de Aécio, de fato, transita no universo governista com mais fluidez que o de Serra.
Sen. Sérgio Guerra, presidente do PSDB
Jeitoso, Aécio tem diálogo fácil com o ministro Carlos Lupi (Trabalho), mandachuva do PDT. É sobrinho de Francisco Dornelles, presidente do PP.
Ex-presidente da Câmara, colecionou simpatias suprapartidárias. Transita com facilidade entre as bancadas de legendas mensaleiras como a do PR.
Antes de trocar o Planalto pelo TCU, o ministro José Múcio (PTB), ex-coordenador político de Lula, conversava amiúde com Aécio.
Ao abrir o ciclo de consultas, a direção do PSDB deseja tirar a prova dos nove. Quer saber até onde vai o poder de sedução de Aécio.
Noutras palavras: deseja-se verificar se o charme do rival de Serra pode mesmo resultar em acordos formais.
A intenção não é a de confrontar Aécio. Ao contrário. A intenção do grão-tucanato é a de demonstrar ao rival de Serra que o partido leva em conta os seus argumentos.
O grosso do PSDB pende para Serra. Mas sabe que, sem o eleitorado de Minas, um candidato de São Paulo entra na briga com cara de perdedor.
Daí a decisão de realizar, por meio de consultas às legendas governistas, uma aferição prática da capacidade agregadora que Aécio se auto-atribui.
Na semana passada, como que desejoso de realçar que traz na cintura mais roldanas do que Serra, Aécio reuniu-se com Ciro Gomes, o pseudopresidenciável do PSB.
Inimigo figadal de Serra, a quem chama de “o coiso”, Ciro disse aos microfones que, prevalecendo Aécio, sua candidatura torna-se dispensável.
Nos subterrâneos, a turma de Serra chiou a mais não poder. Mas, na direção do partido, o movimento de Aécio foi visto com compreensão inaudita.
A cúpula do tucanato intui que Ciro faz o jogo dele, não o de Aécio. Ouça-se o que disse ao repórter um dirigente do PSDN:
“Seguramente, o Ciro não tem a intenção de trazer o PSB para nos apoiar. Ao criar problemas para o Serra, ele se credencia junto ao Lula, que o escanteou...”
“...Mas o Aécio cumpre o papel dele. Ele tem de manter a candidatura presidencial até o limite máximo...”
“...Se prevalecer, ótimo. Se der o Serra, como tudo leva a crer, ele terá demonstrado ao eleitorado de Minas que lutou até o limite de suas forças...”
“...O nosso papel é construir um processo de decisão que não deixe mal o Aécio, que leve em conta os argumentos dele”.
O esforço do PSDB para evitar que Aécio saia com a cara de derrotado da disputa que trava com Serra inclui a preocupação com o calendário.
A direção do partido não cogita adiar a escolha do candidato para além do mês de janeiro de 2010.
Em parte porque Aécio quer assim. Mas também porque é minoritário o grupo que se dispõe a esperar até março, como quer Serra.
Ouça-se, de novo, o dirigente do PSDB: “Nosso pessoal já está inquieto. As pessoas vêem a candidata do governo fazendo campanha à luz do dia...”
“...Do nosso lado, enxerga-se a confusão entre Serra e Aécio. Todo mundo quer uma definição. Agimos para que tudo termine bem. E rápido”.
Escrito por Josias de Souza às 05h41
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