08h29 - 11/11/2009 Blog do Fernando Rodrigues
Apagão: efeito eleitoral depende da extensão do problema
- sob FHC, em 1999 e 2001, houve falha gerencial e pouca água nos reservatórios
- custo do apagão/racionamento em 2001 foi de R$ 45,2 bi e eleitor ficou irritado
- governo Lula e Dilma podem perder o discurso da boa capacidade gerencial
É muito cedo para prever o efeito eleitoral do apagão de ontem(10.nov.2009). Tudo vai depender da extensão do problema.
Em 1999 e em 2001, quando ocorreram grandes apagões, o custo eleitoral foi para as costas do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O sistema elétrico era frágil e o volume de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas estava muito abaixo dos seus níveis históricos. Foi preciso impor aos brasileiros um racionamento de energia.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) explorou ao máximo o tema na campanha de 2002. O petista não foi eleito apenas por causa dos apagões de FHC. Mas essa incapacidade gerencial tucana certamente ajudou bastante a tornar possível a vitória lulista.
É fácil entender a razão. Segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), o custo do apagão elétrico de 2001 foi R$ 45,2 bilhões, de acordo com uma contabilização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Quem pagou a maior parte foram os contribuintes brasileiros, de maneira direta: R$ 27,12 bilhões acabaram sendo cobrados nas contas de energia residenciais e comerciais. Como se sabe, há uma regra imutável na política: eleitor com menos dinheiro no bolso quase sempre prefere votar na oposição.
Agora, entretanto, há uma grande diferença em relação há 10 anos: os reservatórios de água das usinas hidrelétricas estão em níveis muito mais altos do que no final do governo FHC. Ou seja, o risco de blecautes por causa de falta de capacidade de geração de energia é menor hoje em relação ao que foi há uma década.
O problema parece ser mais de deficiência gerencial –sem contar as nunca totalmente explicadas vulnerabilidades do sistema elétrico brasileiro. Em 11 de março de 1999, às 22h16, um raio teria caído numa subestação de energia em Bauru (SP) e 50 milhões de brasileiros ficaram no escuro em 10 Estados. Ontem, às 22h14, um problema de transmissão de Itaipu teria ocorrido e 15 Estados mais o Paraguai ficaram sem energia.
Em resumo, é quase uma teoria do caos (aquela da borboleta que bate as asas na Austrália e causa um furacão nos Estados Unidos). Se de fato essa fragilidade existe no sistema de energia brasileiro, trata-se de um absurdo incompatível com um país que em alguns anos será a 5a maior economia do planeta, como Lula e seus assessores vivem a dizer.
Há também uma coincidência entre o apagão de ontem e a reportagem da rede de TV norte-americana CBS, no domingo, afirmando que o Brasil está sujeito a ataques de hackers no seu sistema de energia. Todas as autoridades no Brasil negam, mas ninguém dá uma boa resposta aos argumentos técnicos apresentados pela TV dos EUA. Aqui, a reportagem da CBS.
Outro aspecto político ruim do apagão é a demora para surgir alguma explicação verdadeira, crível e plausível. Itaipu, empresa estatal federal, divulgou ontem nota afirmando que o apagão foi causado “por efeito dominó”. Hoje (11.nov.2009) há a promessa de esclarecimentos completos sobre a razão da falta de energia.
Só o fato de o Brasil ter acordado nesta quarta-feira sem saber direito a causa do apagão já é alarmante. Países cujas condições climáticas são muito mais adversas –o norte dos EUA e o Canadá, por exemplo– não sofrem de quedas de energia generalizadas como as brasileiras. Há blecautes em cidades, mas dificilmente ocorre um incidente cujo resultado é deixar o país quase inteiro sem luz. O último grande apagão nos EUA (considerado o maior da história por lá) foi em 14.ago.2003. Naquela data, cerca de 45 milhões de pessoas ficaram sem energia (ou seja, menos do que o número de brasileiros no escuro ontem).
Não adianta o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, aparecer para as câmeras de TV dizendo que o sistema elétrico brasileiro é um dos mais seguros do mundo. Ontem, 60 milhões de brasileiros, pelo menos, constataram na prática que as coisas não são bem assim.
É evidente que o uso eleitoral desse tipo de episódio dependerá da consistência do fornecimento de energia nos próximos dias e semanas. Se, de fato foi uma fatalidade inusitada, um novo inacreditável “raio de Bauru”, sem conseqüências futuras, a oposição não terá muito a ganhar se quiser explorar o assunto.
Mas se ficar comprovada a incapacidade gerencial do governo Lula para prevenir o país desses apagões, as coisas ficam mais complicadas para a pré-candidata a presidente Dilma Rousseff. Aliás, Dilma começou no governo Lula como ministra da Minas e Energia. Hoje, na Casa Civil, comanda a execução da obras de infra-estrutura do país. Ficará prejudicada a imagem de boa gerente/administradora que ela sempre propagou para si próprio.
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