Lula monta operação para proteger Dilma do apagão
Marcello Casal/ABr
Lula mobilizou os operadores políticos do governo numa operação destinada a proteger a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Tenta-se evitar que o apagão contagie a candidatura presidencial de Dilma.
Acionados pelo Planalto, os líderes do governo se mobilizam no Congresso para evitar a convocação de Dilma. PSDB e DEM tentarão aprovar na Comissão de Infraestrutura do Senado requerimento do líder tucano Arthur Virgílio (AM).
Pede a presença de dois ministros: Dilma e Edison Lobão (Minas e Energia). A depender de Lula, só será admitida a presença de Lobão.
Dilma tomou chá de sumiço nesta quarta (11), dia em que o governo buscava explicações para o breu. Uma precaução adotada para evitar que a voz da ministra soasse em público antes que o governo dispusesse de explicações palusíveis.
Lula abespinhou-se com o excesso de entrevistas e a escassez de dados objetivos. No início da tarde, ordenou que só Lobão falasse pelo governo.
Para revestir a decisão de lógica, argumentou-se que energia é assunto da pasta de Lobão. Trata-se de entendimento novo.
Apadrinhado de José Sarney (PMDB-AP), Lobão foi à Esplanada como um neófito energético. Dilma sempre mandou e desmandou no setor.
A cadeira de Lobão foi ocupada por Dilma entre 2003 a 2005. Nesse período, a ministra reordenou o sistema elétrico do país.
Há duas semanas, em 29 de outubro, Dilma concedera uma entrevista ao programa “Bom Dia, ministro”, da Radiobras.
Não só discorreu sobre energia como foi categórica: “Nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão”.
Por quê? Segundo Dilma, diferentemente do que ocorrera sob FHC, o governo voltara a “fazer planejamento”. Realizara os investimentos necessários.
Em relatório aprovado há pouco mais de três meses, em 22 de julho de 2009, o TCU anotara coisa diversa.
O autor do texto é o ministro Walton Alencar Rodrigues. Ele relatou uma auditoria feita no Ministério de Minas e Energia entre 26 de maio e 4 de julho de 2003.
Nesse período, Dilma ainda respondia pela pasta. O TCU moveu-se com dois objetivos.
O primeiro foi o levantamento dos custos do apagão da era FHC. Coisa de R$ 32,2 bilhões, segundo as contas do TCU.
Embora tivesse como motivação o blecaute tucano de 2001, a auditoria mirou um segundo objetivo.
Analisaram-se as providências que, sob Dilma, a pasta de Minas e Energia adotara para evitar novos apagões.
O tribunal não encontrou irregularidades passíveis de punição. Porém, anotou no acórdão recomendações que conduziam a uma conclusão:
O Brasil não estava livre do risco de se confrontar novamente com o breu. Em julho passado, depois de aprovado em plenário, o texto foi enviado à Casa Civil de Dilma.
Na peça, o TCU pôs em dúvida a capacidade do governo de evitar novos apagões. Apontou falhas de gestão no setor elétrico.
Instou a Casa Civil a verificar “a adequabilidade da estrutura organizacional, física e de pessoal do Ministério de Minas e Energia...”
“...da Empresa de Pesquisa Energética e da Agência Nacional de Energia Elétrica”. Para quê?
A fim de rever “o planejamento, expansão, regulação e desenvolvimento do setor elétrico nacional”.
Aconselhou-se a realização de “melhoramentos” capazes de “mitigar os riscos futuros de uma crise energética”.
É esse tipo de "interferência" que o governo deseja evitar que o TCU continue produzindo. Por isso discute um projeto que limita as atribuições do tribunal.
Ironicamente, Lula recebeu nesta quarta (11) o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar. Agendada na semana passada, a audiência caiu no dia pós-apagão.
Fumou-se um momentâneo cachimbo da paz. Lula prometeu ao interlocutor que não adotará nenhuma medida anti-TCU antes de ouvi-lo.
Em movimento previsível, a oposição serve-se do novo para desmerecer a fama de gestora competente que é associada a Dilma.
Afora o requerimento de convocação da ministra, tucanos e ‘demos’ revezaram-se na tribuna. Líder do DEM, Agripino Maia deu o tom: “Dilma é responsável pelo apagão”.
O silêncio da ministra contrastou, de resto, com a súbita loquacidade do tucano José Serra, seu virtual adversário na sucessão presidencial.
Serra tachou o apagão de evento “perturbador”. Criticou o desencontro de versões quanto às causas.
Mimetizando Lula, disse que nunca na história do país Itaipu experimentara uma interrupção simultânea de todas as suas turbinas
Nesta quinta (12), Dilma deve levar o rosto de volta à vitrine. Sua agenda prevê a participação numa solenidade em que o governo anunciará a queda no desmatamento da Amazônia. O meio ambiente é a nova obsessão da ministra. O titular da área é Carlos Minc.
Mas, como que decidido a pintar sua candidata de verde, Lula indicou Dilma para representar o Brasil no encontro climático de Copenhaque, no mês que vem.
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