ARTIGO
Pouca margem
Desta vez, os institutos de pesquisa têm que estar errados duplamente para que haja uma surpresa no dia 31 e Serra se eleja presidente da República. Ou então acontecer o que os especialistas chamam de “terceira onda”, o que nem sempre acontece, mas aconteceu no primeiro turno, com o crescimento de Marina Silva nos últimos dias, mas também de Serra, que pegou os institutos de calça na mão.
As pesquisas mostram, unanimemente, uma diferença de 12 pontos nos votos válidos a favor de Dilma Rousseff, e apenas o Instituto Sensus coloca essa diferença em 5 pontos, praticamente na margem de erro para um empate técnico.
O erro duplo das pesquisas tem que acontecer no desvio da metodologia, que no primeiro turno fez com que eles dessem até 8 pontos a mais para Dilma, e na curva de tendência, que foi a alegação dos pesquisadores para reduzir os danos causados pelo vexame dos resultados errados muito além da margem de erro.
Apanhados errando até na boca de urna — caso do Ibope —, os pesquisadores alegaram que as pesquisas não são ciência exata e que o que apontam é a tendência. Nesse caso, teriam acertado porque mostraram Dilma perdendo força na última semana, Marina crescendo e Serra em tendência de alta.
Hoje, as pesquisas mostram uma tendência contrária, com Dilma em ascensão um pouco além da margem de erro e Serra em queda, dentro da margem de erro.
O PSDB contesta esses resultados e garante ter levantamentos que mostram que a disputa está no mínimo empatada, quando não favorável a Serra na margem de erro. A favor da assessoria de Serra o fato de que esse mesmo acompanhamento, no primeiro turno, acertou na mosca, contra tudo o que diziam os institutos de pesquisa, que mostravam a vitória de Dilma no primeiro turno.
O problema maior para Serra é que seu esforço para vencer tem de ser muito superior ao de Dilma, e não comporta erros, por menores que sejam. A margem de manobra da candidata oficial é muito maior, além do fato de que o governo está usando toda a força de sua máquina para alavancar Dilma.
O caso de Minas é emblemático. O ex-governador Aécio Neves deu uma demonstração de força elegendo seu candidato Antonio Anastasia e o senador Itamar Franco, do PPS. Mesmo assim, Dilma venceu em Minas com cerca de 1,5 milhão de votos de diferença. O empenho de Aécio nesse 2 turno é inegável, e pesquisas mostram que ele já conseguiu virar o resultado na capital, onde Marina venceu e Dilma ficou em segundo.
Mas no restante do estado ainda não há resultados concretos da mobilização do ex-governador, pelo menos que se traduzam em índices suficientes para virar a disputa.
Da mesma maneira em SP, onde o PSDB venceu e tem a máquina trabalhando para Serra, a diferença de 700 mil votos no 1 turno ainda não foi ampliada de maneira a compensar as vitórias de Dilma em Minas e no Rio. Em 2006, o hoje governador eleito Geraldo Alckmin venceu a eleição em SP por 3,8 milhões de votos, e com isso venceu no Sudeste, apesar de ter sido derrotado em Minas, no Rio e no Espírito Santo.
Como as pesquisas mostram que hoje os dois candidatos estão em empate técnico no Sudeste, isso sinaliza que até o momento não houve a ampliação da vantagem de Serra para 3 milhões ou 4 milhões de votos em São Paulo. Ou então a diferença em favor de Dilma se ampliou no Rio ou em Minas.
Toda a estratégia do PSDB neste segundo turno se baseia $ampliação da vantagem em São Paulo e na reversão da situação em Minas. Até esta semana, havia um tom otimista na virada mineira, e havia até quem tivesse esperança de tirar vantagem de até 2 milhões de votos para Serra no estado, o que seria roubar de Dilma de 3 milhões a 3,5 milhões de votos neste segundo turno.
Neste momento da campanha, esse resultado parece otimista em excesso, e os tucanos mineiros já trabalham com a hipótese de reduzir a diferença em Minas, mesmo sem vencer.
Isso porque o presidente Lula está jogando todo o seu prestígio e a expectativa de poder futuro em cima dos prefeitos que, no primeiro turno, apoiaram o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia) e, neste segundo turno, estavam tentados a seguir Aécio no apoio a Serra.
Pelas contas tucanas, para compensar a derrota acachapante que sofrerão no Nordeste — hoje Dilma, grosso modo, vence na região em todas as pesquisas por cerca de 5 a 6 milhões de votos de diferença — o PSDB tem que vencer na Região Sul com uma diferença de 2,5 milhões de votos, e abrir 3 milhões a 4 milhões de votos de frente em São Paulo.
Os votos do Norte e do Centro-Oeste se compensariam, zerando a conta, o que levaria a decisão para Minas e Rio. Pelas contas iniciais, a diferença que Aécio conseguisse tirar em Minas poderia compensar o tamanho da vitória de Dilma no Rio, além da esperança de que os votos de Marina fossem na sua maioria para Serra.
Como se vê, a conta que daria uma vitória para o PSDB é bastante apertada e quase não comporta margem de erro. Os estrategistas da campanha de Serra, porém, consideram que no momento a situação está empatada, e contam com a tal “terceira onda” na última semana de campanha.
O caso da agressão sofrida por Serra no Rio acabou se tornando o foco da discussão com a acusação infeliz do presidente Lula de que o candidato oposicionista teria criado uma farsa. Como se fosse aceitável o fato de um candidato a presidente da República ser interceptado por militantes de outro partido que tentavam impedir sua manifestação. Mesmo que não tivesse acontecido nem o “evento bolinha”, nem o “evento fita” — na peculiar definição do perito Molina —, teria havido um ato de selvageria inaceitável em uma democracia.
A repercussão do episódio pode ter efeito em setores do eleitorado no Sudeste — que é onde está se disputando a decisão final —, especialmente diante do comportamento inaceitável do presidente da República. Assim como no 1 turno, as atitudes agressivas de Lula em diversos comícios, pregando a “extinção” de adversários e considerando-se dono da “opinião pública”, foi um dos fatores que fizeram a candidata oficial perder votos.
Mas esse mesmo eleitorado terá pela frente uma prova de fogo à sua cidadania com o feriadão. A abstenção no Sul e no Sudeste, onde o tucano está em boa situação, pode definir a eleição, assim como no 1 turno a abstenção no Nordeste e no Norte, regiões fortes de Dilma, teve um papel importante para impedir que a eleição se resolvesse naquele domingo.
Merval Pereira
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