Quanto ao partido, Gabeira diz que há uma divisão. A ala que defende o apoio a José Serra, segundo ele, prevalece sobre o grupo que prefere Dilma Rousseff. Diante desse quadro, Gabeira defende:

“Se a Marina tende à neutralidade, o partido deveria seguir esse caminho, liberando os seus militantes para apoiar quem quiser”. Apoiado pelo PSDB na derrotada campanha ao governo do Rio, o deputado diz que vai de Serra.

Abaixo, a entrevista:


- O que o PV deve fazer para extrair dividendos do capital eleitoral amealhado por Marina Silva? Primeiro, não pode haver divergência entre os caminhos do partido e da Marina. Se a Marina tende à neutralidade, o partido deveria seguir esse caminho, liberando os seus militantes para apoiar quem quiser.
- Como isso seria feito na prática? Já tivemos inúmeras situações de segundo turno. Construímos um código. Fica proibido usar os símbolos do partido. Em conversa com a Marina, eu acrescentei outro quesito: para manter coerência com a campanha dela, seria interessante que os que forem para o lado do Serra e da Dilma não demonizem o adversário.
- Crê, então, que Marina tende à neutralidade? Creio que sim, até em respeito às circunstâncias. Uma pessoa que teve 20 milhões de votos, olha em torno de si e vê o partido dividido, pensa: se aqui há divergência, imagine entre os eleitores.
- Acha que, optando por um dos candidatos, Marina se indisporia com um pedaço do eleitorado dela? Exatamente. Corre-se o risco de perder um espaço que ela já conquistou e que é diferente do espaço do Serra e da Dilma.
- Então, seria aconselhável a neutralidade? Não diria aconselhável. Diria que o mais provável é que a Marina fique neutra. Evito a expressão aconselhável porque, na conversa que tive com ela, disse que não utilizaria nenhum argumento pró ou contra qualquer posição. Creio que a própria Marina fez uma declaração definitiva: ninguém comanda ninguém. Marina disse: os votos não são meus, são dos eleitores.  
- E quanto à sua posição pessoal? Falei para a Marina o que tenho falado em público. O PSDB me apoiou no Rio. Minha decisão era de apoiá-los caso a Marina não fosse ao segundo turno. Eu quero honrar a palavra empenhada.
- Como fará caso o PV opte pelo apoio a Dilma? Essa hipótese é muito improvável. A hipótese de apoio ao Serra é mais provável.
- Em que se baseia sua conclusão? Eu me baseio no conhecimento das posições da maioria da própria Executiva do partido.
- A despeito disso, aposta na neutralidade. Por quê? Se o partido for sábio, vai tomar uma decisão em conjunto com a Marina. É preciso que o partido dê o máximo de conforto para ela e para as pessos que tem posições divergentes.
- Acha que o partido deve ter a mesma posição de Marina? Não quero dizer que deva ter necessariamente a mesma posição. Eu, por exemplo, não iria com ela se ela apoiasse a Dilma. Mas acho possível buscar uma convergência e sair dessa situação preservando o capital político obtido na eleição.
- Uma parte da legenda parece interessada em cargos, não? A preocupação com cargos jamais vai se expressar de forma politicamente articulada. Um ou outro indivíduo poderá fazer um jogo particular de buscar cargo. Mas tenho a impressão de que o partido vai seguir na trilha de se fortalecer pelo debate programático.
- A que se deve o ruído que opõe cargos e programa? Noticiou-se que o Serra teria oferecido quatro ministérios ao PV. O Serra já negou isso. Na verdade, houve um conflito em torno de uma falsa notícia.
- Acredita que Marina vai disputar a Presidência em 2014? Não tenho dúvida disso. Ela abriu uma perspectiva e vai explorá-la no futuro. Estará mais experiente e mais conhecida.
- Numa nova disputa, o PV fará alianças com outros partidos? O PT já passou por esse dilema: faz ou não faz coligação? Somos ou não somos puros?
- O PV já ultrapassou essa fase, não? É aliado do PSDB em Minas e São Paulo. É verdade. Mas, do ponto de vista nacional, para manter a pespectiva de terceira via representada pela Marina, pode emegir a pergunta: Coligar-se ou não?
- Não seria essa a única maneira de obter mais tempo de TV?Sim, mas é preciso considerar que os espaços já estão definidos. Tem, de um lado o PT e seus aliados. Do outro, o PSDB. A Marina vai ter que ver como essa correlação de forças vai se apresentar no futuro. Há o problema do espaço na TV. Mas a equidistância em relação às forças já existentes abriu caminhos numa ala do eleitorado.
- De onde acha que vieram os 20 milhões de votos de Marina?Primeiro, vieram de pessoas preocupadas com a questão ambiental. Essa preocupação cresceu muito nos últimos anos. Outra parte veio de pessoas que tem um distanciamento ético da política tradicional feita por PSDB e PT. São eleitores que procuram a renovação. Houve também o componente evangélico. As mulheres evangélicas, sobretudo, se identificaram muito com a Marina.
- Acha que pesou o debate que vincula Dilma à defesa do aborto? Não tenho elementos para dizer. Nessa matéria, creio que está todo mundo chutando. Deve-se levar em conta que a Marina defendeu o plebiscito. Não é uma tese que agrade esse eleitorado. Ao contrário. No entanto, isso não indispôs esse eleitor com a Marina. Essa questão é tão desimportante entre nós que eu tenho uma posição e ela tem outra. A despeito disso, ela é minha candidata à Presidência. Não senti essa questão da maneira que as pessoas estão apresentando.
- Os casos da Receita e da Casa Civil adensaram a votação da Marina? Em todas as situações clássicas da política, quando há um confronto ético muito grande entre dois candidatos, um candidato acusando o outro, um tercius sempre leva vantagem.
- Esse voto não pode ser momentâneo? Creio que o PV deve aproveitar esse momento. Convém evitar a euforia e reconhecer as limitações.
- Como assim? É preciso ter humildade para reconhecer que a candidatura da Marina foi impulsionada por um conjunto de fatores. O mais importante é a capacidade, a figura dela. Devemos reconhecer, humildemente, que nem todos os que votaram nela vão seguir a orientação do PV no segundo turno.
- Como fazer para que o PV dê um salto? O partido pode dar esse salto se souber reconhecer suas limitações e se seguir a linha que a Marina está propondo, de privilegiar o programa em detrimento dos cargos.